En Marche, Macron?

Emmanuel Macron é o presidente eleito da França. Ganhou contra Le Pen e isso, só por si, livrou os europeus de um pesadelo a curto prazo. Mas será Macron o homem para mudar a França e a Europa?

Emmanuel Macron é o novo presidente da França numa eleição que foi, mais do que em qualquer outro momento histórico, um referendo à participação da França no euro e, claro, à própria União Europeia. É por causa disto que se ouviram suspiros de alívio nas capitais europeias quando as televisões francesas revelaram as primeiras projeções e uma vitória de Macron sobre Le Pen com mais de 65% dos votos. E agora, Macron vai mudar a França e a Europa?

Convém moderar as expectativas. A vitória de Macron resultou de méritos próprios, mas também de uma frente republicana francesa anti-Le Pen, que mostrou não saber dizer muito mais do que o discurso populista do protecionismo e da ‘anti-mundialização’, para usar a expressão francesa dos que estão com a globalização e a livre circulação de pessoas, serviços e capitais.

O novo presidente eleito – o mais novo da história, com 39 anos, vai ter, já nas próximas semanas, o primeiro dos desafios, com a realização das legislativas nos dias 18 e 25 de junho: Macron não tem partido, nasceu há poucos meses e assentou a sua campanha no movimento ‘En Marche!’. Mas, ao contrário do que sucedeu nestas presidenciais tão atípicas – em que os partidos instituídos perderam para Macron, mas também para a extrema-direita e extrema-esquerda -, nas legislativas os partidos partem com vantagem. Até o do PS francês, simplesmente pela força e organização em todo o país, coisa que Macron manifestamente não tem.

O presidente eleito precisará de fazer passar no Parlamento as suas medidas, o seu programa, nomeadamente o plano económico, e para isso precisa de ter condições para governar. Conseguirá?

Emmanuel Macron assumiu-se verdadeiramente como europeu nestas eleições, antes e, sobretudo, na noite da vitória. Há muito que tal não se via num país comunitário, e isso é um trunfo importante para o novo líder, sobretudo porque se apresentou ao eleitorado francês, e de certa forma europeu, com uma agenda também para a União Europeia. Até mais ambiciosa do que agora se discute nesta pré-campanha para as eleições na Alemanha, em outubro. Só que é uma ilusão imaginar que a França poderá mesmo recuperar uma capacidade de decisão e de poder efetivo na Europa se continuar a ser ‘o doente económico’ que é hoje.

A França perdeu peso político, porque engordou economicamente. Deixou de correr, como a Alemanha, e passou a andar, muitas vezes a passo lento. A França tem um Estado pesado, um mercado laboral pouco flexível e uma taxa de desemprego de 10%, uma dívida pública que vale quase 100% do PIB. Ora, Macron bem poderá falar em voz alta, e exigir reformas das instituições europeias, Angela Merkel bem poderá dar-lhe o palco para a reativação do eixo franco-alemão, mas será uma oferta calculada, talvez até calculista e cínica. Macron terá, primeiro, de mudar o seu próprio país.

Macron anunciou aos franceses que quer seguir o modelo económico dos países do Norte da Europa. É uma frase feita que passa bem junto do eleitorado do Sul, mas é mais vazia do que parece. Simplesmente porque as economias são muito diferentes. Macron não poderia anunciar que vai seguir a estratégia da Alemanha, perderia as eleições, mas na verdade é esse o seu caminho. Outro, creio, estará destinado ao falhanço.

O programa económico de Macron é ao centro, sim. E não é reformista. Vai cortar 60 mil milhões na despesa nos próximos cinco anos, mas vai lançar um pacote de estímulos de 50 mil milhões. Quer reduzir os impostos sobre as PME, mas quer também aumentar a proteção social (num país particularmente generoso… e obeso), e de alterações à lei laboral, nada. E na Segurança Social, nada. O que é que isto vai dar? Os mercados, neste primeiro novo dia, estão a dar-lhe o benefício da dúvida.

Emmanuel Macron tem uma primeira oportunidade para mostrar uma primeira boa impressão. En Marche?

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