Inovação nas cidades pós-Covid
As cidades são o motor do crescimento da UE gerando 85% do PIB. Com a duplicação da população urbana em 65 anos, foram especialmente vulneráveis à pandemia. no pós-Covid terão de ser diferentes.
Nada parece garantir um retorno pacífico ao velho “normal” citadino. A saúde pública monopoliza hoje o espaço público e privado dos cidadãos com consequências directas no emprego, na mobilidade, na segurança, na sustentabilidade produtiva e nas próprias relações sociais que tecem o ambiente urbano das nossas cidades.
As cidades pós-COVID precisam de uma 2ª vaga estratégica de inovação em meio urbano mais exigente e difícil de alcançar pela imperiosa necessidade de integração e coesão social, económica, ambiental, sanitária e urbanística num tempo útil humanamente muito mais curto: antes que o desemprego, a desigualdade e a pobreza tomem conta das próprias cidades.
Neste sentido, propomos 8 ideias que partem de um pressuposto comum – a necessidade de uma nova ecologia humana das cidades, que integre a revitalização económica, a digitalização urbana e a sustentabilidade ambiental, com benefício visível na qualidade de vida dos cidadãos
e das comunidades locais.
1. Recriar empregos
Vivemos nas cidades porque aí temos trabalho. As cidades com os melhores empregos serão capazes de reter o talento local, sobretudo de jovens, e atrair novos habitantes, em especial os mais qualificados. A aposta integrada na criação líquida de empregos resulta tanto da criação de novas empresas (incubadoras e aceleradoras) como do apoio continuado às empresas existentes (redução da burocracia, teste de soluções inovadoras) combinadas com acções próactivas de captação de investimento e de atracção de talento externo.
2. Multiplicar Espaços Comunitários Criativos | CCSs
Está bem demonstrado que o surgimento de comunidades de empreendedores traz impactos positivos para as economias locais. Quando há criação de novos negócios, sobretudo empresas de base tecnológica com potencial de crescimento, o efeito é mais emprego e criação de riqueza. Multiplicar e diferenciar espaços comunitários criativos (CCSs) na malha urbana consolidada constitui um dos vectores essenciais de uma política integrada de inovação nas cidades.
3. Conceber Bairros Inovadores | Innovation Districts
Precisamos de arriscar novos projectos urbanos de uso misto designados “distritos inovadores”, de acordo com a proposta do Brookings Institution. A redefinição estratégica e funcional das cidades através dos bairros/distritos inovadores faz-se em torno de instituições-âncora (de ensino universitário, empresas ou centros I&D+I, por exemplo), na re-imaginação compreensiva de zonas abandonadas e degradadas ou na requalificação multivalente de parques empresariais datados e isolados que perderam vida útil, através de masterplans agregadores dos múltiplos objectivos sociais, económicos, ambientais e urbanísticos.
4. Redefinir o Espaço Público | Co-living
Segundo Gehl, a vida pública nas cidades acontece no encontro criativo das pessoas nas ruas, praças, parques ou espaços públicos entre os prédios urbanos. Redesenhar o espaço público com métricas centradas nas pessoas e no seu bem-estar é a mais promissora mudança de paradigma ecológico das cidades, permitindo uma participação envolvente dos cidadãos e das suas comunidades. Implementar espaços verdes comuns é hoje mais importante do que prever estacionamentos. Os espaços públicos terão igualmente de aumentar a adaptabilidade temporária num urbanismo táctico de nova geração.
5. Construir novas tipologias de Habitação
O tele-trabalho será uma das tendências marcantes da década. A habitação urbana terá que ser repensada para conciliar ambientes pessoais e profissionais, mais espaços comuns de partilha e co-working, edificações ambientalmente mais desenvolvidas na utilização de energias renováveis, reaproveitamento da água e diminuição do desperdício de resíduos. O espírito de vivência comunitária e de partilha social – créditos sociais com impacto na renda ou utilização colaborativa de energia, por exemplo – pode constituir uma experiência urbana inovadora de enorme riqueza humana.
6. Digitalizar com dados abertos
A tecnologia é, até agora, a única vencedora do embate mundial com a pandemia. A cidade pós-Covid terá necessariamente fortes alicerces digitais, dos cuidados de saúde à educação, do mundo empresarial às actividades correntes dos cidadãos. A oportunidade de desenvolver um novo estadio de infra-estrutura digital exige um aumento da participação dos cidadãos, através de uma política de open data que faça frutificar a inovação económica e social. A cidade senciente utiliza dados em tempo real como recurso avançado de gestão urbana, numa infraestrutura tecnológica matricial que deve optimizar o desenvolvimento económico e social da própria cidade e suas comunidades.
7. Desenvolver a mobilidade suave e conectividade
As cidades geram cerca de 70% das emissões globais de GEE (gases do efeito de estufa). Aumentar a conectividade através de novas formas de mobilidade suave que reduzam a poluição ambiental, congestionamento automóvel e longos tempos de deslocamento era já um dos desafios do relatório “The Future of Cities” da Comissão Europeia. Passou a ser uma certeza da segunda vaga de inovação urbana. Não só nos fluxos locais casa-trabalho mas igualmente na interconectividade regional e nacional, designadamente através de ferrovia.
8. Apostar nas Cidades médias
As mega-urbes parecem condenadas ao desequilíbrio estrutural ambiental e sem capacidade crítica para a resiliência epidémica ou ambiental e para as adaptações flexíveis daí decorrentes. As cidades médias, pelo contrário, tendem para a optimização e maior adaptabilidade funcional, garantindo uma qualidade de vida mais homogénea e maior coesão social. A “cidade 5-minutos” dá prioridade a produtos e serviços locais nas comunidades de bairro e à fruição de espaços verdes acessíveis numa distância a pé nesse espaço de tempo, numa escala humanizante do meio urbano própria das cidades de média dimensão.
A governação das cidades pós-COVID precisa de uma segunda vaga de inovação urbana. Há soluções capazes de conjugar valor económico, coesão social e protecção ambiental. Ao serviço das pessoas – afinal, foi para isso que construímos as cidades.
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