Kore Partners: Clientes internacionais são o foco da nova boutique

Em plena pandemia nasceu a boutique Kore Partners. Tiago Cassiano Neves, managing partner, acredita que o novo normal irá exigir uma reinvenção de alguns escritórios e dos advogados.

A Kore Partners é o mais recente projeto de advocacia de Tiago Cassiano Neves, que assume a posição de managing partner, após mais de 13 anos ao serviço da Garrigues. Um novo passo na sua vida profissional que ocorreu sem grandes preocupações relativamente à mudança, apenas “muita curiosidade” sobre o futuro.

“Na minha opinião a atual conjuntura, o trabalho remoto e preocupações de saúde mental associadas ao novo normal vão, certamente, estimular o crescimento do empreendedorismo na fase pós-pandemia. A história já se encarregou de nos demonstrar que depois de grandes eventos, temos geralmente um novo começo. Esta perceção guiou-nos para seguir em frente”, sublinha Tiago Cassiano Neves.

Para o managing partner, o livro “Forever Emplyable”, de Jeff Gothelf, foi outra das inspirações para o novo desafio por abordar a temática de “reimaginar” carreiras.

Tiago Cassiano Neves, managing partner da Kore PartnersHugo Amaral/ECO

“Retenho cinco pedras basilares, designadamente a necessidade de pensarmos mais como empreendedores, expormos a nossa autoconfiança ao fracasso, reforçar a constante aprendizagem, descobrirmos um novo formato para o nosso trabalho e, finalmente, desafiar-nos a uma reinvenção pessoal. Eu diria que investir no futuro (seja qual for o caminho) é sempre uma boa escolha”, acrescenta.

Tiago Cassiano Neves admitiu à Advocatus que, nesta fase inicial, prefere preservar o perfil de startup da boutique lançada em fevereiro. Segundo o advogado, não se deve olhar para as sociedades de advogados de forma diferente da que se olha para as restantes empresas.

"É preciso recordar que o mercado dos serviços jurídicos é definido pelos clientes e não por aquilo que os advogados pretendem.”

Tiago Cassiano Neves

Managing partner da Kore Partners

“Desde escolher o nome certo, ter uma missão bem definida, pensar no que queremos oferecer aos clientes, alinhar a imagem com o nosso perfil, pensar no curto mas acima de tudo a longo prazo, explicar o negócio aos nossos clientes, começar forte e, por fim, divertir-nos com o que fazemos. Diria que estamos a trabalhar afincadamente para acertar nesses pontos básicos e estamos muito confiantes de que o sucesso virá”, garante.

A Kore Partners foi lançada em plena pandemia e segundo o líder da boutique o impacto que a Covid-19 teve nos serviços jurídicos foi limitado a algumas áreas, o que fez com que soubesse com o que “contar”.

“Os nossos principais desafios situam-se na fase pós-covid, designadamente, no impacto que terá na área dos clientes privados, e também, em geral, no setor legal. Acredito que o novo normal irá exigir uma reinvenção de algumas sociedades de advogados e dos próprios advogados em especial, que irão ter que desenvolver novas competências”, sublinha Tiago Cassiano Neves.

Escritório da Kore PartnersHugo Amaral/ECO

À Advocatus, o managing partner referiu que estão a repensar questões fulcrais como a estrutura de honorários, a integração de tecnologia e a coordenação de projetos multi-jurisdicionais que lhes são cada vez mais solicitados. “Para isso, é igualmente necessário reforçar as competências dos jovens advogados, além da mera competência técnico-jurídica, e reforçar o trabalho de equipa. Aqueles que melhor se adaptarem ao novo normal terão, certamente, um futuro brilhante pela frente”, acrescenta.

“Procuramos ter uma visão holística em relação aos clientes privados”

O principal foco da Kore Partners são os clientes internacionais a quem dão aconselhamento quer em Portugal, quer em outras jurisdições, com o objetivo de encontrar a “melhor solução que reflita a realidade de cada família e das empresas por elas controladas”. Atualmente, a boutique lida com mais de 40 jurisdições, sendo essa experiência e especialização para o managing partner um dos fatores que os diferencia no mercado.

