Desperdício eletrónico: soluções para este problema global

  • Gema Escudero Samaniego
  • 6 Outubro 2021

As Nações Unidas revelaram que, no ano de 2019, os consumidores geraram 53.6 toneladas métricas de e-waste a nível global – uma média de 7.3 kg per capita.

Todos os anos são lançados no mercado smartphones, tablets, computadores, impressoras e outros equipamentos eletrónicos com novas características e funcionalidades. Trocamos de modelo com tanta regularidade que parece impossível reciclar todo o material: a cada upgrade verifica-se um aumento do volume de plástico, ouro, prata e cobre nos aterros de todo o mundo. Em 2019, a produção de lixo eletrónico (e-waste) foi, em termos de peso, equivalente a 350 mega cruzeiros.

Efetivamente, as Nações Unidas revelaram que, no ano de 2019, os consumidores geraram 53.6 toneladas métricas de e-waste a nível global – uma média de 7.3 kg per capita. Estima-se que a quantidade de lixo eletrónico produzido a nível global exceda as 74 toneladas métricas em 2030 – o que significa que está a aumentar para uma assustadora taxa de 2 toneladas métricas por ano.

Para além do volume de lixo que se acumula nos aterros, é importante lembrar que o desperdício eletrónico contém produtos químicos com elevado grau de toxicidade, como o mercúrio e os clorofluorcarbonetos. O seu impacto, quer no meio ambiente quer nos próprios seres humanos, é inquestionável.

Embora haja cada vez mais consciência sobre a importância da reciclagem, nem sempre os consumidores sabem colocar os dispositivos nos contentores certos. Outra questão importante é o facto de as infraestruturas de reciclagem operarem de forma independente dos fabricantes – considerando que o lixo não é da sua responsabilidade, muitos produtores de equipamentos eletrónicos não se preocupam em desenhar produtos de fácil desmontagem, com vista à recuperação de materiais. Parte da solução pode, então, passar por colocar a responsabilidade do lado dos fabricantes, promovendo a inovação nesta área.

Os benefícios da desmaterialização

Para combater o desperdício, é necessário ajustar os modelos de negócio. Uma forma simples de iniciar a transição para uma operação mais limpa é que as marcas recolham os seus produtos em fim de vida e possam dar-lhes um novo uso através, por exemplo, da venda por um preço mais baixo ou do aluguer a clientes. Esta última opção é particularmente bem-sucedida para prolongar a vida dos materiais: no fim de um aluguer, é possível recondicionar novamente o equipamento, aproveitando peças antigas, e disponibilizá-lo a um novo cliente.

Esta opção também tem vantagens do ponto de vista económico, uma vez que diminui a necessidade da compra de novas peças e promove a adoção gradual de um sistema mais circular. Como sabemos, a economia circular tem inúmeras vantagens: entre outras, reduz a pressão sobre o ambiente, promove a competitividade e estimula o crescimento económico.

Trabalho híbrido e produção circular

A adoção do teletrabalho, a que a pandemia obrigou, criou novas necessidades, com muitas pessoas a terem de adquirirem computadores, telemóveis, monitores ou reprodutores de sinal de Wi-Fi para conseguirem trabalhar a partir de casa. Com a transição para um modelo de trabalho híbrido, é provável que muitas empresas precisem de rever os seus ativos e, eventualmente, até dispensar equipamentos.

A desmaterialização pode ser uma solução para este problema. O modelo de aluguer de equipamentos (e posterior reaproveitamento e recondicionamento) tem sido um sucesso em muitas empresas B2B; mas pode também ser aplicado numa ótica de consumidor final, com dispositivos mais pequenos e pessoais, como os computadores portáteis. Para isso, os fabricantes devem desenhar os produtos de forma a que sejam facilmente desmontáveis, permitindo a recuperação do máximo de material possível.

Regulamentação e visão de futuro

Tendo em conta a assustadora taxa de e-waste a nível global, não é surpreendente que muitos países estejam a procurar reforçar a regulamentação para o reduzir. Na União Europeia, os vendedores de equipamentos elétricos e eletrónicos têm agora de oferecer aos seus clientes opções para que possam desfazer-se dos seus aparelhos antigos no momento de compra de uma nova versão do mesmo produto. Ainda durante o ano de 2021, as empresas terão também de começar a produzir equipamentos com uma expectativa de vida útil mais alargada.

A par da regulamentação, é necessário também que os investidores e decisores na área da gestão deem prioridade a empresas empenhadas em contribuir para uma economia global mais limpa, verde e circular.

Façamos, coletivamente, o esforço de implementar medidas de reutilização, reaproveitamento e reciclagem de produtos e materiais eletrónicos, para que a transformação digital em curso não seja tão prejudicial para o planeta.

  • Gema Escudero Samaniego
  • Head of Sustainability for Southern Europe da Canon

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