
Negócios e pandemia. Improvisar e planear!
Não se trata de fazer um plano rígido para “cumprir à risca”, mas sim de fazer planeamento, de garantir os recursos necessários, incluindo financeiros, que suportem o período de recuperação.
Encontrar soluções num curto espaço de tempo. Fazer, produzir, entregar, sem qualquer preparação ou plano. Improvisar, inventar e reinventar, começar de novo. A isto obrigou a pandemia. Agora, chegou a hora de pensar sobre o que ainda pode acontecer e o que se pode fazer. É preciso planear e preparar o futuro!
Se algo de bom vislumbrámos durante os últimos meses foi a capacidade de muitos dos nossos gestores e empresários para improvisar, reinventar e aproveitar as oportunidades criadas durante um contexto de profunda crise sanitária, económica e social. Fizeram bom uso do conceito macgyver* e transformaram-se em inventores, empreendedores, sobreviventes, resilientes. Fizeram-no sem planear, não houve tempo para tal nem as condições o permitiam, até porque neste contexto as “regras do jogo” mudam todos os dias.
“Velhos e novos” negócios, reinventados, enfrentam agora a esperança da recuperação económica e os desafios de um mercado desconhecido. É preciso garantir que este empreendedorismo efervescente, que parece querer combater a crise económica, é sustentável e não somente uma reação de curto prazo.
Arrisco a dizer que será preciso planear, sim. Mas planear de forma ágil, flexível, mantendo a abertura para as decisões e ações emergentes. Mais do que escrever um plano formal ou detalhado, é urgente pensar sobre o que ainda pode acontecer e o que se pode fazer.
Planear investimentos e recursos
Pensar atempadamente sobre o futuro, sobre os novos investimentos, ou até mesmo sobre as dificuldades de tesouraria iminentes, elaborar um plano financeiro, e ponderar a integração de novos parceiros e/ou alternativas de financiamento pode salvar o negócio. Se para as startups este é um processo normal, para outras empresas esta pode ser a oportunidade para sobreviver, inovar e crescer. Gestores de negócio e financeiros terão de trabalhar lado a lado e alinhar iniciativas de negócio e financeiras.
Mas mais do que apresentar estimativas detalhadas de custos, urge agora pensar sobre os processos de negócio e a forma como os recursos são integrados nesses processos. Os recursos são os adequados à nova forma de fazer negócio, de servir o cliente? Redimensionei a estrutura para fazer face às dificuldades do período de recuperação? Identifiquei iniciativas colaborativas com clientes, fornecedores e concorrentes que me permitam obter ganhos de produtividade? Vou conseguir transformar custos fixos em variáveis? Implementei processos que permitam desburocratizar, desmaterializar e agilizar processos internos e externos? Estou a gerir bem os stocks e a entregar em tempo? Sou competitivo, neste novo contexto? Os meus clientes pagam? Estou a planear os investimentos necessários para as mudanças exigidas pelo mercado pós-pandemia?… Durante os próximos tempos, estas e outras questões serão o alvo da atenção dos gestores.
Não se trata de gerir custos. Mas sim de gerir, e bem, os recursos e os processos!
Definir objetivos de negócio e de mercado
E o mais importante. As vendas, o negócio, a capacidade de chegar e estar neste novo mercado em recuperação.
A pandemia criou grandes dificuldades a inúmeros negócios (muitos ainda em suspenso), exigiu a reinvenção de outros, mas também fez emergir novas oportunidades para empresas e empreendedores. É preciso tomar como referência as dificuldades, as incertezas e as oportunidades, e ir para o mercado. Definir objetivos, e ações concretas e persegui-las! Temos de ir atrás do mercado; mas, também criar mercado, criar necessidades e alavancar as oportunidades que a pandemia nos trouxe. Prospetivamente, têm as empresas que definir objetivos – volume de negócios, novos produtos, novos clientes e mercados, novos canais de distribuição, novos formatos de entrega. Objetivos que promovam o foco, a emergência das ações e a orientação para os resultados. Que mantenham as empresas e os gestores em alerta, vigilantes.
Faz um ano que foi declarada pandemia de Covid-19. Começa agora a antever-se um longo período de recuperação económica. As empresas têm de preparar o futuro, os gestores têm de planear. Não se trata de fazer um plano rígido para “cumprir à risca”, mas sim de fazer planeamento, de garantir os recursos necessários, incluindo financeiros, que suportem o período de recuperação, a inovação exigida e o crescimento do negócio (e sua rentabilidade). E é preciso identificar os novos parceiros de negócio, colaborar, inovar, fazer emergir ações, e implementar. E ter foco, e orientação para os resultados. Sem preparação, sem planeamento, “velhos e novos” negócios terão um futuro errático.
* Em 2015, o Dicionário da Oxford University Press integrou o termo ‘macgyver’ com o significado “fazer ou reparar um objeto de modo inventivo e improvisado, fazendo uso de qualquer objeto que esteja por perto”.
**Ana Maria Simões é membro da Comissão Executiva do Iscte Executive Education e diretora do programa Applied Online em Finanças e Controlo Empresariais.
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