Somos uma boutique essencialmente focada no acompanhamento de clientes privados. Assessoramos famílias e indivíduos, com volume elevado de património disperso geograficamente, e as suas estruturas jurídicas, a organizar os seus ativos da forma que seja mais eficiente para reduzir custos, aumentar flexibilidade e facilitar a transição geracional”, explica Tiago Cassiano Neves.

A equipa da Kore Partners é composta atualmente por seis pessoas, das quais três sócios – António Mendes, Julija Petkevica Neves e Tiago Cassiano Neves. À Advocatus, o managing partner admitiu que o objetivo é agregar uma equipa de dez pessoas até ao final de 2022, mas sem “pressa” pois querem garantir a integração das pessoas certas, que se identifiquem acima de tudo com o projeto e com o “perfil holístico” que ambicionam.

António Mendes, sócio, Tiago Cassiano Neves, managing partner, e Julija Petkevica Neves, sócia da Kore PartnersHugo Amaral/ECO

“Na Kore Partners procuramos ter uma visão holística em relação aos clientes privados, tentando estar presentes em todos os momentos chave, seja quando se estabelecem em Portugal, quando cá investem ou quando reorganizam o seu património”, explica.

Segundo Tiago Cassiano Neves, esse acompanhamento envolve a área imobiliária, imigração, aconselhamento fiscal, apoio societário relacionado com os seus investimentos e empresas e planeamento sucessório.

“Estamos também a entrar em novas áreas como a filantropia e fiscalidade de artistas e desportistas. Acredito que esta abordagem multi-jurisdicional vai ter um papel importante na formação dos nossos advogados que têm de estar preparados para intervir em todas estas áreas legais”, acrescenta.

"O trabalho remoto e preocupações de saúde mental associadas ao novo normal vão, certamente, estimular o crescimento do empreendedorismo na fase pós-pandemia.”

Tiago Cassiano Neves

Managing partner da Kore Partners

Com cerca de três meses de atividade, o feedback que tem recebido tem sido bastante positivo, sendo que o “melhor” deles advindo do apoio dos clientes. “Confesso que receber telefonemas de clientes dando conselhos de como ser empreendedor ou de parceiros de negócios que enveredaram por processos semelhantes a explicar a sua visão é muito reconfortante e uma confirmação de que estamos no caminho certo”, sublinha o managing partner.

O modelo boutique: prós e contras

Várias são as diferenças entre sociedades de grande dimensão e as de pequena, também denominadas boutiques e para Tiago Cassiano Neves haverá sempre mais complementaridade do que concorrência entre elas.

“Sun Tzu no livro “A Arte da Guerra” disse “Se conheces o inimigo e te conheces a ti mesmo, não precisas de temer o resultado de cem batalhas.”. Seguindo esse princípio, um dos primeiros passos que tomámos foi, aliás, pôr em papel as vantagens e desvantagens de operar em boutique em comparação com estar integrado numa sociedade de grande dimensão”, refere.

Escritório da Kore PartnersHugo Amaral/ECO

Desse papel surgiram prós e contras do modelo de boutique. Entre os aspetos positivos estavam a concentração de especialistas numa determinada área permitindo uma agilidade, mais flexibilidade e transparência nos modelos de honorários e capacidade de alavancar a produtividade, maior respeito por parte dos clientes, equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, atração de advogados com competências muito especializadas e também a maior exposição dos advogados às novas tecnologias e formatos.

Por outro lado, pesava a potencial incapacidade de abordar questões jurídicas tangenciais e paralela, uma vez que os grandes escritórios envolvem todo o tipo de profissionais, o reconhecimento de mercado que favorece geralmente os maiores escritórios pelo número de operações ou áreas que integram, ficariam mais expostos às mudanças legislativas ou mesmo económicas, o acesso a soluções tecnológicas (LegalTech), uniformização de produtos, presença em eventos internacionais e as boas equipas de marketing que os grandes escritórios têm e que aumentam o valor da marca e transformam leads em clientes.

“É preciso recordar que o mercado dos serviços jurídicos é definido pelos clientes e não por aquilo que os advogados pretendem. Na minha perspetiva pessoal, em algumas áreas as sociedades de advogados seguirão a tendência de se tornarem maiores e mais internacionais, mas também mais anónimos e impessoais. Noutras áreas mais específicas, haverá uma tendência crescente para “fator agilidade” e “fator especialização” e é aqui que acreditamos que a Kore Partners se enquadra”, conclui.

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