Portugal, Portugal do que é que estás à espera…

  • David Tomé
  • 21 Setembro 2021

Em paralelo com o uso do online para procura de solução mais eficientes e eficazes, o fomento da participação cívica deve passar pelo 4º setor.

“A nossa diferenciação resultará de uma aceleração da transformação para um modelo de negócio digital e sustentável.”

Ouvi esta frase na apresentação de resultados de uma empresa internacional de grande sucesso e nela se sinaliza um caminho de progressão, quase mesmo de revolução, de modo a ir ao encontro das expectativas de todos aqueles que com ela se relacionam.

O mesmo não é verdade na forma de estar da nossa classe política. Entram-nos pela casa adentro com a mesma estratégia pensada nos anos 70. Teimam em apresentar nos vários programas eleitorais uma perspetiva de tudo damos e tudo conta para atrair mais um voto.

Entendo que o pragmatismo poderia ser alcançado com uma estandardização dos programas eleitorais. Uma padronização, nomeadamente quanto à obrigação de preencher um conjunto de requisitos técnicos, permitiria uma maior comparabilidade, logo uma tomada de decisão mais consciente por parte dos eleitores. Aliás, essa padronização poderia ser construída em torno dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas, cujos progressos nacionais são já monitorizados pelo INE, os quais são verdadeiras prioridades.

Mas note-se que os novos modelos padronizados deveriam também ser aplicados ao apuramento dos efeitos das promessas implementadas. O cálculo do impacto deveria estar assente em indicadores chaves e de acordo com o princípio da adicionalidade, de modo a que os governantes não se apropriassem de resultados positivos que a eles não pertencessem ou que fossem responsabilizados por algo que não provocaram.

Infelizmente, o apuramento do impacto das decisões políticas é coisa que não se faz. Todos num espírito de confiança, lá vamos andando a fazer de conta que está tudo bem, a olhar para o lado, com o país a endividar-se e a perder competitividade. A perder está também a nossa democracia participativa, já que iremos de certeza manter a abstenção de 2017, que foi de 45%.

Tal como as organizações privadas aproveitam a transição digital para verdadeiramente se reinventarem, perceberem e responderem às necessidades de todas as partes interessadas, que tal as instituições políticas fazerem o mesmo? Como? Alterando o processo participativo, que não tem de passar somente pelo voto ou por pertencer a um partido. Faz sentido continuar a eleger um conjunto tão alargado de pessoas, adotar a regionalização ou contratar burocratas, num contexto em que a participação pública pode ter uma voz própria, mais ativa, imediata e tremendamente mais capaz?

Vejamos os exemplos lá de fora. Em conjunto com sete organizações da sociedade civil, o governo alemão criou uma iniciativa designada de #WirVsVirus. Em 48 horas e através de uma participação de 28 000 cidadãos, conseguiram encontrar um conjunto de soluções para problemas agudizados pela pandemia. Ou seja, online mais inovação social, resultou em criação de valor para todos, a uma escala e riqueza de ideias, que de outra forma não seria conseguida.

Em paralelo com o uso do online para procura de solução mais eficientes e eficazes, o fomento da participação cívica deve passar pelo 4º setor. Nesse sentido, a Portugal Inovação Social tem sido uma luz ao fundo do túnel, na medida em que tem procurado dinamizar o ecossistema dos empreendedores sociais. Com o seu lema “Pensar diferente” tem conseguido reunir uma conjunto de pessoas inconformistas que se envolvem e fazer gerar as mudanças no sistema.

Estes empreendedores de impacto, cujo propósito é resolver problemas sociais e/ou ambientais, podem e devem ser chamados a encontrar soluções. As organizações destes senhores(as), não se enquadram no setor estatal, privado ou mesmo social, mas sim numa 4ª dimensão. Recorrendo a modelos de negócio inovadores, procuram principalmente eliminar as causas dos problemas, sem nunca se esquecerem da sustentabilidade financeira.

Falamos de iniciativas de impacto como a EKUI (1), a COLORADD (2), a ZOURI (3) ou o SPEAK (4), entre centenas que vão aparecendo pelo mundo fora. A IES-Social Business School (5), a AMPLIFICA (6) e a IRIS (7) ou a Acredita Portugal são exemplo de organizações da sociedade civil que têm atraído empreendedores internacionais para o ecossistema, tornando-o ainda mais vivo e rico.

No dia 7 de outubro, Lisboa terá o gosto de receber o torneiro internacional (8) dinamizado pelo BEI, que irá premiar e chamar a atenção para todo um conjunto de novas start-ups de impacto europeias.

Nota: Este artigo foi inspirado nas palavras de Patti Smith,” … People have the power…” e do nosso Jorge Palma.

1 https://ekui.pt/
2 http://www.coloradd.net/
3 http://www.coloradd.net/
4 https://www.speak.social/en/
5 https://www.ies-sbs.org/pt/
6 http://portal.amp.pt/pt/2/temab/143
7 https://iris-social.org/
8 https://institute.eib.org/social-innovation-tournament-2/

  • David Tomé

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