O líder do Santander em Portugal ganha cada vez mais protagonismo internacional no grupo, apoiado pela grande família e pela sua fé.
- Retrato é uma rubrica do ECO na qual, durante o mês de agosto, é publicado diariamente o perfil de uma personalidade que se distinguiu no último ano, em Portugal
Quando, no segundo trimestre de 2020, perto de duas dezenas de trabalhadores do Santander Totta foram diagnosticados com Covid-19, o banco estava ainda a perceber como lidar com a situação. Uma das primeiras decisões passou por um telefonema, para cada uma das pessoas. Do lado de cá da linha falaram o Diretor de Área, o Diretor Coordenador e o Administrador dessa área. Mas, também, o próprio CEO da instituição, Pedro Castro e Almeida.
A conversa serviu para saber como estavam as pessoas, o que precisavam, como se podia ajudar. E, nesses tempos de incerteza e de medo, uma palavra do responsável máximo do banco em Portugal fez a diferença, levando mesmo uma funcionária, de um balcão de Braga, a brincar que tinha valido a pena ficar doente para falar diretamente com tanta gente importante. Este episódio foi relatado pelo próprio Pedro Castro e Almeida numa conferência online da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), na qual tem tido um papel relevante há bastante tempo.
Esse episódio acaba por ser ilustrativo da forma como, internamente, é visto o líder do banco, uma pessoa próxima e humanista, com uma grande preocupação pelos valores e princípios da instituição. Ainda assim, a pandemia e sobretudo os primeiros meses ficam para sempre marcados na história do Santander Portugal e de Pedro Castro e Almeida: é que uma das primeiras vítimas em Portugal, e certamente a primeira vítima conhecida de um público alargado, foi António Vieira Monteiro, à data Presidente do banco e a quem Castro e Almeida tinha sucedido na liderança executiva, em 2019. Esse falecimento, em 18 de março, “foi um golpe muito duro”, admitiu publicamente o CEO do Santander.
O percurso de Pedro Castro e Almeida começou bem antes, mas quase que se pode dizer que tinha o destino marcado à nascença, na história familiar. O pai foi quadro dirigente do Banco Totta & Açores, que mais tarde viria a integrar o grupo Santander. Dos quatro filhos, três rapazes e uma rapariga, dois deram em banqueiro: Pedro e o irmão Luís, que é administrador-delegado do BBVA em Portugal desde 2015. Luís, o irmão mais velho, também passou pelo Santander, nos anos 90, sendo diretor do Banco Santander de Negócios. Está no BBVA desde 2003.

Já Pedro manteve-se sempre no universo Santander, mesmo sem querer. Antes, licenciou-se em gestão de empresas pelo ISEG e começou a vida ativa de trabalho no departamento financeiro da Arthur Andersen, em Lisboa. Acabou por, mais tarde, complementar a sua edução em várias escolas de negócios americanas e europeias. Em 1993 entra para o Santander e por lá fica até 1999, quando decide sair, aceitando o convite para dirigir a área de gestão de ativos do… Totta. Totta esse que pouco tempo depois é comprado pelo Banco Santander Central Hispano. Ou seja, a experiência de Pedro Castro e Almeida fora do banco espanhol foi sol de pouca dura. Depois disso, nunca mais saiu, e foi crescendo dentro de um banco conhecido por ser uma escola de banqueiros de elite. Uma galeria de notáveis que conta com nomes como António Horta Osório, Nuno Amado ou António Vieira Monteiro.
Em 2007 sobe ao conselho de administração e, em 2019, à presidência executiva, depois de dois mandatos de liderança de Vieira Monteiro.
Família, fé e liderança
Castro e Almeida assume-se como um católico e um homem de família. Tem sete filhos (dois dos quais enteados), é casado pela segunda vez e tem como uma das prioridades máximas conseguir ter tempo para essa sua família. Algo que começa a ser cada vez mais difícil, com o acumular de funções que tem aceitado dentro do grupo. Com o tempo, e com esses constrangimentos, teve de elevar a gestão de agenda à categoria de ciência, de forma a conseguir manter o tempo “inegociável” com a família, em Lisboa. Ainda assim, multiplicam-se os voos, sobretudo pela Europa, numa rotina que se tem pulverizado geograficamente. No seu tempo pessoal, gosta de fazer exercício, como corrida ou trekking, e era até há algum tempo um frequentador dos concertos da Gulbenkian.
Agarra, aliás, na música, para estabelecer um paralelismo com a liderança empresarial. Numa conferência, há cerca de um ano, traçou um paralelo “entre gerir ou construir uma equipa numa empresa e gerir ou construir uma orquestra”, considerando essencial existirem três elementos chave para o sucesso: diversidade de talento, boa liderança e a atitude correta. “O maestro é também uma pessoa muito importante, não se esquecendo da nota de que a humildade do maestro é também muito importante. Não se esqueçam que o maestro não faz um único barulho durante o concerto”, disse.
