Techies precisam-se!

  • Maria João Lopes
  • 9 Junho 2021

É fulcral que nos anos de escolaridade básica os jovens sejam expostos a currículos disciplinares variados e interessantes que os levem na direção da descoberta e do conhecimento sem os assustar.

A temática da representatividade feminina em áreas tecnológicas é uma questão de um impacto profundo e que devemos seguir com atenção. Se consultarmos o Global Gender Gap Report 2021, a proporção de mulheres que trabalha no setor das Tecnologias da Informação em posições mais técnicas situa-se ainda abaixo dos 25%, com uma ligeira melhoria quando consideramos áreas relacionadas com a Ciência de Dados. Tendo por base estes dados, é muito claro que existe ainda um longo caminho a percorrer no sentido de atingirmos a igualdade de género nestas áreas.

Para alguém que ainda não conhece esta área, este pode ser um admirável mundo novo. As possibilidades são infinitas e talvez seja essa uma das características mais curiosas e interessantes da área. O software permite criar um produto do zero, sem haver a necessidade de se fazer um grande investimento inicial. Só é necessário um computador, Internet e uma grande vontade de aprender. Talvez por esta razão é que iniciativas como bootcamps de código se têm revelado tão bem aceites pela comunidade. O Tech Careers Report 2021, disponibilizado pela Landing.Jobs, revela que 4.82% dos participantes ingressaram nesta área via este tipo de formação. Uma excelente aposta que permite também a mudança de carreira que tantos profissionais de outras áreas gostariam um dia de fazer. Existem inclusivamente bootcamps direcionados para raparigas e mulheres que vale mesmo a pena explorar e conhecer.

Se endereçarmos a raiz do problema da representatividade, penso que encontramos sempre a mesma variável comum: a sociedade. Este é o tipo de mudança de mentalidade que temos de fomentar e cultivar desde muito cedo. Precisamos de quebrar certos paradigmas como, por exemplo, “essa área é para raparigas” ou “essa profissão é para homens”. É fulcral que nos anos de escolaridade básica os jovens sejam expostos a currículos disciplinares variados e interessantes que os levem na direção da descoberta e do conhecimento sem os assustar pelo caminho (“Matemática? Isso é demasiado difícil!”). O grande objetivo subentendido desta fase de desenvolvimento deve ser que tenham a oportunidade de descobrir que áreas lhes despertam maior fascínio e interesse, sejam elas quais forem.

Uma abordagem que me parece francamente vencedora é a de facilitar o contacto dos estudantes com profissionais das mais diversas áreas e das mais variadas faixas etárias. Esta aproximação e este contacto com pessoas que fizeram o caminho que eles estão a começar a trilhar permite estabelecer exemplos muito claros do que pode ser possível em termos de carreira. Há muitas mulheres a trabalharem na área tecnológica cujo trabalho simplesmente não é conhecido ou divulgado, mas que têm um imenso impacto nas suas organizações. Por estas razões, iniciativas como os Portuguese Women in Tech Awards são tão importantes. Agora sim, temos mulheres que representam esta área de uma forma concreta, já não falamos apenas de números ou de percentagens. A inspiração é sempre bem-vinda e basta ter influenciado positivamente uma única aspirante a techie para já ter valido bem a pena.

Esta inclusão e este suporte que devemos proporcionar a outras colegas da área têm também uma vertente muito forte na nossa atividade profissional. Há muito por onde contribuir. Atividades como a mentoria são extremamente benéficas para mentor e mentorado. Na minha experiência, o que acaba por acontecer em muitas equipas é que no início há apenas uma representante feminina. Depois essa pessoa acaba por estabelecer involuntariamente um exemplo de que essa posição é acessível a outras mulheres, e assim começa um ciclo que muitas vezes leva a que nessa equipa em particular se caminhe cada vez mais no sentido da igualdade. Isto cria equipas mais fortes, mais coesas e diversas que conseguem apresentar resultados soberbos.

Por isso: o mercado pede a nossa participação, há falta de talento especializado, e cabe-nos também a nós sermos as agentes desta mudança. Como? Trilhando o caminho, criando o nosso espaço e fazendo a diferença!

  • Maria João Lopes
  • Software Engineer for Industry 4.0 Applications na Bosch Termotecnologia, Aveiro

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