Sustentabilidade implica escolhas: há liberdade no ESG?
Neste mundo cada vez mais regulado, existe liberdade no cumprimento dessas normas? SIM! E exercer a liberdade, é intrinsecamente pensar nas pessoas e nas opções que estas podem ou não tomar.
Hoje somos chamados a refletir sobre a liberdade. Transpondo para o meio organizacional, em contexto ESG, podemos olhar em dois prismas: na liberdade das empresas na implementação da regulação e a liberdade das pessoas na participação das iniciativas que visam esse cumprimento.
A definição de sustentabilidade mais consensual é a capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. O ESG nasce do reconhecimento do papel das empresas para a sustentabilidade, e procura sistematizar e objetivar alguns critérios fundamentais do “E”, “S” e “G”, e daí segue-se a criação de diversos referenciais de reporting tão amplamente conhecidos como o GRI e ainda a crescente regulação sobretudo a nível europeu.
Mas neste mundo cada vez mais regulado, existe liberdade no cumprimento dessas normas? SIM! E exercer a liberdade, é intrinsecamente pensar nas pessoas e nas opções que estas podem ou não tomar.
O S está diretamente relacionado com as pessoas: direitos humanos, saúde e bem-estar, investimento na comunidade, política de diversão e inclusão, entre outros. Na área social do ESG a liberdade é essencial para a adaptação das estratégias à realidade organizacional, à área de negócio e, principalmente, às pessoas.
Programas de responsabilidade social ou estratégias de recrutamento devem ser construídos com base na estratégia e alinhamento com o negócio da empresa, mas a sua implementação deve observar princípios de liberdade e transparência. Para tal, é fundamental garantir: uma análise prévia do contexto; avaliação das necessidades de cada indivíduo ou população-alvo; e reflexão da pertinência dos projetos a implementar face ao grau de maturidade da empresa no tema, sobretudo com a nova diretiva europeia, nomeadamente o conceito da dupla materialidade.
Um programa de voluntariado corporativo, deve fomentar a participação dos colaboradores em voluntariado, promovendo o alinhamento interno daquela que seja a missão social da empresa. No entanto, a coesão da chefia, a obrigação de participação, ou ainda a organização de atividades que coincidam com o tempo de descanso pessoal devem ser práticas a evitar. Neste caso, a liberdade do indivíduo estaria condicionada pelo todo.
Os programas de saúde e bem-estar devem estar ancorados nas necessidades efetivas das pessoas, adaptados ao contexto e aos fatores de risco emergentes nas equipas. Na construção destes planos é importante ter em consideração a liberdade individual na adesão, esclarecer os objetivos para uma escolha informada e garantir a segurança das pessoas na participação através da confidencialidade e anonimato, quando aplicável. Pelo contrário, criar iniciativas pontuais cujo principal propósito seja promover uma determinada imagem da empresa pode ter um impacto negativo.
Quando as organizações tomam decisões relativamente ao “S” é fundamental que sejam baseadas em dados, recolhidos com base científica, interpretados face ao contexto e que respondam às necessidades identificadas. Mais ainda, que meçam com rigor o impacto dessas decisões para que consigam adaptar caso não estejam a responder às necessidades reais. Mas aqui reside o verdadeiro desafio: em 2021, o Global ESG Survey publicado pelo BNP Paribas, indicava que para 51% dos investidores, o “S” é o mais difícil de analisar e incluir nas estratégias de investimento – os dados são difíceis de obter e há uma ausência de standard nas métricas sociais.
Naturalmente, os tópicos ESG, e sobretudo os que se referem às pessoas, têm o potencial de melhorar a reputação institucional de uma empresa, aumentando a atratividade a futuros candidatos. No entanto, as empresas devem envidar esforços para que o seu employee value proposition não seja efémero. No final de contas, a liberdade para pensar, ter uma análise crítica e optar pelo melhor caminho na gestão dos colaboradores e demais stakeholders é fundamental e deve ser preservada.
Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres, de gerações diferentes, que detêm expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com
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