“Streamflation” volta à Netflix

Começo com uma confissão: cancelei a minha conta Netflix no início do ano, quando a plataforma lançou em Portugal uma campanha contra a partilha de passwords. Entendi a decisão como um aumento de preços encapotado, que a empresa está no direito de fazer, e eu no direito de recusar. Não senti falta desde então.

Julguei que a Netflix seria penalizada pelo mercado, mas os dados parecem mostrar que não. Segundo as contas publicados esta quarta-feira, a Netflix conquistou nove milhões de subscrições líquidas no terceiro trimestre, no que representa um crescimento de 11% face ao mesmo período do ano passado. Tem agora 247 milhões de assinantes.

Vejo que menosprezei o pricing power da plataforma. E a prova disso é que vêm aí novos aumentos: nos EUA, Reino Unido e França, os preços deste serviço de streaming vão subir com efeito imediato, entre dois a três dólares por mês no caso do mercado norte-americano. Como diria Fernando Medina, “são só dois euros por mês”.

Se sente que está a pagar cada vez mais para ver filmes e séries em casa, saiba que os analistas até já arranjaram uma palavra para descrever o fenómeno: streamflation (de streaming + inflation).

“A streamflation abateu-se sobre nós, e os consumidores devem esperar serem afetados por aumentos de preços e limites à partilha de passwords, e aliciados com planos assentes em publicidade”, afirmou ao Financial Times o analista da KPMG Scott Purdy.

Ir ao cinema pode ser uma alternativa divertida, mas não é mais barata. No caso dos Cinemas Nos, a empresa estava a tirar uma receita média de 5,9 euros por bilhete no final do primeiro semestre. E, se não tiver direito a promoções, pode acabar a pagar ainda mais.

Para já, as subidas de preços da Netflix não abrangem Portugal. Mas não será uma surpresa se o mercado nacional for afetado por uma próxima vaga de aumentos. É caso para dizer: eu já vi este filme.