Qual o problema dos gestores em liderar com vulnerabilidade?
Talvez um dia liderar com empatia vire moda, e nenhum gestor ache que liderar com vulnerabilidade é uma fraqueza
Liderar com vulnerabilidade” – este parece o título de um daqueles livros que aspirantes a cargos de topo comprariam para ler durante uma das suas viagens (como se ainda muitos lessem livros, num mundo em que o que mais lemos, são descrições de fotos no Instagram e comentários nas redes sociais). Na verdade, este poderia até ser o título de um livro sobre como ser um verdadeiro “ninja” da gestão, mas é apenas um elemento que a maioria dos gestores parece ignorar.
Os modelos de gestão em que esperávamos que gestores e CEO’s se comportassem como autênticos super-heróis – prontos a responder a todas as questões e resolver todos os problemas das suas empresas – parecem não mais servir. Na verdade, acho que nunca serviram.
Este modelo de liderança de super-heróis que em vez de vestirem capa, vestem um fato, pode até ser inspirador durante algum tempo ou se observado à distância, mas tem pouco de equilibrado ou estável no longo prazo. É óbvio que nenhum gestor (independentemente da indústria), pode ignorar fatores de sucesso como a produtividade ou capacidade de gerar lucro no final do dia, mas a maioria parece não ter capacidade de dar um passo atrás e refletir sobre determinados aspetos (porque como em tudo na vida, as coisas nem sempre correm bem nas empresas). Passam horas em reuniões a discutir a rotatividade dos funcionários e o porquê de não conseguirem investir em capital humano, e não se perguntam qual será o problema: será que as vendas têm indicadores de crescimento negativos? (sem vendas, não há lucro, sem lucro, como podem investir nas pessoas que garantem o sucesso das organizações no mercado?).
Estes até parecem passos simples, que aumentariam a tão desejada produtividade, mas muitos gestores (incluindo alguns gestores portugueses), parecem preocupar-se mais em manter os seus funcionários horas extra a desenvolver tarefas de pouco valor acrescentado, ou a construir a sua “receita mágica” para a liderança e crescimento do seu ordenado no final do mês. Certamente, a cultura de cada empresa desempenha um papel fulcral (e não seria justo não referir o quão extraordinária é a cultura de algumas empresas em Portugal), mas se adicionássemos um pouco de vulnerabilidade à história, acho que o resultado final teria um balanço mais positivo.
Porquê vulnerabilidade? É uma questão interessante que tenho discutido com alguns gestores de equipas portuguesas com quem tive oportunidade de trabalhar. Eu própria, nunca tinha percebido o quão essencial liderar com vulnerabilidade poderia ser, até trabalhar com clientes com o dobro dos meus anos de experiência e dar aulas na universidade (onde percebi que temos sempre muito mais a aprender do que a ensinar).
Falo sobre liderar com vulnerabilidade e não sobre vulnerabilidade na liderança. O ideal de um Steve Jobs em todas as empresas (que acredita nos seus produtos, mas parece subestimar os que os desenvolvem), sem incerteza ou exposição emocional, não mais serve um mundo em que, para sobreviver no mercado, precisamos de atrair a humildade e o talento certos.
Estas gerações que criticamos (os millennials e a geração Z) são o futuro das nossas pequenas e médias empresas, das instituições não governamentais, da política e das nações. Crescemos a sonhar com o progresso tecnológico, num mundo que parece estar a estagnar em tantos aspetos como a economia, o ambiente, a paz ou a saúde mental. Quantas vezes ouvimos no mundo dos negócios que para liderar, temos de ter um talento nato, ser fortes (talvez até agressivos), uma autêntica rocha (inabaláveis na adversidade). Não acredito. Acho que temos de ser corajosos para liderar- isso sim! Porque gerir empresas significa gerir pessoas, e para o fazermos com sucesso, precisamos de ser emocionalmente inteligentes e ágeis, para nos adaptarmos e servirmos a organização (e não o nosso ego).
Todas estas mudanças pedem líderes mais irreverentes: com disponibilidade para estarem presentes no momento, com capacidade de tomar decisões difíceis sobre como manter grandes marcas de pé num mundo mais desregulado e global, com uma mente ‘íntegra e com consciência do mundo que os rodeia.
Talvez um dia, no mundo dos negócios, se comece a falar sobre líderes que lideraram com vulnerabilidade. Sobre líderes que tinham o seu foco nas pessoas que trabalhavam nas suas organizações (porque sabiam que estas, tinham o seu foco nos clientes). Talvez um dia liderar com empatia vire moda, e nenhum gestor ache que liderar com vulnerabilidade é uma fraqueza. Quando esse dia chegar, poderemos celebrar muitas mais empresas em Portugal com culturas de progresso e potencial de internacionalização no longo prazo. Quando esse dia chegar, todos estes gestores portugueses que lideram (com humanidade e visão), equipas nas mais diversas indústrias, serão aqueles que mais nos inspiram.
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