
Por que não o Seguro como primeira linha de defesa no risco ciber
Nuno Oliveira Matos verifica que a penetração do seguro de “ciber-risco” ainda está longe do nível desejável, sobretudo devido à perceção de exclusões, mas a cobertura pode ser relevante e eficaz.
Os ciberataques deixaram há muito de ser incidentes pontuais para se tornarem numa ameaça estrutural à atividade empresarial. Nos últimos anos, várias empresas de referência em setores críticos viram as suas operações paralisadas e registaram perdas de exploração de centenas de milhões de euros. Apesar desta dura realidade, a penetração do seguro de “ciber-risco” ainda está longe do nível desejável, sobretudo devido à perceção de exclusões alegadamente pouco claras.
O mercado segurador, no entanto, tem vindo a amadurecer. Hoje, uma apólice de ciber pode abranger desde a interrupção do negócio até aos custos de resposta imediata, como reparação de sistemas, comunicação de crise, monitorização de dados pessoais, consultoria forense e, em alguns casos, até apoio em negociações de ransomware. Adicionalmente, muitas coberturas incluem a responsabilidade perante terceiros, o que as torna instrumentos de proteção financeira bastante abrangentes. Persistem, contudo, zonas cinzentas, nomeadamente exclusões relacionadas com ataques em caso de guerra ou de origem estatal, que levantam dúvidas legítimas, sobretudo num contexto em que a atribuição da autoria é crescentemente difícil.
Importa sublinhar que o seguro de “ciber-risco” deve ser encarado como um amortecedor financeiro e não como a primeira barreira de proteção. Tal como no ramo automóvel, em que a sinistralidade influencia o preço e as condições, também aqui a robustez dos controlos de cibersegurança impacta diretamente a aceitação do risco e o custo da cobertura. Empresas que investem em governance, planos de resposta a incidentes, testes de intrusão e formação dos seus colaboradores não só reduzem a probabilidade de sofrer um ataque grave, como beneficiam de melhores condições junto do mercado segurador.
O futuro traz novos desafios, com destaque para riscos emergentes associados à inteligência artificial, ataques híbridos com impacto físico e exclusões que exigirão maior harmonização e porventura clareza. Mais do que nunca, será essencial uma colaboração estreita entre empresas, seguradores e reguladores para garantir que a cobertura continua relevante e eficaz.
O seguro de “ciber-risco” é hoje uma ferramenta indispensável, mas insuficiente, sobretudo se utilizada de forma isolada. Só as organizações que o integram numa estratégia mais ampla de resiliência digital estarão verdadeiramente preparadas para enfrentar o próximo grande ataque. E talvez a questão que todas as empresas deveriam colocar não seja se serão atacadas, mas sim quando e quão preparadas estarão para resistir?
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