Seguros de Carbono: O Elo que Faltava

  • Nuno Oliveira Matos
  • 23 Março 2025

Nuno Oliveira Matos considera os seguros um decisivo fator de credibilidade para os mercados de carbono, e para reduzir riscos de greenwashing e projetos sem garantia de reduções de emissões.

A transição para uma economia de baixo carbono não é mais uma escolha, mas uma urgência global. Neste contexto, os mercados de carbono surgem como ferramentas essenciais para direcionar investimentos e compensar emissões. No entanto, a escalabilidade desses mercados depende de um pilar fundamental: credibilidade. E é aqui que o setor segurador tem uma oportunidade única e uma responsabilidade crítica para moldar o futuro da sustentabilidade.

Os mercados de carbono enfrentam desafios históricos: falta de padronização, riscos de greenwashing, projetos sem garantia de reduções reais de emissões e falhas na verificação. Sem confiança, investidores, empresas e governos hesitam em alocar recursos. A credibilidade só será alcançada com regulamentação robusta, transparência e mecanismos de auditoria independentes.

O setor segurador tem expertise único em quantificar e mitigar riscos. No contexto dos créditos de carbono, essa habilidade pode ser transformadora, assentando em:

  1. Garantia de Qualidade: Os produtos de seguros podem cobrir riscos de projetos de carbono que não entregarem as reduções prometidas, protegendo investidores e aumentando a atratividade de iniciativas sustentáveis.
  2. Certificação e Verificação: Parcerias com entidades certificadoras para desenvolver padrões rigorosos podem reduzir assimetrias de informação e assegurar que cada crédito represente uma tonelada real de CO₂ evitada.
  3. Tecnologia e Transparência: Soluções como blockchain para rastrear créditos e contratos inteligentes podem minimizar fraudes. As empresas de seguros podem oferecer produtos vinculados a essas tecnologias, garantindo integridade aos clientes.

A má reputação de alguns mercados voluntários de carbono já causou danos. Assim, o seguro não apenas protege, como também incentiva boas práticas.

A regulamentação está a tornar-se mais rígida. A União Europeia, por exemplo, avançou com o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM). Para as empresas de seguros, isso significa dois movimentos simultâneos, a saber:

  1. Adaptação: Entender as novas exigências legais para evitar riscos em carteiras vinculadas a setores intensivos em carbono.
  2. Inovação: Desenvolver produtos específicos, como seguros para projetos de remoção de carbono (v.g., captura direta no ar) ou garantias para transações de créditos regulados.

A credibilidade dos mercados de carbono não é um problema alheio ao setor segurador. É, na verdade, uma oportunidade estratégica. Ao atuar como fiador da integridade ambiental, o setor segurador pode-se posicionar como líder em soluções sustentáveis, atraindo clientes que dão prioridade ao ESG, ao mesmo tempo que contribui para um mercado mais justo e eficaz.

A crise climática exige coragem para reinventar os modelos de negócio. Cabe às empresas de seguros não apenas acompanhar essa mudança, mas impulsioná-la, transformando risco em resiliência e discurso em ação!

  • Nuno Oliveira Matos
  • Sócio da Carrilho & Associados, SROC

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