2030: Odisseia nos Escritórios
A transição para os novos modelos de trabalho não está isenta de desafios e o principal é a implicação significativa que poderá ter no dimensionamento dos escritórios.
No virar de uma década em que o futuro dos escritórios e dos respetivos modelos de trabalho nos era bastante previsível, entramos em 2020 num cenário quase apocalíptico sem precedentes para a nossa geração, causado pela pandemia da COVID-19, que resultou numa transformação profunda da dinâmica dos espaços de trabalho.
O mundo questionou-se – e questiona-se ainda passados mais de três anos – o que acontecerá aos escritórios das sedes das empresas se os colaboradores não voltarem ao trabalho presencial? Será que em 2030 não haverá edifícios de escritórios, uma vez que o trabalho remoto permanente pode ter vindo para ficar? É assim que as cidades vão começar a desertificar, que os consumos de combustível vão reduzir drasticamente, bem como a poluição, e que o aquecimento global vai acabar?
Não parece ser bem esse o caso…
Desde o Século XV, época em que se deu a construção do primeiro exemplar de um edifício de escritórios – Palácio dos Uffizi –, que a tipologia do escritório tem vindo a sofrer alterações radicais que acompanham acontecimentos históricos relevantes, como é o exemplo da revolução industrial ou do Taylorismo. E a pandemia da COVID-19 não é mais do que o último acontecimento histórico relevante que está e irá ainda alterar o modelo de trabalho das empresas e, consequentemente, a tipologia dos escritórios
À medida que organizações em todo o mundo lidam com as complexidades da implementação de políticas de retorno ao escritório, uma interação subtil entre as taxas de aceitação dos colaboradores, as estratégias dos empregadores e o modelo futuro de trabalho das empresas está a moldar o curso do mundo laboral como o conhecemos.
Apesar de as taxas de aceitação por parte dos colaboradores em relação às políticas de retorno ao escritório variarem significativamente entre organizações, setores e mesmo países – alguns aguardam com expectativa o retorno às dinâmicas habituais de colaboração presencial, outros acostumaram-se à flexibilidade e autonomia que o trabalho remoto oferece – tornou-se claro que dificilmente o modelo híbrido desaparecerá por completo num futuro próximo.
Parece-nos que as gerações mais jovens, em especial a Geração Z e os Millennials, que representam o futuro do mercado laboral, demonstram uma preferência mais acentuada por modelos híbridos de trabalho, onde 68% desse grupo indica que valorizam a flexibilidade por forma a equilibrar o seu trabalho e vida pessoal. Mas não significa isto um modelo de trabalho totalmente remoto, pois tarefas mais práticas, de brainstorming, colaboração ou criatividade continuam a ser preferencialmente realizadas em ambiente de escritório.
Adicionalmente, um estudo – conduzido pela Harvard Business Review – revela que 62% dos questionados em posições de direção ou gestores de equipas perdem produtividade e a capacidade de promover a cultura organizacional das empresas quando num modelo de trabalho remoto em permanência.
Assim sendo, muitas organizações estão a desenvolver modelos de trabalho híbridos com diversas estratégias para equilibrar as necessidades dos seus colaboradores e o correto funcionamento dos negócios. Mas, a transição para esses novos modelos de trabalho não está isenta de desafios e o principal é a implicação significativa que poderá ter no dimensionamento dos escritórios.
A pesquisa que a CBRE tem vindo a desenvolver aponta que as empresas estão a reconsiderar a alocação do espaço físico dos seus escritórios, com uma estimativa de redução entre 30% e 40% em postos de trabalho tradicionais fixos mas, por outro lado, com um aumento considerável – também na casa dos 30% – de área para espaços de socialização, trabalho informal, inovação e colaboração uma vez que, contrariamente às tarefas individuais e de maior foco que poderão ser realizadas remotamente, as funções e dinâmicas do trabalho que tendencialmente mais impulsionam os negócios através da criação, são realizadas de forma coletiva.
A jornada que temos pela frente pode ser complexa, mas apresenta uma oportunidade sem precedentes para redefinir o trabalho numa escala global, com base nas nuances das preferências das novas gerações, nas estratégias dos empregadores e nas mudanças profundas no dimensionamento e propósito dos escritórios.
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