Sustentabilidade nas organizações: notas sobre o E e o G

  • Ana Rita Silva e João Flórido
  • 14:05

Estamos numa fase em que já se encara a sustentabilidade como parte da cultura da empresa, mas uma questão continua a persistir: por onde começar a preocupação ambiental?

O E da protecção ambiental nas Empresas

A redução da pegada de carbono é uma preocupação cada vez mais relevante nas empresas, independentemente do seu tamanho ou área de negócio. Estamos numa fase em que já se encara a sustentabilidade como parte da cultura da empresa, mas uma questão continua a persistir: por onde começar a preocupação ambiental?

Várias iniciativas podem ser tomadas, algumas simples e sem custos, outras mais complexas e que requerem algum investimento. Estas devem ser estudadas de acordo com a área de atuação de cada empresa, assim como da sua localização. Vejamos alguns exemplos.

Considerando a reciclagem, numa multinacional com funcionários de distintas partes do Mundo, temos que ter em atenção que as cores dos contentores variam de país para país, por isso é fundamental identificar bem os contentores, não bastando a cor, para uma eficaz separação de resíduos.

Numa empresa com cantina e espaço exterior, uma excelente iniciativa pode ser criar uma horta comunitária onde se podem utilizar os resíduos como composto. Se a essa medida se juntar o aproveitamento de água da chuva para a rega obtém-se uma receita perfeita. Essa mesma água pode também ser utilizada nas casas de banho, poupando sempre o ambiente (e a fatura) a cada utilização.

As soluções mais robustas requerem investimentos mais significativos, mas que, a longo prazo, permitem um retorno económico positivo.

Se a sua empresa está localizada mais a Sul e tem uma boa exposição solar, os painéis solares são uma destas soluções. Em média o retorno do investimento nestes painéis é de 4 anos com uma poupança de até 70% de consumo de energia da rede elétrica. Dependendo da superfície e da localização poderá até produzir energia que pode devolver à rede para ser usada pela sua comunidade.

Em zonas mais a Norte, com temperaturas mais baixas, uma boa opção pode ser o “free cooling”, técnica de arrefecimento que utiliza o ar exterior para dissipar o calor gerado num determinado local interior. Esta solução é muito utilizada em data centers, podendo reduzir até 50% do consumo energético (num local onde a refrigeração do espaço é cerca de 40% do consumo total de energia).

Contudo, nada é possível sem o apoio da gestão de topo.

O factor G no compromisso da Gestão de Topo

O modelo de Governação da empresa é crucial para o sucesso da implementação de iniciativas nesta área. Como conseguir o compromisso (e o investimento) da gestão de topo para estas atividades?

Uma fórmula directa e imediata passa por ligar parte dos incentivos dos gestores a métricas de ESG, como faz por exemplo a Sony há vários anos.

Outra, mais lenta mas mais eficaz a longo prazo, é sensibilizar os gestores de topo para as vantagens dessas iniciativas, quer na proteção do ambiente, com ganhos sociais e culturais para a empresa e para os seus trabalhadores, quer na economia, provando como muitas destas práticas têm um impacto económico positivo em termos de custo-benefício.

Uma forte ajuda a esta mudança é a criação da posição de CSO (Chief Sustainability Officer). Até há pouco tempo este cargo era principalmente de transmissão de mensagens e criação de narrativas sobre as iniciativas de sustentabilidade, apenas com o intuito de criar uma imagem reputacional positiva da empresa. Atualmente no entanto, muitos destes profissionais já estão a trabalhar na verdadeira integração dessas iniciativas na estratégia corporativa da organização, única forma delas terem sucesso e impacto a longo prazo.

Um comentário habitual em relação a estas práticas é que só são possíveis em grandes organizações, o que não é verdade. O sistema de governo de PMEs também pode ser adaptado para responder a esta mega tendência. Um funcionário com boa reputação na organização e atitude positiva pode ser nomeado Responsável de Sustentabilidade adicionalmente às suas funções, o que pode até funcionar como um estímulo, mas sempre com o compromisso de apoio da gestão de topo.

Um interessante artigo da McKinsey Quarterly lista 5 formas de criação de valor numa empresa, através de uma verdadeira política de ESG:

  • Incremento do volume de negócio (possibilidade de entrar em novos mercados e expandir a presença nos actuais pela visão positiva que essa política gera em muitos interlocutores);
  • Redução de custos (ex.: iniciativas de optimização de recursos);
  • Redução de intervenções legais e regulatórias (empresas com ações com visibilidade nesta área são menos escrutinadas pelos governos);
  • Aumento da produtividade dos trabalhadores (valorização dessas iniciativas, criando impacto positivo na cultura da empresa);
  • Optimização dos investimentos e dos ativos (retorno proporcionado por essas actividades);

E, a sua empresa, de que está à espera?

(Nota: esta é a primeira coluna do Women in ESG Portugal para o ECO/Capital Verde, e por meio deste canal, pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detêm expertise técnica na área. Para mais informações, acesse o site: www.winesgpt.com)

  • Ana Rita Silva
  • Office manager na Natixis
  • João Flórido
  • Director of Business Development EMEA em Norma Group e professor de Estratégia na Católica CLSBE

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