O Toque Humano que a IA não Substitui
Nuno Oliveira Matos indica áreas onde as capacidades da IA ficam aquém das humanas. Acredita que a tecnologia não está a substituir humanos nos seguros a elevar o patamar daquilo que se espera deles.
A inteligência artificial (IA) está a transformar profundamente o mundo do trabalho e o setor segurador não é exceção. Mas, ao contrário do que muitas vezes se teme, a IA não está a eliminar empregos indiscriminadamente. Está, sim, a redefinir o valor das competências humanas. Em vez de apagar o contributo dos profissionais, está a reforçar a importância de quem sabe pensar, criar e decidir com sentido estratégico.
No mercado segurador português, onde a transformação digital já vinha em curso, o impacto da IA é ambivalente: automatiza tarefas rotineiras, acelera processos e melhora a eficiência. Mas também expõe o que continua e continuará a exigir julgamento humano, sensibilidade relacional e pensamento crítico. Eis seis áreas onde os humanos continuarão a liderar, e que o setor deve proteger e potenciar:
- Os redatores e estrategas de comunicação são mais valiosos do que nunca. A IA já escreve textos razoáveis, mas ainda não compreende nuances culturais, tons institucionais ou momentos emocionais decisivos, essenciais numa empresa de seguros que queira comunicar confiança, proximidade e compromisso com os seus clientes. O verdadeiro valor está nos redatores que compreendem o negócio, dominam as ferramentas e sabem como instruir a IA para amplificar a mensagem, não para a substituir. O futuro do copywriting não é técnico, é estratégico. As equipas de comunicação e marketing devem ser formadas em literacia de IA e incentivadas a explorar estas ferramentas como assistentes criativos, nunca como substitutos.
- O toque humano na jornada digital está na base do design e da experiência do utilizador. Com ferramentas de IA a produzirem imagens em segundos, pode parecer que o design é uma arte do passado, mas é precisamente o contrário. O design tornou-se mais estratégico: é sobre coerência de marca, experiência do utilizador e fluidez digital. E em seguros, onde a fricção afasta o cliente e a confiança é conquistada ao detalhe, isso nunca foi tão crítico. A digitalização dos seguros exige mais do que bons formulários, exige experiências humanas, intuitivas e empáticas.
- Os gestores de marketing são os novos generalistas digitais. A IA pode sugerir campanhas, escrever headlines e segmentar públicos. Mas quem decide o que é prioritário? Quem interpreta os dados à luz do contexto cultural, regulatório e concorrencial? É aqui que os gestores de marketing se tornam peças-chave. Num setor tão regulado e sensível como o segurador, o marketing não é apenas criativo, é estratégico, ético e orientado por dados. A valorização dos profissionais que unem competências analíticas, tecnológicas e relacionais é crucial. São eles que asseguram que a IA serve os objetivos de negócio e não o contrário.
- Os engenheiros de prompts são uma nova fronteira de especialização. As ferramentas de IA só são tão boas quanto as instruções que recebem. É por isso que surgem novos profissionais especializados em criar prompts eficazes, comandos que guiam a IA com precisão. Esta competência já é valorizada em áreas como a análise de risco, subscrição e atendimento digital. Os colaboradores com aptidão para trabalhar com IA generativa são, por isso, críticos. A arte de saber “falar com máquinas” vai distinguir os líderes dos seguidores.
- Quanto mais automatizamos, mais valorizamos o que é genuíno. No setor segurador, isto manifesta-se no crescimento dos intermediários que cultivam marcas pessoais fortes e autênticas. A IA ajuda a escalar a produção de conteúdos, mas é a confiança humana que sustenta a relação comercial. Apostar em programas de capacitação dos intermediários em ferramentas digitais e presença online é crucial.
- A IA jamais conseguirá replicar as competências irredutivelmente humanas, como a empatia, confiança e liderança. Gerir equipas, apoiar clientes em momentos difíceis, tomar decisões ambíguas sob pressão, gerir sinistros, desenhar novos produtos adaptados aos riscos emergentes (como os climáticos ou cibernéticos) competirá sempre a um ser humano. Num mundo cada vez mais automatizado, o fator humano será o verdadeiro diferenciador competitivo.
Em suma, a IA não está a substituir os humanos no setor segurador. Está, antes, a elevar o patamar daquilo que se espera deles.
No setor segurador português, esta mudança é uma oportunidade para reforçar o valor das equipas, acelerar a inovação e renovar o compromisso com os clientes. A tecnologia avança depressa, mas a confiança continua a ser construída devagar, com inteligência, empatia e propósito.
A IA pode escrever o guião; mas só nós, humanos, o podemos encenar com verdade!
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