Já o lado da fé é algo muito determinante na sua vida, desde sempre. Foi vice-presidente da ACEGE e colaborou em várias iniciativas católicas ao longo do tempo. Num dos vídeos da associação, afirma que “eu vejo a vida, a minha vida, como um caminho, uma peregrinação”. E, nesse sentido, a fé tem sido uma estrada que o guia. Um dos instrumentos que reconhece como útil são os chamados Grupos de Cristo na Empresa, nos quais se reúnem gestores e empresários que têm em comum a fé.
Apesar disto, prefere não falar muito da fé enquanto está em contexto profissional. Quando chegou à liderança do Santander em Portugal, foi descrito pela imprensa como “o gestor católico”, algo que não terá gostado de ver explorado ou que sentia que o caricaturava como apenas uma faceta.
Defende, aliás, um princípio curioso, há muito tempo, a que chama da “Unidade da Vida”. Isto significa, muito simplesmente, que não há o Pedro Castro e Almeida da banca, outro de casa, outro com os amigos. Há apenas um e o mesmo, sempre, e todas as facetas da sua vida determinam essa unidade que se apresenta aos outros. Uma explicação foi dada na conferência online da ACEGE já referida no início deste artigo, na qual começou por dizer: “Quero falar-vos não apenas como presidente executivo do Santander em Portugal, mas também como pai, marido, filho e também homem de fé. Digo isto porque entendo que a minha realidade – e não só a minha mas de todos – é realmente una. As diferentes dimensões do nosso eu não podem, nem devem, ser dissociadas. Pelo contrário, acredito que são todas estas dimensões que moldam o nosso comportamento, a nossa maneira de estar e a nossa maneira de liderar”.
E essa maneira de liderar tem sido salientada por quem com ele convive. Pedro Castro e Almeida é visto como uma pessoa muito responsável, muito correta no trato e no comportamento em geral, focado em objetivos mas também na forma como eles podem ser conseguidos. Não é muito aparente num primeiro contacto, mas possui um sentido de humor apurado.
O futuro em aberto
“Sou o Pedro Castro Almeida, sou casado, pai de sete filhos. Isto é quem eu sou, é o meu bilhete de identidade. E depois sou hóspede de uma cadeira, que é a de presidente do banco. Mas sou só hóspede, portanto estou de passagem”. Esta frase, dita em jeito de apresentação numa conversa na Escola 42 – que o Santander apoia – diz algo sobre a forma como o banqueiro encara a sua carreira. Na mesma conversa, admitiu: “gosto de ser desafiado, gosto constantemente de desafios”, o que se deve à sua paixão pela educação e por estar sempre a tentar aprender coisas novas. Acredita que o crescimento é mais profícuo quando se sai da zona de conforto e, profissionalmente, tem sido fiel a esse princípio.
E desafios não têm faltado no seu caminho. Em setembro de 2023 assume o cargo de Regional Head of Europe do grupo Santander, substituindo o também português António Simões. Continuou a desempenhar as funções de presidente executivo da operação em Portugal, que se destacou nos últimos largos anos pelo forte crescimento e pelos bons resultados. E, como se tal não fosse suficiente, Ana Botín, a presidente do Grupo Santander, ainda lhe colocou mais “comida no prato”, ao designá-lo como um de três responsáveis que vão ajudar num dos últimos grandes negócios do grupo.
O gestor português vai, juntamente com Juan Olaizola e Mike Regnier, liderar a equipa que vai executar o processo de integração do banco britânico TSB, que foi recentemente adquirido pelo Santander ao Sabadell por cerca de 3,1 mil milhões de euros. Num comunicado, de julho, o Santander destacava a “profunda experiência em integrações bancárias e migrações tecnológicas” deste trio. Neste campo, as credenciais de Pedro Castro Almeida saíram fortalecidas com a integração bem-sucedida, no Santander Portugal, do Banif e do Banco Popular, nos últimos anos.
E depois desta missão, o que se segue para este homem que adora desafios? Numa das últimas conferências de apresentação de resultados, foi questionado pelo ECO se estas novas funções não lhe retiravam o tempo para se dedicar à operação portuguesa e se não poderia estar de saída. “A minha responsabilidade e a dedicação ao Santander Portugal mantêm-se exatamente iguais. O que ficou prejudicado foi provavelmente as horas que dedicava à família“, afirmou, acrescentando que “olhando para o sucesso em Portugal no âmbito do grupo Santander, é perfeitamente natural que eu ou outros quadros do banco possam ser chamados para determinados projetos. Isso tem sido uma nota muito positiva”.
Uma coisa é certa: dentro do grupo, Pedro Castro e Almeida tem assumido cada vez maiores responsabilidades e é visto como uma das figuras de destaque.
O futuro? A Deus pertence.
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Pedro Castro e Almeida, o homem de família que tem a banca no ADN
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