Grandes fundos estão às compras em Portugal. Saiba quais são

Vêm atrás de negócios a bom preço, com uma rentabilidade estável e, de preferência, à prova de inflação. A maioria tem sede na Europa.

A pandemia não travou o ímpeto das fusões e aquisições em Portugal, bem pelo contrário. Segundo dados da TTR, o volume de investimentos deu um salto de 24% em 2020 para 18,4 mil milhões de euros. Este ano o valor está a ser mais baixo, mas ainda assim com números elevados. A compra de 25% da dona do Continente pelo gigante do private equity CVC mostra que Portugal continua no radar dos grandes fundos e gestoras internacionais, que procuram ativos com preços atrativos, rentabilidades estáveis e potencial de valorização.

Os números da plataforma financeira dão conta de 6,7 mil milhões em fusões e aquisições (F&A) concretizadas ou anunciadas este ano, menos 38% do que em 2020. Já no número de negócios há um crescimento de 31,5%, para 267.

“Portugal é um mercado periférico e menos batido, com preços atrativos e um nível de risco que nestes ativos é equivalente”, destaca Luís Valença Pinto, responsável pela atividade de capital de risco da Haitong Capital. Os fundos procuram “setores protegidos ou, quando em mercado aberto, empresas com uma grande base de clientes e negócios estáveis”, acrescenta.

Os investidores europeus predominam, mas também há capital do Canadá ou da Coreia do Sul. Vários são fundos de infraestruturas ou pensões, que procuram negócios com fluxos de caixa libertos regulares e capacidade de refletir o aumento da inflação no valor cobrado aos clientes, como é o caso das concessionárias de auto-estradas.

Investidores que muitas vezes trazem também capacidade de investimento e de gestão, assumindo-se como parceiros no desenvolvimento do negócio, procurando valorizá-lo para o vender mais tarde.

O resto do ano deverá trazer mais operações. “De uma forma geral, a tendência do mercado de F&A em Portugal e na Europa será de recuperação e poderemos até assistir a perspetivas mais otimistas no médio prazo, devido à dinâmica de empresas que atravessam processos de reestruturação ou que necessitem de injeção de liquidez”, aponta Marcela Chacón Sierra, porta-voz da TTR, outra plataforma de informação financeira. “A venda de ativos não estratégicos, bem como o interesse na compra de ativos por empresas com grande músculo financeiro, pode tornar-se uma oportunidade para o lançamento de planos de expansão”, antecipa.

Luís Valença Pinto está mais cauteloso em relação a Portugal: “Ainda não é claro quando esta saga [da pandemia] termina e em que condições vamos sair dela”. E assinala que, com ou sem pandemia, “é mais difícil fazer aprovar uma aquisição em Portugal num comité de investimento”.

Os fundos de private equity têm sido os compradores mais ativos no país, seja de participações no capital de empresas, seja de carteiras de malparado da banca. Conheça os que têm estado mais presentes no mercado português.

CVC Capital Partners

A CVC Capital Partners, um dos maiores private equity do mundo, é o titular da maior aquisição este ano no país, considerando apenas ativos nacionais. A capital de risco europeia vai pagar 528 milhões de euros, acrescidos de um pagamento contingente diferido de até 63 milhões, por 24,99% da Sonae MC, o que avalia a empresa dona do Continente num intervalo entre 2,1 e 2,4 mil milhões.

O negócio permite à Sonae SGPS cristalizar o valor da empresa num momento favorável e dá-lhe disponibilidade financeira para novos investimentos. A CVC garante uma participação numa empresa com uma grande quota de mercado e um dividendo com boa rentabilidade. A aquisição foi concretizada através do fundo Strategic Opportunites, que aposta em ativos de menor risco e parcerias de longo prazo com famílias fundadoras ou fundações.

Criada em 1981 como o braço europeu do norte-americano Citicorp Venture Capital, a CVC Capital Partners tem à sua responsabilidade 162,7 mil milhões de dólares, dos quais 86,6 mil milhões no capital de risco. Ainda a semana passada foi notícia devido ao acordo para comprar 10% da liga espanhola de futebol (LaLiga) por 2,7 mil milhões de euros.

APG Asset Managers

A gestora de fundos de pensões holandesa foi a principal protagonista do maior negócio em Portugal desde o início da pandemia: a aquisição de 81,1% do capital da Brisa à José de Mello e à Arcus por um valor na ordem dos 2,4 mil milhões.

A APG Assesst Management é um dos braços do grupo com o mesmo nome e um dos maiores gestores de pensões do mundo, com um volume de investimento de 603 mil milhões de euros no final de 2021.

Além da APG, faziam parte do consórcio que comprou a participação na concessionária o Serviço Nacional de Pensões da República da Coreia (NPS) e a Swiss Life, a maior seguradora suíça e também gestora de pensões. Quando fechou o negócio, em outubro, um responsável da APG mostrou vontade em reforçar a aposta no país: “Acreditamos nos fundamentais da economia portuguesa e queremos investir em Portugal”.

A APG está presente noutro negócio recente, embora de forma indireta. É um dos maiores investidores do fundo Azora European Hotel and Lodging Fund, com sede em Madrid, que em julho fechou a aquisição do Tivoli Marina Vilamoura e do Tivoli Carvoeiro à Minor International por 148 milhões de euros. Já este mês concretizou a compra do Vilalara Thalassa Resort, em Porches.

Allianz Capital Partners

Foi também em outubro que a Galp fechou a venda de 75,01% da sua participação de 77,5% na Galp Gás Natural Distribuição à maior seguradora alemã. A Allianz Capital Partners, que atuou em nome da companhia de seguros e do Allianz European Infrastructure Fund, pagou 368 milhões de euros pela posição. A transação recebeu a luz verde do Estado português em março.

