O fiasco do 5G

Portugal está oficialmente na liga dos últimos do 5G, confirmou a Comissão Europeia. Anacom, Governo e operadoras estão a falhar com a economia e com os cidadãos portugueses.

São conhecidas as divergências entre Governo, Anacom e operadoras no lançamento do 5G. Mas há um aspeto em que as três partes concordam: no potencial da tecnologia e no seu importante papel para a competitividade do país.

Por isso, não é bom sinal estarmos na liga dos últimos.

Portugueses e lituanos são os únicos cidadãos da União Europeia (UE) que ainda não têm serviços de quinta geração móvel. Nós, porque o leilão nunca mais acaba. O deles, previsto para o primeiro trimestre, ainda nem sequer começou.

Uma análise mais alargada mostra que estamos cada vez mais isolados até no plano europeu. Entre os países do continente que ainda não têm quinta geração está a Ucrânia e a Bielorrússia.

Este alerta já tinha sido feito pelo ECO há mais de um mês. Mas, agora, vem de cima: o Observatório Europeu do 5G, um organismo da Comissão Europeia que monitoriza o desenvolvimento desta tecnologia na UE e no mundo, publicou esta semana um relatório que confirma isso mesmo. Há 25 países da UE com 5G, diz-nos Bruxelas. E Portugal está fora da lista.

Há praticamente três anos que escrevo sobre o lançamento do 5G no ECO e é difícil não sentir um laivo de frustração. Segundo o observatório da Comissão, mais de 180 operadoras no mundo prestam serviços de 5G e, feitas as contas, o número de estações base rondará o milhão. Quanto aos terminais, são já 600 modelos de dispositivos móveis capazes de se ligarem a estas novas redes.

O leilão do 5G da Anacom nunca será infinito, mas é impossível de esquecer as palavras de João Cadete de Matos, presidente da Anacom, quando, a 15 de dezembro, disse aos deputados na Assembleia da República que existiam condições para concluir o processo em janeiro e atribuir as licenças até ao fim de março.

Cadete de Matos criou falsas expectativas nos portugueses e tem-se mostrado incapaz de finalizar este processo. Tentou acelerar o leilão ao mudar o regulamento, aumentando o tempo para a realização de rondas, aparentemente sem sucesso. Poderá voltar à carga, eliminando as licitações mais baixas, de 1% e 3%, como já ameaçou. Porque não mudou tudo de uma vez é difícil de entender (estará o leilão ferido de morte?).

Do lado do Governo, a mensagem é pouco clara. Ontem, no debate do Estado da Nação, o primeiro-ministro e o ministro da Economia abordaram o tema do 5G ao de leve, mas nada disseram sobre o atraso gritante no processo.

Na tutela, a mensagem é ainda menos clara: Pedro Nuno Santos já nos disse que é bom o leilão durar, porque “precisamos de dinheiro” para investir noutras coisas. Esta semana, disse o contrário: não há nada a fazer a não ser esperar pelo fim do leilão, explicou, e “esperamos que seja em breve”.

Do lado das operadoras, a atitude não é melhor. Pouco têm feito para melhorar a situação, usando o leilão como pressão sobre um regulador com o qual estão em rutura. Porque, sejamos francos: se Meo, Nos e Vodafone quisessem ter 5G em Portugal, já o teriam lançado há muito. Estão preparadas para isso e existem tecnologias que permitem lançar a quinta geração nas frequências do 4G, como fizeram algumas noutros Estados-membros, que, já tendo 5G, ainda nem um leilão fizeram.

O 5G é hoje um fiasco nacional. Anacom, Governo e o setor estão a prestar um mau serviço ao país.

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