Editorial

Pardal Henriques dá mau nome ao novo sindicalismo

Pardal Henriques e o sindicato não querem negociar, querem farsa e espetáculo, e não estão interessados em defender os motoristas, mas o seu próprio protagonismo.

Caiu a máscara, é uma farsa, já não é possível dar o benefício da dúvida, já é possível retirar conclusões: Pardal Henriques (e o sindicato que lidera de facto, embora não seja motorista) não quer negociar, não quer mediação, não quererá sequer melhorar as condições de vida dos 800 motoristas de matérias perigosas, quer apenas espetáculo, e motivos para aparecer nas televisões. É esta a única conclusão possível para a estratégia, ou tática, que Pardal Henriques seguiu, para levar para uma mediação com a Antram já com pontos fechados. Isso não é negociação, nem mediação. É outra coisa, e não é bonita.

Quando o sindicato de motoristas de matérias perigosas cancelou a greve, admitíamos todos – eu admitia – que estava de boa-fé, que estava a dar um passo relevante para uma negociação, para responder a reivindicações que, claramente, merecem ser discutidas. Todos percebemos as condições difíceis destes trabalhadores, e também a dificuldade destas empresas de transporte, dependentes de outro setor, o petrolífero, com um enorme poder de mercado. Mas não, as verdadeiras razões, percebe-se agora, foram outras.

Pardal Henriques e o sindicato cancelaram a greve porque a greve deixou de produzir efeitos devido à resposta musculada – e sonora – do Governo, quer com os serviços mínimos, quer com a requisição. Foi um passo atrás para dar, logo a seguir, dois passos à frente com um pretexto inventado, ou vários. Um deles é o de que a Antram não quer negociar. Com esta estratégia, aliás, Pardal Henriques está a dar uma ajuda preciosa à associação empresarial e ao seu porta-voz, André Matias, que partiu para este processo com o ónus de estar a servir os interesses das empresas e do próprio PS, o seu partido.

Como o ECO revela esta quarta-feira, o documento objeto de mediação, na prática a base para as partes partirem para uma mediação liderada pelo Ministério do Trabalho, é muito revelador do que esteve em causa, quem está do lado certo, quem está do lado errado da história.

Pardal Henriques e o sindicato dos motoristas não querem saber do país, nem dos próprios motoristas que representam, apesar da retórica. Porque não é assim que se defendem os seus interesses. Com ruturas e pré-avisos de greve (hoje vem mais um, para greve em setembro). Como se lê no documento, Pardal Henriques e o sindicato queriam impor duas condições antes da própria mediação, ou seja, a antítese do que deve ser uma negociação e mediação.

Como fica claro do documento base para a mediação, Pardal Henriques e o sindicato querem impor, à partida, que o suplemento de operação seria de 175 euros (mais 50 euros do que está já negociado desde maio) e novas regras para o trabalho suplementar. Ora, se estas duas condições já são impostas ainda antes da mediação, qual seria mesmo o objetivo desta nova fase de negociação entre os motoristas e a Antram?

O pré-aviso de greve às horas extraordinárias e fins de semana vai ter, como resposta, uma nova fórmula de serviços mínimos e até a eventualidade de uma requisição civil. Pardal Henriques e o sindicato dos motoristas sabem-no, e sabem, por experiência própria, como isso esvaziará essa forma de luta, por isso só pode haver outros objetivos e não são a defesa desses motoristas, nem das suas condições de trabalho

PS: A transformação do mercado de trabalho exige também novos sindicatos, fora do controlo da CGTP, mas exige-se que estas novas organizações independentes ganhem credibilidade e suporte social. Pardal Henriques e o sindicato de motoristas estão a dar um mau nome aos novos sindicatos, e a ajudarem a CGTP e a UGT a manterem um monopólio da representação laboral.

PS1: Pardal Henriques afirmou que está a ponderar o convite de Marinho Pinto para ser candidato a deputado pelo PDR. Está aqui a explicação para este espetáculo? E será possível que os motoristas não vejam que estão a ser alvo de instrumentalização por motivos pessoais?

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