Discriminação etária: um obstáculo à sustentabilidade empresarial
Profissionais mais experientes trazem consigo uma riqueza de conhecimento, experiência em gerir momentos de adversidades e habilidades para identificar e solucionar problemas.
A discriminação de género é, sem dúvida, uma questão crucial que tem recebido a devida atenção nos dias de hoje. No entanto, além deste desafio, existem outras formas de discriminação que persistem silenciosamente, impactando significativamente a cultura organizacional e as políticas de sustentabilidade, incluindo o componente social do ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance). A discriminação etária é uma dessas formas, muitas vezes negligenciada, mas igualmente prejudicial. As empresas têm de reconhecer este problema e a necessidade urgente de combatê-lo.
O Estigma da Idade
Um dos principais fatores que contribuem para a discriminação etária é a evolução tecnológica em curso. Pessoas mais velhas frequentemente são vistas com preconceito, consideradas não preparadas ou carentes dos conhecimentos necessários para lidar com as tecnologias mais recentes adotadas pelas organizações. Essa visão estereotipada cria barreiras injustas para profissionais mais experientes.
Além disso, muitas empresas acreditam que os profissionais mais seniores trazem consigo vícios de trabalho já adquiridos, enquanto os mais jovens são mais flexíveis para se adaptar às exigências da organização. Essa suposição pode levar à subutilização de talentos experientes e à subestimação das suas habilidades.
Cultura da Juventude e Priorização de Custos
Muitas organizações orgulham-se de promover uma cultura jovem, com a crença de que é sinónimo de inovação e dinamismo. Essa cultura da juventude pode levar à preferência por contratar profissionais mais jovens em detrimento dos mais experientes, especialmente quando se trata de funções mais elevadas. A contratação de jovens com 3-5 anos de experiência é vista como uma opção mais económica, uma vez que se enquadram em faixas salariais mais baixas.
Uma Abordagem Superficial para a Discriminação Etária
Algumas empresas tentam combater a discriminação etária ao colocar profissionais mais experientes em funções complementares. No entanto, esta abordagem não enfrenta o problema de frente e, na verdade, perpetua a discriminação ao limitar as oportunidades de desenvolvimento e crescimento desses profissionais.
Os Prejuízos da Discriminação Etária
É importante reconhecer que esses preconceitos prejudicam mais do que beneficiam as organizações. Estudos, como o realizado pela investigadora Leanne Cutcher, professora associada da escola de Gestão e Negócios da Universidade de Sydney, mostram que empresas que empregam profissionais mais experientes têm maior propensão a inovar. Profissionais mais experientes trazem consigo uma riqueza de conhecimento, experiência em gerir momentos de adversidades, habilidades para identificar e solucionar problemas, e uma inteligência emocional aprimorada.
Lutar Contra a Discriminação Etária
É imperativo que combatamos essa forma de discriminação. Ao invés de nos concentrarmos na idade dos profissionais, devemos avaliar as suas competências e perfil para entender o valor que podem agregar à organização. Muitas empresas já estabeleceram departamentos de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), mas nem sempre estas iniciativas têm o impacto necessário.
O que Mudar
É uma estratégia inteligente começar por implementar mudanças que sejam fáceis de executar e que não causem grandes inconvenientes aos processos existentes. Assim, o primeiro passo a dar deve ser sempre algo que seja de fácil aplicação. A implementação de pequenas mudanças nos processos do dia-a-dia irá potenciar mudanças de maior dimensão que serão sustentáveis a longo prazo para a organização. No que diz respeito às áreas de Pessoas e Talento, as medidas para combater a discriminação etária podem ser tão simples como omitir as datas de nascimento dos colaboradores dos documentos internos, no sentido de evitar todo e qualquer enviesamento relacionado com a idade no processo da tomada de decisão. Afinal, o que interessa é o perfil da pessoa e não o somatório artificial de um conjunto de premissas. Desta forma, é aconselhável que todos os processos de assessment tenham em conta o todo e não se concentrem apenas em critérios específicos que podem resultar em viés.
Adicionalmente, é também importante analisar o mindset que está na base da cultura de cada organização. Apenas identificando e reconhecendo padrões de discriminação, sejam eles relacionados com idade, género ou meio social, é possível desenvolver estratégias, planos e processos para mudar mentalidades e construir melhores ambientes. Algo a ser observado é forma como são decididos os processos de progressão e aumentos do pacote salarial. É importante assegurar que estes são atribuídos com base em meritocracia e na performance dos colaboradores, assim como é importante criar uma cultura organizacional de proximidade, onde todos são encorajados a denunciar situações discriminatórias que possam eventualmente experienciar ou observar.
Em última análise, o que importa é o valor que um profissional pode agregar, independentemente da idade. Para alcançar o sucesso e a sustentabilidade empresarial, é essencial que as organizações promovam um ambiente de trabalho diversificado e inclusivo, que valorize a experiência e a diversidade geracional. É missão de todas as empresas reverem as suas estratégias e políticas para eliminar a discriminação etária e promover o desenvolvimento do talento interno. Uma empresa deve ter a obrigatoriedade de se tornar verdadeiramente resiliente e inovadora e combater todos os tipos de discriminações deve ser a sua missão para atingir este objetivo.
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