O consumidor como protagonista da transição energética
O mérito desta campanha, que espero arranque em breve, é o de colocar o consumidor no papel de um agente ativo na criação de um meio ambiente melhor.
Fiquei muito satisfeita, até entusiasmada, confesso, com a notícia de que a APA se prepara para investir numa grande campanha de comunicação nacional com o objetivo de “consciencializar os cidadãos para o seu papel preponderante na melhoria da gestão dos resíduos, quer a montante para a prevenção da sua produção, através dos seus hábitos de consumo, quer a jusante, através da sua participação mais ativa na separação e recolha seletiva de resíduos, sobretudo no que diz respeito à fração de biorresíduos”.
Qualquer uma das dimensões anunciadas pelo Presidente da APA (é dele a citação anteriormente destacada) são importantes e posicionam o consumidor como um agente central – como um verdadeiro ator principal – no desígnio global da transição energética e de uma descarbonização transversal e progressiva. Claro que os Estados, as grandes empresas e todo o ecossistema empresarial e empreendedor que gravita na extensa cadeia de valor do setor energético e das suas diversas fileiras, são vitais para o processo de transição energética e de descarbonização, mas o que esta campanha pretende tornar evidente é que cada um de nós, enquanto consumidores, enquanto cidadãos de uma comunidade de pessoas, temos impacto na velocidade e sucesso desta transição.
Olhemos para a questão dos biorresíduos produzidos por cada um de nós, todos os dias. Esses resíduos são essencialmente encaminhados para aterro e, apesar de hoje impactarem menos o meio ambiente do que há umas décadas atrás, a verdade é que continuam a impor uma fatura ambiental excessiva. O mérito desta campanha, que espero arranque em breve, é o de colocar o consumidor no papel de um agente ativo na criação de um meio ambiente melhor. Consciencializar o consumidor de que o lixo que produz pode ser transformado em energia, da qual ele próprio poderá beneficiar, é uma iniciativa extraordinária e perfeitamente alinhada com as práticas adotadas pelos restantes países da Europa. É a oportunidade de impactar diretamente o consumidor no sentido de valorizar devidamente os resíduos, que são produzidos para a geração de energia. Se, ao produzir “lixo”, o consumidor compreender que está, potencialmente, a gerar algo que poderá ser-lhe devolvido sob a forma de energia (possivelmente até mais barata, isso só o mercado poderá determinar), irá, de forma natural e voluntária, separar esse “lixo” de forma mais eficiente. Deixará de o encarar como resíduo ou desperdício, passando a vê-lo como um recurso valioso a ser aproveitado.
Em termos de política pública, esta campanha mostra, de forma muito evidente, que o Plano de Ação para o Biometano está vivo e que há futuro para a produção de gases naturais renováveis. No momento em que se discute o Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Distribuição de Gás Natural, o que esta campanha pode fazer é contribuir para acelerar a agenda da produção de gás natural de origem renovável e dinamizar toda uma cadeia de valor que seguramente pode beneficiar deste incentivo. Esta campanha é de saudar, porque dá visibilidade a esta que é uma solução de produção energética acarinhada pelos poderes públicos, designadamente pela Agência responsável pelo Ambiente. Portanto, estamos, não só, a falar da produção de energia, mas da produção de uma energia sustentável, natural e renovável.
Esta é uma boa notícia para o ambiente, é uma boa notícia para o setor da produção e distribuição de energia e, termino como comecei, estou satisfeita e entusiasmada, pois esta campanha de valorização de biorresíduos mostra uma aposta clara na valorização da cadeia de valor do biogás, que começa e acaba no próprio consumidor. O consumidor no centro da transição energética como agente dessa própria transição! Por isso é de louvar esta iniciativa da APA, onde a bioenergia avançada assume um papel relevante na promoção de uma economia circular.
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