Seguros e solidariedade escrevem-se com S

  • Paula Rios
  • 22 Abril 2020

Paula Rios, Senior Advisor to MDS Group CEO e Editor in Chief da revista FULLCOVER, considera que o setor segurador aproveitou o mau momento provocado pela pandemia para afirmar as suas virtudes.

No início, ignorámos esta pandemia. Era algo que se passava muito longe e até a Organização Mundial de Saúde (OMS) dizia que não havia motivos para alarme… Mas, de repente, todo o nosso mundo foi violentamente abalado e, de um dia para o outro, foi a corrida ao papel higiénico nos supermercados e a ordem para ficarmos em casa. Passámos a sair com medo, desconfiados, sempre à procura dum inimigo invisível, a lavar as mãos até ficarem em ferida, a esperar em filas de acesso às farmácias, supermercados… como costumávamos ver nos filmes na 2ª Guerra Mundial. E, ainda que não escasseiem bens, o acesso é “racionado”.

Agora, mais calmos ou quiçá mais resignados, há que olhar em volta e analisar a reação dos diversos setores, nomeadamente o dos seguros cuja manutenção de funcionamento foi considerada essencial pelo diploma que decretou o Estado de Emergência. E outra coisa não faria sentido.

A pandemia não era um risco desconhecido – e muito menos inesperado – pois já constava há bastante tempo do Top de riscos mais prováveis nas previsões anuais de várias entidades especialistas, como o World Economic Forum. No entanto, preocupados com outros mais prementes, ou talvez pelo facto de este novo vírus se apresentar com algumas características únicas, apanhou o setor (e o mundo!) algo desprevenido.

Capacidade de reacção

No entanto, a todos os níveis, a reação foi célere e, até, em alguns casos, inesperada.

Desde logo, os principais players (seguradoras, corretores) colocaram as suas equipas a trabalhar desde casa em tempo recorde, assegurando o “business as usual”: o dia-a-dia dos contratos, a gestão de sinistros, de alterações, pedidos de cotação, etc.

A supervisão, quer europeia quer a nível nacional (ASF), enviou diretrizes ao setor no sentido de manutenção da solvência, mas também de uma atitude de maior flexibilidade para com os tomadores de seguro e segurados, nomeadamente no que concerne aos pagamentos, para ajudar a proteger empresas e pessoas.

Entretanto, surgiu a criatividade, a procura de soluções.

Novas soluções

A nível mundial, propõe-se a criação de uma solução de pool, que associe os governos ao setor segurador e ressegurador para criar soluções de seguros para pandemias. Não para esta, mas para futuros casos que, inevitavelmente, irão surgir, com consequências imprevisíveis para as pessoas e economias, como estamos a constatar. Esta é uma iniciativa que está a ser liderada pelas principais associações de gestão de risco mundiais, desde o RIMS nos Estados Unidos (EUA) à FERMA na Europa e às associações nacionais. Todavia, temos assistido a alguns movimentos extremamente perigosos, como é o caso dos EUA considerarem a retroatividade de coberturas, algo que não surpreende num sistema jurídico como o que lhes conhecemos (certamente ninguém esqueceu a história do gato no micro-ondas, que fez furor a propósito da RC Produtos nos anos 80 e 90).

Em Portugal, como é sobejamente conhecido, as apólices de Seguro de Saúde excluem do seu âmbito situações de epidemia/pandemia declarada, pelo que claramente não abrangiam quaisquer despesas resultantes da pandemia. No entanto, muito rapidamente várias seguradoras anunciaram que iriam suportar o custo dos testes para detetar a infeção por Covid-19, dando assim um passo mais além daquilo que seriam as suas estritas obrigações.

Logo a seguir, o Grupo Generali/Tranquilidade lançou um produto que garante uma compensação para fazer face às despesas incorridas no caso de hospitalização por Covid-19. Trata-se de um subsídio de € 100/dia que garante 10 dias de internamento, com um capital de € 3.000 em caso de necessidade de cuidados intensivos. Também produtos já existentes, nomeadamente de Proteção ao Rendimento no caso de Acidentes Pessoais, estão a ser direcionados para os Profissionais Liberais, garantindo o pagamento de um subsídio diário em caso de infeção com Covid-19.

Ir mais além

Mas eu diria que a maior demonstração de solidariedade e capacidade do setor segurador chegou com a afirmação do Grupo Segurador Fidelidade/Multicare que, derrogando expressamente a exclusão relativa às situações de pandemia, irá suportar os custos de internamento (incluindo em cuidados intensivos) dos seus Clientes em hospitais privados. Este é um relevante contributo para o combate da pandemia no país e constitui um sinal fortíssimo para o público em geral, pois é revelador de que o setor segurador, afinal, está mesmo lá nos momentos mais difíceis – até quando não teria de o fazer. Mais: quando ninguém esperaria que o fizesse.

Já num primeiro momento, a Multicare tinha disponibilizado uma linha para os seus clientes, em tudo semelhante à do SNS e disponível 24/7, para apoiá-los em questões relacionadas com a pandemia. E vai agora também disponibilizar, gratuitamente, uma linha de apoio psicológico, que as apólices de Seguro de Saúde, em geral, não incluem entre as suas garantias.

Assim, fica clara, claríssima, a resposta do setor segurador a esta terrível crise que se abateu sobre nós. Certamente haverá outros desenvolvimentos à medida que o tempo for passando. Mas face aos que referi, não pode restar qualquer dúvida de que o setor segurador está a responder de forma extraordinária a este desafio gigantesco. Para além do expectável! Todas estas iniciativas não só procuram encontrar novas soluções, mas sobretudo apoiam os seus clientes quando eles mais precisam, indo muito para além das coberturas da apólice. Ou seja, demonstram que a palavra Seguros, hoje, mais do que nunca, significa Solidariedade.

  • Paula Rios
  • Senior Advisor to MDS Group CEO, FULLCOVER Editor in Chief

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