Erros de principiante

Vou confessar-vos uma coisa: viajar é um pincel do caraças. Às vezes só me apetece ir de férias!

“Mas tu não estás de férias?”, perguntam vocês, já enjoados de tanta foto postal. Tem dias. Um viajante pode ir tirando uns dias para pousar a mochila. Mas a diferença entre viajar e ir de férias não é a distância que vai do pêssego ao alperce, é mais a que vai do tomate ao durian. Para quem não é dado a fruta… o que quero dizer é que não tem nada a ver.

Mami Pereira é viajante profissional pelo menos metade do ano.Mami Pereira

A diferença entre as férias e a viagem, é que as férias são um intervalo da vida, no qual simulamos a perfeição. Uma cápsula onde só entra o que nós queremos. As férias organizam-se a priori para evitar qualquer chatice a posteriori. Quando se vai de férias a ideia é fazer nada ou brincar às coisas. Volta-se das férias descansado e cheio de energia. Volta-se à vida.

a viagem é a vida toda num shaker de cocktail. Tudo o que puder correr mal vai correr mas, ao mesmo tempo, tudo pode acontecer. Não há plano possível, é o verdadeiro “vai-se andando” e o “logo se vê”. Não é à toa que a pessoa se sente viva em viagem, é mesmo isso que está a acontecer. E é por isso que, quando volta de viagem, o viajante precisa de tirar uns dias de férias. O problema é que o viajante só pára de viajar quando o dinheiro acaba e, se há coisa que não se faz sem verdinhas são as fériazinhas.

Vou acabar já com o romance: viajar é fazer coisas chatas diariamente. Sempre que mudamos de poiso temos de procurar casa, para mudar de poiso temos de procurar transporte, se temos fome temos de procurar comida. É como se fossemos um esquilo com amnésia. E quando finalmente já temos tudo resolvido, está na altura de nos pormos a andar. Se querem pôr à prova a vossa relação não vão de lua-de-mel, vão de planeta Terra!

Isto tudo para dizer que nestes 11 anos de viagem, já abri muito horizonte mas continuo sem abrir a pestana. Mesmo rodada nestes roteiros, uma pessoa é apanhada sempre na mesma alhada. E se errar é humano, não há ninguém que erre mais que o errante. Vamos ao top dos meus erros de principiante?

  1. Escolher o livro pela capa. Neste caso, o hotel pelas fotos. Antigamente não havia hipótese, íamos às cegas, de Lonely Planet, e tínhamos cinco linhas para escolher o hotel. Mas hoje em dia com a Internet, a coisa funciona pior que o Tinder. Os hotéis são como aquelas mulheres já entradotas que carregam no Photoshop até parecerem umas entradinhas. Conclusão: pagamos caro por pardieiros bafientos. Solução: desconfiar do ouro e ir ler as críticas de quem já por lá passou. Ninguém diz bem de um date que correu mal.
  2. Ignorar ventos e colher tempestades. Não há nada mais imbecil que marcar uma viagem sem ver o que diz a “menina da meteorologia“. Sobretudo se for uma viagem de barco, especialmente se for para ir ver a maravilhosa Maya Beach (aquela do filme A Praia). Nem imaginam como fica feia qualquer praia com uma tempestade de areia e como é desagradável ter de nadar em rebentações tipo Boca do Inferno. Uma coisa é certa, devo ter sido a única pessoa que viu aquilo sem ninguém.
  3. Da época só a fruta. Não é preciso ser um génio para imaginar a sensação de viajar em época alta, basta apanhar qualquer transporte em hora de ponta. Se ao desconforto se juntar uma inflação astronómica, acabamos de descrever um agosto em qualquer parte do mundo. Natal, Páscoa e outros feriados locais fazem pior ao viajante que a Maldição de Montezuma (ide googlar).
  4. Há ar e ar, há ir e voltar. Não só a maior parte dos países que requerem visto precisam de um voo de saída, como grande parte das vezes compensa comprar ida e volta. Isto parece óbvio mas quando se viaja por vários meses, não é fácil saber onde acaba a festa. E a não ser que se esteja a pensar fazer continentes de distância, às vezes fica mais barato fazer voos mais pequenos do que comprar um voo de ida e depois um de volta. Já cometi mais vezes este erro que cometas passaram.
  5. O dinheiro voa. Mas volta. O que não volta é o cartão multibanco depois de se ter tentado levantar dinheiro em vários países diferentes sem se informar o banco. Já para não falar nas taxas absurdas que só por si pagavam mais uma viagem. Solução: cartão Revolut. E se alguma vez ficarem sem dinheiro, só aí vão perceber a quantidade de gente boa a valer que existe no mundo e que, basicamente, é quem faz da viagem uma das melhores experiências humanas de sempre.

Bom, e se continuo esta lista, arrisco-me a escrever um livro. Mas está um temporal desfeito e estou num hotel péssimo e caríssimo (esqueci-me que eram férias da Páscoa). E sim, acabámos de gastar um dinheirão num voo de volta a Portugal… felizmente ainda temos o cartão.

Sabem, nesta coisa da vida e das viagens, a única maneira de não errar é nem sair de casa. E esse é, de certeza, o pior dos erros!

“Crónicas asiáticas” são impressões, detalhes e apontamentos de viagem da autora e viajante Mami Pereira. O ECO publica as melhores histórias da viagem à Ásia. Pode ir acompanhando todos os passos aqui e aqui. Leia ou releia também as “Crónicas africanas” e as “Crónicas indianas”.

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