Na altura, a Allianz Capital Partners contextualizava, em resposta à agência Lusa, a aquisição na procura global por “oportunidades de investimento que forneçam fluxos de caixa estáveis, de preferência vinculados à inflação, no longo prazo com um perfil de risco-retorno adequado”. Disse também estar particularmente interessada “em explorar oportunidades de investimento na cadeia de valor do hidrogénio verde, contempladas na Estratégia Nacional Portuguesa para o Hidrogénio”.

A Allianz e a APG (mais a finlandesa Elo Mutual Pension Insurance) fazem ainda parte da joint venture criada no final de fevereiro de 2019 pela Sonae Sierra, a Sierra Prime, que integra seis centros comerciais: o Colombo, o Vasco da Gama, o Cascais Shopping, o Norte Shopping, o Plaza Mayor e o McArthurGlen Designer Outlet (os dois últimos em Málaga). A Allianz Real Estate e a Elo adquiriram uma participação de 25% à Sonae Sierra e à APG para criar esta joint venture a quatro.

Partners Group

O grupo de capital de risco suíço fez a segunda maior aquisição em Portugal desde o início da pandemia, com a compra da antiga Sapec, entretanto rebatizada para Rovensa, em julho do ano passado. O Partners Group, que tem 119 mil milhões de dólares sob gestão e já investiu mais de 150 mil milhões desde que foi fundado em 1996, pagou cerca de mil milhões de euros pela participação detida pela britânica Bridgepoint.

Fundada em 1926, a Sapec nasceu da exploração das minas de pirite no Alentejo, evoluindo para fabricante de fertilizantes a partir das cinzas do mineral. Cresceu nos produtos agrícolas, internacionalizou-se para 70 países e em 2016 chamou a atenção da Bridgepoint, que, segundo a própria Rovensa, contribuiu para maximizar as oportunidades em novos mercados e o desenvolvimento de novas soluções, ajudando a posicionar a empresa no fornecimento de produtos para uma agricultura mais equilibrada em sustentável.

Ontario Teachers’ Pension Plan

DCIM100MEDIADJI_0072.JPGSun Energy

O fundo de pensões de 331 mil professores da província de Ontário, no Canadá, é um dos maiores investidores institucionais do mundo, com 221,2 mil milhões de dólares canadianos em ativos sob gestão (150 mil milhões de euros). O último investimento em Portugal foi a compra, em fevereiro deste ano, da participação de 60% da Carlyle na Logoplaste, que tem Filipe de Botton e Alexandre Relvas como acionistas minoritários. A Dealogic contabiliza o investimento em 1.018 milhões de dólares.

Este não é o primeiro investimento do Ontario Teachers’ Pension Plan no país. Em 2008 passou a deter uma participação qualificada na Portugal Telecom, que vendeu em 2015. Apesar da má experiência, está de volta aos investimentos de elevado montante no país.

Pontegadea Inversiones de Amancio Ortega

O veículo de investimento do dono da Inditex, Amancio Ortega, comprou em julho a participação de 12% da Oman Oil na REN, tornando-se o segundo maior acionista da empresa de redes elétricas, depois da chinesa State Grid (25%). O valor do negócio não foi divulgado, mas as ações adquiridas valiam em bolsa perto de 190 milhões de euros.

A Pontegadea Inversiones, que tem 50,01% da dona da Zara, faz a gestão do império imobiliário e de investimentos do 11º milionário mais rico do mundo, segundo a Forbes, com uma fortuna avaliada em 78,1 mil milhões de dólares. O El Pais publicou há dois anos um artigo onde dá conta de que a holdin” de Amancio Ortega funciona com apenas 69 colaboradores em Arteixo, na Corunha. Além do próprio, o conselho de administração, com cinco membros, integrava também a sua mulher, Flora Pérez. Os dividendos da Inditex são a principal fonte de rendimento da Pontageada.

Davidson Kempner

A compra de ativos para reestruturação, nomeadamente carteiras de malparado, continuou durante a pandemia. A gestora de hedge funds norte-americana tem sido das mais ativas, fechando negócios com o BCP e o Novo Banco nos últimos nove meses. É também uma das interessadas nos ativos que a ECS Capital colocou à venda.

A gestora, fundada há 38 anos em Nova Iorque por Marvin H. Davidson, foi também notícia este ano pelo anúncio de um investimento de 3,5 mil milhões de dólares em Sines, com a britânica Pioneer Point Partners, para construir um dos maiores centros de dados da Europa.

A Davidson Kempner foi dos hedge funds mais presentes na compra de carteiras de ativos tóxicos da banca, a par de fundos como a KKR ou a Bain Capital, protagonizando a maior operação, com a aquisição de um portefólio de crédito malparado de 2,7 mil milhões ao Novo Banco, o “Nata 2”, por 191 milhões.

Henderson Park Capital Partners

Lagoas Park, OeirasD.R.

É uma gestora de capital de risco de menor dimensão, mas concretizou o maior negócio imobiliário desde o início da pandemia com a compra do Lagoas Park à também britânica Kildare Partners, por 421 milhões. Esta última, por sua vez, tinha adquirido o parque de escritórios em Oeiras, um dos maiores do país, à Teixeira Duarte por 375 milhões, no verão de 2018.

A Henderson Park Capital Partners, com sede em Londres, foi criada por Nick Weber em 2016, tendo como principais investidores o fundo soberano Kuwait Investment Authority e o Wafra Investment Advisory Group, também com ligações ao emirado.

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