Pandemia rima com empatia?

  • Ana Maçãs
  • 3 Junho 2020

A empatia é a nossa capacidade de “calçar os sapatos do outro”: quando o fazemos não só sentimos o que o outro sente, como também pensamos e percecionamos o mundo como ele.

Embora a palavra empatia esteja na moda, seja usada frequentemente por todos nós, será que sabemos realmente o que significa? Acho que não.

A empatia é a nossa capacidade de “calçar os sapatos do outro”: quando o fazemos não só sentimos o que o outro sente, como também pensamos e percecionamos o mundo como ele.

Todos nós criamos empatia, de uma forma inconsciente, naqueles em quem a nossa mente reconhece pontos em comum. Por aqueles que são como nós somos ou são como nós gostaríamos de ser. Isto é um processo automático e inconsciente. Mas como criar empatia com os outros que são diferentes?

Sentir, pensar, percecionar como o outro não é algo fácil de se conseguir mas é uma competência que se desenvolve. Para o conseguir temos de desenvolver a capacidade de nos posicionarmos no lugar do outro para compreendermos a sua realidade interna e externa, independentemente da pessoa, e de estarmos ou não de acordo com ela.

Estar em empatia é mergulhar no outro e perceber a forma como a realidade faz sentido para ela. A melhor maneira de fazer este mergulho, de nadar neste mar imenso que é o outro, é estar realmente interessado e curioso por perceber o seu ponto de vista. Para o conseguirmos fazer existem alguns pressupostos que temos de ter em conta.

  • Ter, verdadeiramente, paciência para ouvir o outro.
  • Ter a capacidade de suspender o nosso ego, ou seja, suspender as nossas necessidades e perceções para mergulhar nas necessidades e perceções do outro. Na verdade, é um ato de amor e de respeito pelo outro, por quem ele é, pela forma como pensa, sente e vê o mundo.

E com isto não estou a dizer que eu tenho de deixar de ser quem sou, de deixar de pensar, sentir, ver e percecionar de certa forma. Não é isso. Simplesmente tenho de ter genuíno interesse pelo outro e aceitar a diferença.

Se criar empatia com todo o tipo de pessoas já é difícil, em tempos de pandemia esta dificuldade cresceu bastante. Ao vivermos momentos de mudança e medo, em que temos de nos adaptar a uma nova realidade, a nossa mente é invadida, e parece que todas as conquistas que fizemos ao longo de séculos para aceitar as diferentes formas de pensar caíram por terra.

De repente começamos a ouvir críticas duríssimas a quem ousa comportar-se ou agir de forma diferente. Como se tirasse a liberdade ao outro de percecionar os perigos de forma diferente. Todos nós podemos tentar influenciar os outros, mas não podemos mandar na forma como ele perceciona a realidade à sua volta.

Esta é, sem dúvida, a altura certa para relembrar os conceitos básicos de empatia. Todos nós deveríamos estar realmente interessados em perceber o porquê de o outro se comportar de outra forma. Na empatia existe uma aceitação e um respeito pelo outro e pela sua perceção da realidade, o que implica uma atitude de não julgamento. Não podemos, só porque estamos todos num processo de adaptação, deitar por terra todo um conjunto de conquistas que demoramos anos a alcançar.

Estamos todos a ser invadidos por comentários muito agressivos em relação àqueles que ousam agir de forma diferente. Ou porque não usam máscara na rua, ou porque foram à praia, os exemplos são muitos. O que demonstra uma total falta de empatia pelo outro. Não precisamos de deixar de fazer o que achamos correto, mas podemos e devemos tentar perceber de que forma o outro pensa e sente esta realidade para agir da forma que age. E isto é empatia.

Se não conseguimos influenciar os outros quando não estamos em empatia com eles, mais do que nunca não deveríamos descuidar-nos deste aspeto.

As relações são dinâmicas: quando mudas um dos lados do sistema as outras partes em resposta a isso também mudam numa tentativa de restabelecer o equilíbrio. Por isso, quando queremos mudar algo no outro, primeiro temos de mudar algo em nós.

  • Ana Maçãs

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