Portugal acelera na mobilidade elétrica – e o turismo pode (e deve) acompanhar

  • Daniela Simões
  • 6 Agosto 2025

Quando os condutores saem das cidades e ativam o ‘modo férias’, continuam, em muitos casos, a enfrentar um desafio estrutural: a escassez de soluções de carregamento.

Portugal é hoje um dos países da Europa com maior crescimento no parque automóvel elétrico. Em 2024, cerca de 20% dos veículos novos vendidos foram 100% elétricos, uma tendência que se espera que continue a crescer nos próximos anos. No entanto, para que este avanço continue a ser real e benéfico para os condutores, há uma condição essencial: uma rede de carregamento que acompanhe o país, do litoral ao interior. E aqui, o turismo tem um papel decisivo.

Apesar dos progressos na rede pública — que conta atualmente com mais de 11.000 pontos de carregamento, dos quais cerca de 38% são rápidos ou ultrarrápidos —, a verdade é que, quando os condutores saem das cidades e ativam o ‘modo férias’, continuam, em muitos casos, a enfrentar um desafio estrutural: a escassez de soluções de carregamento nos locais onde passam mais tempo.

Nos portais de reservas, como o Airbnb, o filtro “carregador para veículos elétricos” ainda devolve resultados escassos — mesmo em regiões com milhares de opções de alojamento. A situação é ainda mais visível em zonas de natureza ou turismo interior, onde a mobilidade elétrica continua a ser um desafio logístico.

Resultado? A tão falada ansiedade de autonomia pode reaparecer no pior momento possível: quando se quer simplesmente relaxar. Muitos condutores acabam por planear as férias com base nos carregadores, não nos locais que realmente gostariam de explorar.

Mas onde há uma lacuna, há também uma enorme oportunidade. A escassez de pontos de carregamento em unidades turísticas não é apenas um problema — é uma vantagem competitiva à espera de ser ativada.

A (ainda) falta de carregamento nos espaços turísticos representa uma verdadeira mais-valia para o setor da hotelaria e do turismo sustentável. Segundo o Sustainable Travel Report 2024 da Booking.com, 83% dos viajantes consideram o turismo sustentável importante nas suas escolhas, e 45% afirmam que a presença de uma etiqueta sustentável num alojamento os torna mais propensos a reservar — um sinal claro de que os viajantes valorizam opções de estadia que promovam práticas ecológicas, incluindo soluções de mobilidade limpa.

O que se pode fazer, então? Desde logo, um esforço coordenado. As entidades públicas, nomeadamente as autarquias e as regiões de turismo, podem criar programas de incentivo para a instalação de carregadores em alojamentos turísticos, sobretudo fora dos grandes centros urbanos. Já o setor privado deve encarar o carregamento não como um custo adicional, mas como uma vantagem competitiva e um serviço essencial .

É verdade que a mobilidade elétrica em Portugal está a avançar a um ritmo impressionante – e nós somos orgulhosamente um exemplo a seguir pelos restantes países europeus. Mas se quisermos que esse avanço se traduza num benefício real para o setor do turismo, é urgente integrar o carregamento na experiência de férias. Porque o futuro da mobilidade não se faz apenas nas estradas, mas também nos destinos onde queremos ficar.

  • Daniela Simões
  • CEO da miio

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