E se a emoção for a nossa maior competência?

  • Eliana Almeida
  • 12 Setembro 2025

A emoção não é um obstáculo à liderança, mas aquilo que a torna verdadeiramente humana, corajosa e transformadora.

Durante demasiado tempo, o lado emocional foi silenciado dentro das organizações. Confundido com fragilidade ou falta de objetividade, foi rotulado como algo a corrigir ou esconder. Mas a ciência e a prática mostram-nos outra realidade: a emoção não é um obstáculo à liderança, mas aquilo que a torna verdadeiramente humana, corajosa e transformadora.

O psiquiatra Carl Jung dizia que “conhecer a tua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”. A liderança emocional começa exatamente aqui, no reconhecimento da nossa própria individualidade, e esta é a base para construirmos culturas organizacionais mais seguras, mais conectadas e também mais eficazes.

Como people experience lead e estudante de Psicologia, aprendi a reconhecer que a emoção, longe de ser um ponto fraco, é uma ferramenta poderosa de conexão, clareza e decisão. A ideia de que só a razão é sinal de competência e eficácia tem raízes profundas numa visão ultrapassada da racionalidade. A neurociência confirma: emoções e decisões caminham juntas, pois são parte integrante dos processos racionais e, que pessoas emocionalmente competentes não decidem menos bem, apenas decidem com mais consciência.

António Damásio, neurocientista português, através da sua hipótese dos marcadores somáticos, demonstra que as emoções, manifestadas como sensações corporais baseadas em experiências passadas, orientam escolhas conscientes. Pessoas emocionalmente competentes decidem com mais consciência, unindo razão e emoção.

A inteligência emocional, um conceito desenvolvido pelo jornalista científico Daniel Goleman, desafia-nos a repensar o que é efetivamente a parte emocional e como nos diferencia enquanto pessoas. Fala-nos da capacidade de reconhecer e gerir as próprias emoções, compreender as emoções dos outros e aplicar esse conhecimento nas nossas interações diárias. Esta competência que pode (e deve) ser desenvolvida, está diretamente associada ao aumento do desempenho, ao fortalecimento das relações profissionais e à criação de ambientes psicologicamente seguros.

Acredito que ser emocional não é o oposto de ser racional, mas, sim, uma forma mais completa de estar no mundo. É abraçar as emoções como aliadas, reconhecendo que elas nos tornam mais atentos ao impacto das nossas decisões, palavras e presença. Ser emocional é ter a sensibilidade de captar o não-verbal, de intuir o que não foi dito, de ouvir com coragem mesmo quando as verdades nos desafiam. Acima de tudo, é agir com autenticidade, empatia e humanidade.

É importante reabilitar o valor das emoções, deixar de as ver como um obstáculo à razão e a reconhecê-las como uma força que amplia a nossa capacidade de conectar, liderar e transformar. Continuo a ver que muitas empresas ainda hesitam em valorizar aquilo que não se mede em gráficos: a empatia, a escuta, a presença e a coragem de ser/estar vulnerável. Mas é precisamente este lado que sustenta o verdadeiro impacto.

Enquanto profissional ouvi muitas vezes que ser emocional era um desafio, não por ser um erro a corrigir, mas porque o mundo profissional ainda carece de maturidade emocional para valorizar o que não se mede em números. Hoje, sei que o lado emocional é aquilo que me permite cuidar das pessoas sem perder de vista o negócio e cuidar do negócio sem perder de vista as pessoas. Porque ambos estão intrinsecamente ligados. Não existe crescimento sustentável sem bem-estar, não existe inovação sem confiança e não existe cultura sem empatia. O lado emocional guia na construção de pontes entre as pessoas e os objetivos organizacionais, permitindo cuidar da equipa sem perder de vista o negócio, e vice-versa. Com uma postura construtiva, centrada na empatia e na escuta ativa, é possível promover um espaço seguro onde as pessoas podem expressar-se autenticamente, partilhar vulnerabilidades e crescer em confiança.

Deixo este convite a todas as organizações: olhem para o lado emocional das pessoas não como um desafio a controlar, mas como um valor a desenvolver. Não é por acaso que os profissionais e líderes inspiradores não são os que escondem o que sentem, mas são os que sabem sentir com consciência, agir com empatia e transformar com intenção. Está na hora de revalorizar o papel da emoção e perceber os seus benefícios.

  • Eliana Almeida
  • People Experience Lead da KWAN

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