Que não me doa a mim o Canelas

O que se passa com os nossos órgãos de comunicação social e com os nossos políticos? O que se passa com o nosso povo?

O terrorismo é cada vez mais uma realidade do nosso quotidiano europeu e também um pouco por todo o mundo. Enquanto escrevo esta crónica leio a notícia de mais um atentado — São Petersburgo foi palco de mais um sangrento ataque, desta feita no metro, que até ao momento causou 10 mortos e 47 feridos. Pessoas como nós, que tiveram o azar de estar no sítio errado à hora errada.

O Brexit está em marcha e com o seu apogeu sobe também a tensão diplomática entre Moncloa e Downing Street a propósito da questão de Gibraltar. Hoje mesmo, Boris Johnson trocou alguns galhardetes sobre o tema com o seu homólogo espanhol Alfonso Dastis.

Ainda no Reino Unido, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon aperta o cerco a Theresa May e o segundo referendo à independência pode mesmo vir a tornar-se realidade, sendo que o resultado, depois do Brexit, é absolutamente imprevisível.

Sempre que um movimento separatista na Europa ganha força, ganham automaticamente expressão movimentos congéneres de outros países. Voltam então os ecos da Catalunha e do País Basco em Espanha e volta à ribalta a questão da unidade belga.

Ainda a Europa acabou de suspirar de alívio com a derrota de Geert Wilders na Holanda e os alarmes da ameaça da extrema-direita voltam a soar, desta vez em Paris. Hoje mesmo, uma sondagem do Paris Match dá Marine Le Pen à frente da corrida eleitoral com 26% das intenções de voto, enquanto Emmanuel Macron aparece com 25,5%. Num cenário mais do que provável de segunda volta, Macron venceria com 60% dos votos — no entanto, em política nunca podemos ter certezas. Esperemos para ver.

Do outro lado do mundo, Donald Trump continua a sua espiral de estupidez. Se as atitudes de Washington quase sempre foram mais ou menos previsíveis, são agora mais do que imprevisíveis.

Enquanto isto, Portugal vive tempos estranhos. Hoje mesmo, foi divulgado que a dívida pública subiu para um máximo de cinco meses. A nossa dívida já vale 130,4% do nosso PIB. Perante este cenário, o governo socialista mantém-se refém da extrema-esquerda e portanto, não estão a ser feitas nenhumas reformas estruturais para a diminuição da mesma.

Este é o retrato que importa, sobre o que realmente importa em Portugal e no mundo. Era isto que devíamos ter lido nos jornais e nas redes sociais, visto nas televisões e ouvido nas conversas de café durante o dia. Mas não — o Portugal de hoje, ao dia de hoje (desculpem o pleonasmo), parou para falar: do Canelas!

Isso mesmo: um jogador de um clube de Gaia, que atua num campeonato distrital do Porto, mandou uma joelhada num árbitro. Foi este o facto que parou o país e que motivou, inclusive, o ilustre Secretário de Estado da Juventude e do Desporto a ir ao telejornal da noite na SIC Notícias prestar esclarecimentos.

Sou só eu que acho isto tudo uma palermice? O que se passa com os nossos órgãos de comunicação social e com os nossos políticos? O que se passa com o nosso povo?

Que não me doa a mim o Canelas!

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