Inteligência Artificial: o futuro que chegou cedo

  • Joana Pinto
  • 22 Maio 2024

A educação tradicional deve ajustar-se para capacitar as futuras gerações a lidar com os desafios da IA, aproveitando as suas oportunidades de maneira ética e reflexiva.

Há seis anos, escrevi aqui sobre o futuro da advocacia e o impacto iminente da inteligência artificial (IA), tendo referido que os modelos de gestão e de trabalho passariam por transformações significativas nos 5 a 10 anos seguintes.

O que parecia um futuro distante está agora a acontecer diante de nós, com a IA no epicentro de todas as discussões e análises, dominando a agenda mundial e ditando o ritmo do futuro global.

O quadro regulatório e a abordagem human-centric

A IA, constitui uma ferramenta poderosa que oferece inúmeros benefícios à humanidade se for utilizada de forma ética e responsável. Desde diagnósticos médicos precoces e tratamentos personalizados, até métodos educacionais adaptados às necessidades individuais dos estudantes, a IA promove práticas sustentáveis na indústria e inclusão digital na sociedade, abrindo novas oportunidades de emprego e potencializando a evolução nos vários setores de actividade.

No entanto, para maximizar esses benefícios, é essencial que avancemos em direção a uma abordagem que coloque o ser humano no centro do desenvolvimento e implementação desses sistemas, porque o valor intrínseco da IA reside na sua potencialidade para servir e enriquecer a sociedade, respeitando princípios éticos, diversidade e direitos fundamentais.

Uma IA centrada numa abordagem human- centric exige, desde logo, um compromisso com estes princípios. Tal adesão foi, de resto, acolhida quer pelo AI Act, aprovado pelo Parlamento Europeu, no dia 13 de março de 2024, quer pela recente “Convenção-Quadro do Conselho da Europa sobre Inteligência Artificial e Direitos Humanos, Democracia e Estado de Direito”, aprovada pelo Conselho da Europa no passado dia 17 de maio.

O AI Act, assentando numa avaliação de riscos inerentes aos sistemas de IA, veio introduzir uma nova camada de complexidade e responsabilidade no governance dos sistemas e definir diretrizes para o uso ético e seguro da IA.

O segundo, constituindo o primeiro tratado internacional juridicamente vinculativo sobre IA, estabelece um quadro jurídico que visa garantir o respeito pelos direitos humanos, o Estado de Direito e as regras da democracia na utilização desta tecnologia.

Na base dos dois documentos, duas permissas se destacam: i) a ética, como alicerce da construção da IA e ii) a abordagem humanizada no seu desenvolvimento e aplicação, como garante de que a sociedade, como um todo, beneficia plenamente do potencial desta tecnologia.

As empresas começam a preparar-se para garantir uma adaptação eficaz ao novo quadro legal europeu sobre a IA, nomeadamente, desenvolvendo princípios de governance, realizando avaliações de impacto e investindo em programas de compliance alinhados às melhores práticas.

Mas há que ir mais além.

A necessidade urgente de requalificação e educação em IA

É urgente requalificar, formar e educar.

Um estudo da Accenture revela que a principal dificuldade dos líderes empresariais consiste no reforço de competências dos seus colaboradores, sendo que 51% das organizações começam a sofrer impactos negativos por força do agravamento da escassez de competências em TI.

A Accenture reconhecendo que, para reinventar as organizações e gerar valor de negocio acrescentado, os líderes têm de compreender as tecnologias e saber aplicá-las de maneira eficaz, lançou o Accenture LearnVantage para ajudar as empresas e os seus colaboradores a adquirirem competencias essenciais em tecnologias emergentes, incluindo IA generativa.

No entanto, para além deste investimento empresarial na capacitação da força de trabalho, é crucial actuar na sociedade em toda a sua dimensão.

As ferramentas de IA generativa, como o Chat GPT da OpenAI, estão cada vez mais presentes. Por isso, é preciso que aqueles que, hoje e no futuro, desenvolverem e utilizarem estas ferramentas tenham literacia digital. Os utilizadores devem entender como estas tecnologias funcionam, e conhecer as suas potencialidades, limitações e riscos, isto é, saber o que podem e o que não podem fazer.

Políticas públicas para a alfabetização digital

É urgente definir políticas educativas que promovam a alfabetização digital para maximizar os benefícios da IA, e assegurar o seu uso responsável e ético. Isso inclui reinventar currículos escolares, investir na formação de docentes, educar alunos sobre algoritmos e viés na IA, incentivando a análise crítica e a avaliação da credibilidade das fontes online.

A educação tradicional deve ajustar-se para capacitar as futuras gerações a lidar com os desafios da IA, aproveitando as suas oportunidades de maneira ética e reflexiva.

Isso implica que a estratégia nacional para a IA considere uma reforma educativa que actualize conteúdos, integre metodologias e disponibilize ferramentas de IA, sem marginalizar a sua utilização, antes regulando-a de acordo com boas práticas.

É assim importante promover um amplo debate entre especialistas, academias, educadores e decisores, em torno de políticas públicas que tenham como objetivo a implementação destas abordagens curriculares, preparando as novas gerações para contribuir e participar de uma sociedade mais justa, inclusiva e humanizada no futuro.

Só assim se cumprirá o propósito de uma human centered AI, maximizando as vantagens para uma sociedade onde a interação entre humanos e máquinas amplie as capacidades individuais e promova a inovação, a eficácia e o bem-estar coletivo.

  • Joana Pinto
  • Diretora jurídica da Accenture Portugal

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