A união Europeia de mercados de capital vai ser verde
A emissão de obrigações verdes pelos governos será fundamental para financiar grandes projetos de infraestrutura o que, por sua vez, ajuda a criar uma carteira de projetos para o setor privado investi
Christine Lagarde, Presidente do Banco Central Europeu, defende a evolução do atual plano de criação de uma união dos mercados de capital a nível europeu, para a criação de uma união dos mercados de capital verde. Ou seja, a Presidente defende que o mercado de capitais europeus se transforme na sua totalidade num mercado de capital verde, onde os investimentos realizados e os dinheiros que se emprestam sejam apenas dirigidos a projetos que contribuam para os objetivos ambientais expressos na Taxonomia aprovada pela Comissão Europeia.
Esta ideia foi partilhada por Lagarde a 6 de maio aquando da conferência realizada pela Comissão Europeia relativamente à nova proposta de Diretiva para o Reporte Corporativo de Sustentabilidade. O discurso de Lagarde vem, mais uma vez, reforçar a importância do financiamento sustentável e das obrigações verdes, tendo reforçado que “para ganhar impulso, a dimensão do setor público deve também fazer parte deste quadro.
A emissão de obrigações verdes pelos governos será fundamental para financiar grandes projetos de infraestrutura o que, por sua vez, ajuda a criar uma carteira de projetos para o setor privado investir. Como parte dos fundos do programa Next Generation EU (1), a Comissão Europeia irá colocar em breve 225 mil milhões de euros de obrigações verdes, tornando-se de longe o maior emissor do mundo deste tipo de títulos”. Parece ser assim evidente uma pressão por parte do Banco Central Europeu em ter os países a emitirem obrigações verdes… vamos ver se Portugal consegue, finalmente, emitir em breve.
Lagarde vai mais longe ao assumir que a transição verde oferece uma oportunidade única para construir verdadeiramente um mercado de capitais Europeu – o mercado de capital verde Europeu. Afirma que esta opção poderia ter um papel importante na resolução de dois dos maiores desafios que hoje temos: tornar a união monetária mais resiliente aos choques cíclicos; redirecionar, o mais rapidamente possível, a atividade económica para os setores verde e digitais, o que vai contribuir para o potencial de crescimento europeu. Na realidade, para se atingir as metas climáticas europeias para 2030 a Europa necessita de 330 mil milhões de euros anuais e 125 mil milhões de euros para avançar com as mudanças digitais.
No seu discurso a presidente do Banco Central Europeu não se esqueceu de referir a necessidade de existir uma supervisão sobre os produtos financeiros verdes, uma vez que tal é fundamental para identificar ligações e riscos sistémicos existentes entre os vários players do mercado financeiro. Identificou também a necessidade de existir uma política fiscal harmonizada relativamente aos investimentos em produtos financeiros sustentáveis.
Este discurso veio reforçar a informação já explícita em alguns dos estudos realizados pela “Central Banks and Supervisors Network for Greening the Financial System” (NGFS), e que relacionam alterações climáticas com estabilidade financeira e macroeconómica dos países. Num estudo publicado em 2020, a NGFS afirma que a literatura existente sugere que uma transição verde realizada mais cedo e de forma mais suave minimiza os riscos de estabilidade financeira, e que uma transição mais tardia e repentina aumenta significativamente os riscos de estabilidade financeira.
Ora, tendo em conta que, de acordo com o Secretário Geral das Nações Unidas temos 9 anos para colocarmos a atividade económica alinhada com a neutralidade carbónica, que necessitamos para manter o sistema terra em equilíbrio, então podemos estar perante um cenário onde muitas empresas terão de fazer uma transição repentina. Neste contexto de transição tardia e repentina, atrevo-me a dizer muitas empresas não serão capazes de o fazer, umas serão compradas por outras, algumas irão falir. E isto implica um aumento do risco de estabilidade financeira a nível europeu e mundial.
E tal não é bom para os mercados financeiros, nem para a economia. Há que se criar os mecanismos económicos que promovam a resiliência da economia europeia, e nacional, face a estes choques que irão existir. E a Presidente do Banco Central Europeu tem vindo a avisar o mercado de tudo isto… é necessário agora definir uma política fiscal verde que incentive as mudanças verdes, e uma política social que acolha e dê respostas efetivas aos colaboradores que verão as suas empresas em processos de liquidação. É necessário também uma política de educação que ponha as Universidades a ensinar sobre o futuro, e não apenas sobre o passado.
(1) Plano europeu de recuperação e resiliência, com valores da ordem dos 750 mil milhões de euros cerca de 5 vezes o PIB nacional de 2020
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