Desafios dos Recursos Humanos no sector segurador
Assistimos à evolução de um setor conservador ao longo dos anos para um novo paradigma composto pela criação de novas funções, transformação digital e aumento da procura para determinadas áreas.
Incerteza, uma realidade que até então parecia utópica e notícias que colocam o mundo a lutar por um objectivo comum são características que fazem parte de toda uma realidade nova pós pandemia a que todos tivemos de nos adaptar.
Pessoas e organizações reajustaram todas as suas dinâmicas e, com tudo o que isso acarreta, mostraram que é possível viver e trabalhar com as limitações do “novo normal”. Por um lado temos toda a resiliência e capacidade de superação a que todos tivemos sujeitos e, por outro, todos os aspectos menos positivos desta nova realidade: a fragilidade de quem tem que se reinventar todos os dias, a ansiedade sobre o futuro, as constantes mudanças com que nos deparamos nesta desproporcionalidade de um novo mundo “não-linear” e a incompreensão que o excesso de informação pode causar. Tudo isto trouxe à tona o mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible), que nos permite enquadrar os últimos 2 anos.
Esta turbulência e incerteza a que temos sido sujeitos vieram alterar todo um paradigma em vários setores, nomeadamente na área seguradora. Naturalmente, o ramo da Saúde foi o que mais se destacou e percebemos que a sobrelotação a que o SNS esteve sujeito levou as pessoas a valorizar mais o serviço privado e por isso a apostar na contratação de seguros de saúde. Por outro lado, criaram-se novos produtos, novas coberturas específicas para a Covid-19, pensadas para facilitar a vida das pessoas dentro e fora do país (salientamos aqui a importância da adaptação dos seguros de viagem, por exemplo). O conceito de “tele-consulta” através dos seguros de saúde, para fazer face a uma procura elevada de atendimento médico a pessoas a cumprir isolamento, evoluiu também de forma brutal num tão curto espaço de tempo e acelerou sem dúvida esta dinâmica.
Já no ramo automóvel, devido aos constantes períodos de isolamento, o acionamento das apólices decresceu e, naturalmente, o número de sinistros também. No caso das apólices Multirriscos Habitação tiveram uma maior procura, pois as pessoas começaram a passar mais tempo em casa, nomeadamente em segundas habitações, e a valorizar mais a contratação destes seguros.
Tudo isto teve um real e imediato impacto nas organizações, na criação de novas funções e na flexibilidade que se viram obrigadas a ter, tanto para com o consumidor como para com os funcionários. Nos processos de recrutamento que desenvolvemos percebemos que o mindset das empresas e candidatos mudou. Do lado dos candidatos, o modelo híbrido ganha agora pontos e é muitas vezes um factor decisivo para aceitar um novo desafio profissional, assim como a procura de um maior work life balance que, agora mais do que nunca, é muito valorizado por parte dos candidatos.
Do ponto de vista das organizações, assistimos à evolução de um setor que tem sido conservador ao longo dos anos, para um novo paradigma composto pela criação de novas funções, transformação digital e aumento da procura para determinadas áreas. A área ambiental e questões relacionadas com a sustentabilidade ganham cada vez mais força e estão cada vez mais segmentadas nas empresas. Funções actuariais e matemáticas no geral têm tido também uma grande procura devido à necessidade de previsão de riscos futuros, análise destes impactos e criação de modelos matemáticos que ajudem as seguradoras a combater situações como a pandemia. A área comercial é cada vez mais importante no desenvolvimento de uma ligação mais próxima com os clientes, que se traduz numa maior fidelidade e satisfação do consumidor, fundamental na realidade em que vivemos. Em cargos de chefia cada vez é mais importante a empatia para com as equipas, a compreensão para entender que vivemos uma época de mudança em que todos se tentam adaptar e por último, a visão de novos canais, transformação e de pensar o produto adaptado à nova realidade.
Enquanto consultora e com experiência na área seguradora, sempre tive contacto próximo com diversas áreas deste sector, ganhando sensibilidade para interpretar as particularidades comportamentais dos candidatos e melhor associá-los às diferentes realidades das empresas. A empatia de quem esteve muito próxima destes contextos e sector nos últimos anos, é uma real mais valia no desenvolvimento de processos de recrutamento. Acredito assim estar a fazer aquilo que mais me faz feliz: mudar vidas!
Nota: A autora escreve seguindo o antigo acordo ortográfico.
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