A nova geração do PS, PSD e CDS

No rescaldo das presidenciais, os challengers das atuais lideranças partidárias à direita e à esquerda fazem prova de vida. A esquerda vai à frente.

O jornal Expresso escreveu este fim de semana: “Se as presidenciais serviram para algo mais do que reeleger Marcelo Rebelo de Sousa, foi para os potenciais challengers fazerem prova de vida”. À esquerda, coube a Pedro Nuno Santos fazer prova de vida. À direita, Paulo Rangel e Pedro Santana Lopes.

Foi há três anos que António Costa deu um chega para lá a Pedro Nuno Santos que se pôs em bicos de pés no congresso da Batalha: “Aviso desde já que não meti os papéis para a reforma”. Foi também nesse congresso que o líder do PS reconheceu ser “muito gratificante ver que podemos olhar para o nosso futuro com enorme tranquilidade e satisfação, porque vemos lá, no futuro, a aproximar-se uma nova geração com um enorme potencial, com uma enorme qualidade política, uma enorme qualidade técnica, uma enorme preparação profissional e política, para poderem seguir com a bandeira do PS em punho e levarem-no para a frente ao longo de todo este século”.

Dessa geração fazem parte Pedro Nuno Santos , Fernando Medina ou Ana Catarina Mendes. Dos três, Pedro Nuno Santos vai à frente, até porque nunca teve o rebuço de assumir-se como candidato ao lugar de Costa, seja no partido, seja no Governo. O atual ministro das Infraestruturas e Habitação escreveu, este fim de semana, um excelente artigo de opinião no jornal Público onde critica a falta de comparência dos socialistas nas eleições presidenciais, acusando o PS de ter contribuído “involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita”.

Pedro Nuno Santos escolhe cada palavra a dedo e a palavra “involuntariamente” foi pensada e escrita para, marcando posição, não hostilizar em demasia o líder do partido. Sem perder a liberdade e a acutilância de político reguila que vai buscar argumentos do próprio António Costa — contra o Bloco Central — para criticar o próprio Costa que ao invés de apresentar um candidato próprio e forçar uma “polarização entre esquerda e direita” nas presidenciais, deixou que essa polarização se fizesse entre Marcelo e a extrema-direita.

Fernando Medina e Ana Catarina Mendes, mais discretos por serem mais leais a Costa, continuam cada um a fazer o seu caminho. Com mais 500 euros no bolso, não há taxista que não vá apoiar Fernando Medina nas próximas eleições, sejam elas quais forem. O delfim de Costa vai distribuir 90 milhões de euros do Orçamento da Câmara em apoio às empresas e em ajudas às famílias com descontos no programa de renda acessível. Curiosamente Pedro Nuno Santos tentou agarrar neste programa de rendas de Medina e dar-lhe uma escala nacional, mas sem grande sucesso. Se Costa deu a Medina o palco da maior autarquia do país para brilhar, a Ana Catarina Mendes deu o palco político (foi proposta por Costa para líder a bancada parlamentar) e mediático (a substituta de Costa no programa de televisão de debate político ‘Circulatura do Quadrado’). Um dos três será o próximo líder do PS.

Se à esquerda o challenger a fazer prova de vida foi Pedo Nuno Santos, à direita foi sobretudo Paulo Rangel quem no Jornal de Notícias e no Público começou a demarcar-se do líder Rui Rio, usando curiosamente o mesmo argumento que Pedro Nuno Santos usou à esquerda. Rangel acusa implicitamente Rui Rio de não aproveitar “o vácuo produzido por Costa não pode ser ocupado pelo Chega e por Ventura”, ainda que sem nunca chamar os bois pelos nomes. Em coragem ganha-lhe Pedro Nuno Santos. Estamos a falar do mesmo Paulo Rangel que disse acreditar que há “um desígnio” no caminho escolhido pelo líder do PSD, que Rio tem uma “visão de médio prazo, o contrário de Costa” e que o PSD vai “ser governo a curto prazo e que será com Rui Rio a primeiro-ministro de Portugal que vamos conseguir esse desígnio”.

Rangel que, desde os tempos de Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho, se tem posicionado como candidato a candidato, sem nunca se assumir como candidato. Mais do mesmo. E por falar em mais do mesmo, à direita, Pedro Santana Lopes que acabou de sair do flop que foi a Aliança ofereceu-se para ser candidato pelo PSD às autárquicas de 2021. Sem comentários. O mesmo Santana Lopes que no Congresso fundador do Aliança há dois anos (sim, há dois anos) garantiu estar empenhado em ficar do “lado bonito” da política, o das “convicções”.

Por falar em mais do mesmo e em eternos candidatos a candidatos, se virarmos ainda mais à direita, encontramos Nuno Melo a admitir candidatar-se à liderança do CDS-PP,… mas só em 2022. Faz lembrar aquele bombeiro que nos diz, com a casa a arder, que amanhã ou depois de amanhã talvez é capaz de lá dar um saltinho para apagar as chamas.

Não é por falta de candidatos válidos que a direita não renasce das cinzas. No CDS, o competente Adolfo Mesquita Nunes já fez prova de vida, levando a ala ultraconservadora do partido a deitar mãos à cabeça. Seria o melhor candidato para desempoeirar e dar nova vida ao CDS e provar que fenómenos como os de André Ventura não se combatem acantonando-se ainda mais à direita como fez Francisco Rodrigues dos Santos.

Chicão que se juntou esta semana a Rui Rio para fazer uma aliança para as autárquicas que afasta ostensivamente o Chega, semanas depois de os mesmos partidos terem feito uma aliança com o Chega para governar os Açores.

Enquanto Rui Rio continua no jogo do mal-me-quer e do bem-me-quer com a extrema-direita xenófoba, racista e populista, no PSD tardam a sair da sombra figuras promissoras e competentes como as de Poiares Maduro ou Carlos Moedas. A única figura que fez prova de vida foi Jorge Moreira da Silva, justiça seja feita, o único que teve a coragem de pedir um congresso extraordinário precisamente por causa da aliança do PSD nos Açores com um partido que “propala propostas incompatíveis com a dignidade humana”. O partido não lhe deu grande cavaco e continua apático e entretido a olhar para a casa do CDS a arder sem se aperceber que as chamas estão a poucos metros do seu espaço político.

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