Antecipar, para crescer – 5 tendências para os tempos que vivemos

  • Álvaro Roquette Morais
  • 18 Janeiro 2021

O confinamento foi apenas físico, porque a presença e constância na relação com os clientes aumentou, como aumentaram, também as suas necessidades.

A crise pandémica que vivemos, com consequências terríveis para a saúde e vida de milhares de pessoas e com um inegável impacto económico trouxe, paradoxalmente – e de forma assimétrica – oportunidades acrescidas para outros setores de atividade. O mercado de serviços jurídicos, no contexto e universo no qual desempenho atividade e que sou capaz de observar, tem vivido um momento de aumento de procura. Haverá seguramente exceções e estou, obviamente, solidário com todos os colegas que possam atravessar momentos de maior dificuldade. Mas, a verdade, é que a pandemia trouxe consigo mais trabalho, mais necessidades de assessoria e representação jurídica. O confinamento foi apenas físico, porque a presença e constância na relação com os clientes aumentou, como aumentaram, também as suas necessidades. Na globalidade, as sociedades de média e grande dimensão adaptaram-se rapidamente ao digital como o novo normal, modificaram-se processos, reinventaram-se procedimentos e a qualidade da entrega e a produtividade aumentaram. Ora, nesta fase de crescimento há que pensar, empresarialmente, como continuar a crescer e manter a dinâmica da atividade. A pandemia – felizmente – parece ter, com o surgimento de vacinas, um fim anunciado ao longo dos próximos 18 a 24 meses. Assim, há que pensar nessa janela temporal como rampa para o futuro. E, num certo sentido, compete-nos moldar esse mesmo futuro. Assim, existem cinco áreas que destacaria, como merecedoras de atenção e, sobretudo, de ação:

  1. Vencer no contexto da atuação – a crise económica irá ter consequências ao nível das organizações e das famílias que obrigarão à intervenção de profissionais jurídicos especializados. É provável que venhamos a ter, ao longo dos próximos meses, mais fusões e aquisições, troca de participações societárias, insolvências e reestruturações, mas também ao nível laboral um aumento de procura por parte de empresas e de trabalhadores. O fim das moratórias para empresas e particulares é, também, um desafio. Os advogados, hoje como sempre, desempenharão um papel da maior relevância na sociedade, sendo atores permanentes e constantes do seu quotidiano. O contexto é, também ele, orientado para a Sustentabilidade e a questão da Cibersegurança e proteção de dados nunca foi tão pertinente. Assim, é natural que ao longo dos próximos meses, a procura por serviços jurídicos nestas áreas, tendencialmente, poderá vir a aumentar.
  2. Captar, formar e reter talento para ter futuro – as oportunidades de crescimento não se fazem sem pessoas, sem profissionais capacitados, empenhados e motivados em contribuir para a dinâmica comercial e empresarial da sociedade. Sim, há futuro na advocacia, e as sociedades devem apostar na captação e retenção de talento, alinhado com o seu plano de negócios e áreas de aposta ou especialização. As universidades e o mercado estão recheados de pessoas com enorme potencial. Às organizações compete-lhes criar as melhores e mais atrativas condições para atrair e reter talento. Tenho-me apercebido que as novas gerações estão tão interessadas na dimensão material, como na dos valores e causas. Flexibilidade, a todos os níveis, é também uma palavra-chave para conseguir captar talento para crescer.
  3. O mercado é global – falo pela experiência e, creio, muitas sociedades ganhariam imensamente em saírem da sua zona de conforto e procurarem oportunidades noutras geografias. Com a vantagem de, hoje, não precisarmos de longas deslocações internacionais para reunirmos com clientes ou potenciais clientes. O digital é o novo normal ao nível global, por isso a assessoria jurídica em mercados terceiros está hoje muito facilitada. Abre-se mercado, criam-se novas oportunidades, e a vantagem é que a internacionalização pode ser hoje feita de maneira mais soft, com menos custos e menos dispêndio de tempo. A internacionalização é uma via para o crescimento, e hoje existem muitas oportunidades para se “ir para fora”, cá dentro.
  4. Agregar e concentrar valor – acredito que ao longo dos próximos 18 meses iremos assistir a diversos movimentos de concentração de sociedades de advogados. O contexto é propício a que isso aconteça e a incerteza vai acelerar esta realidade. A escala, na prática jurídica contemporânea, é da maior relevância para poder agarrar oportunidades e oferecer ao cliente as melhores e mais atempadas respostas. Podemos hoje ter equipas maiores sem os custos de um escritório de proporcional dimensão. E a retoma, quando chegar – e vai chegar – vai ser exigente e implicar muito trabalho. Entre crescer organicamente ou estabelecer parcerias ou formas mais duradouras de agregar e concentrar valor, não tenho dúvidas que esta última é a que vai prevalecer.
  5. Conhecimento e inovação são a chave – a tecnologia está para a advocacia como a Coca-Cola está para o consumidor: primeiro estranha-se, depois entranha-se. A aceleração digital vai trazer novas oportunidades para a adoção de mais tecnologia e mais inovação ao serviço dos advogados. Estamos ainda longe de ter ciber-advogados, ou algoritmos que nos substituam em tribunal, mas a tecnologia pode ajudar a detetar falhas em contratos, a uniformizar procedimentos ou a produzir conhecimento a partir da análise de resultados. Deixar a tecnologia entrar e a inovação produzir resultados fará a diferença. Ser um advogado “tradicional” será, cada vez mais, a exceção.
  • Álvaro Roquette Morais
  • Managing partner da Broseta Portugal

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