Onboarding como fator crítico para o sucesso do trabalho à distância

  • Ana Isabel Rodrigues
  • 15 Dezembro 2023

Quanto mais se promover intencionalmente a interação entre pessoas de diversas geografias, mais facilmente se produzirá um ambiente propício à cooperação no contexto de trabalho.

Seja pelo tendencial aumento do trabalho remoto, seja pela decisão estratégica das empresas em investir na descentralização e diversificação geográfica das suas atividades, é inegável que trabalhamos hoje, por norma, fisicamente mais afastados, o que não significa, porém, que não continuemos a precisar de trabalhar em conjunto.

Num contexto de elevada digitalização, a atividade profissional tem vindo a sofrer, globalmente, uma grande transformação. Não só o trabalho está a mudar, como tem vindo a mudar de igual forma o modo como trabalhamos. As empresas têm vindo a tirar partido destas mudanças, através da diversificação das geografias em que a sua força de trabalho se encontra, o que implica uma gestão verdadeiramente globalizada.

O nosso país tem beneficiado desta tendência, com uma popularidade muito significativa nos últimos anos no que respeita à atração e implementação de centros de competências. Só em 2022, segundo dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Portugal atraiu 32 centros de competências de multinacionais estrangeiras.

Embora do ponto de vista das empresas em causa existam vantagens facilmente enumeradas para este tipo de investimento, trata-se de uma opção que implica alguns desafios do ponto de vista de gestão das pessoas e equipas, que muitas vezes funcionam num modelo estendido, com atividades de trabalho interdependentes que implicam interação entre mais do que uma geografia ou plataforma em que a empresa possa ter atividade.

Num contexto como o descrito, é fundamental que se reflita seriamente na forma de garantir uma integração que se foque não só na apropriação da cultura do contexto local, mas que promova uma visão e interação global com os diversos atores com quem o colaborador terá contacto no exercício da sua atividade.

Na verdade, também as práticas de trabalho (orientações técnicas, formas de fazer) e a transferência de conhecimento devem ser pensadas e geridas de um modo transversal, e não por silo, sob pena de sair lesada a capacidade de trabalho em equipa e a sua consequente produtividade.

Possíveis práticas nestes contextos, com vista ao favorecimento da cooperação entre pessoas que trabalham em locais geograficamente distintos, mas de um modo interdependente, podem passar por: programas conjuntos de onboarding e promoção de práticas de job shadowing entre colaboradores pertencentes às diferentes geografias; bem como programas formativos que juntem no mesmo espaço de aprendizagem pessoas das diferentes localizações e que promovam o alinhamento global das práticas internas da organização.

Podem passa também por iniciativas que sensibilizem para as diferenças culturais existentes (que podem ser mais ou menos evidentes dependendo das geografias presentes) e que promovam uma visão de respeito e compreensão pela diversidade; ou ainda, que, com uma recorrência estabelecida, permitam o contacto entre todos através de eventos internos da organização, que podem ser presenciais (visitas entre membros de diferentes localizações) ou virtuais (iniciativas de get together ou de comunicação global de práticas, políticas e informações técnicas, que impliquem todos).

Onboarding é fundamental

Aqui, destaco o primeiro ponto, relativo ao onboarding, que pode ser particularmente relevante, se pensarmos que se trata de demonstrar, desde o primeiro momento de integração na organização, que a forma de trabalhar em estreita cooperação faz parte da cultura da empresa. Quanto mais se promover intencionalmente a interação entre pessoas de diversas geografias, com atividades ou dinâmicas que as coloquem perante um objetivo comum, mais facilmente se produzirá um ambiente propício à cooperação no contexto de trabalho.

Na Natixis em Portugal, onde tenho tido oportunidade de desenvolver e gerir projetos relacionados com o desenvolvimento de competências ao longo do ciclo de vida do colaborador, tenho assistido de perto à forma como o período de integração das equipas pode constituir um fator decisivo para o seu percurso na organização.

Um dos conceitos em que apostamos, no departamento de BPCE-IT, é a Tech Week, uma semana de onboarding com uma forte componente técnica e de trabalho em equipa, onde são chamados a participar colaboradores de Portugal e de França, para que, em conjunto, desenvolvam as suas competências, compreendam as práticas internas da organização e resolvam uma série de desafios de forma conjunta.

Novas realidades de trabalho pressupõem a necessidade de novas estratégias na gestão das pessoas e equipas. As vantagens de um trabalho que é tendencialmente menos dependente da geografia em que é realizado não deve menosprezar os desafios que acarreta para que o trabalho colaborativo continue a criar valor para as organizações.

  • Ana Isabel Rodrigues
  • HR projects specialist na Natixis em Portugal

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