Galp: Da bomba de gasolina à gigante petrolífera

  • Rita Atalaia
  • 24 Outubro 2016

No início era apenas o local onde íamos abastecer o carro. Agora é uma gigante petrolífera que vale mais de 10 mil milhões de euros. Faz hoje 10 anos que a Galp Energia entrou na bolsa.

Tudo começou nos 5,81 euros. Foi este o valor por ação definido na oferta pública de venda (OPV) da Galp Energia GALP 0,00% , há 10 anos. Na altura, a procura superou largamente a oferta, reflexo do entusiasmo com uma nova cotada. Mas os investidores ainda não sabiam que o sítio onde abasteciam os seus automóveis se tornaria numa gigante do petróleo, com exploração em vários cantos do mundo mas um grande foco no Brasil. Agora, uma década depois, é o preço do barril que comanda os títulos, mas apesar dos preços baixos, o retorno mantém-se elevado. E “comprar” continua a palavra de ordem no mercado de capitais.

A estreia da empresa então liderada por Ferreira de Oliveira na bolsa de Lisboa foi um sucesso. Com o trabalho de quatro bancos: a Merrill Lynch, o Morgan Stanley, o BESI (atual Haitong) e CaixaBI. As ações subiram, subiram e continuaram a subir. Logo em 2007 tocaram naquele que é, até hoje, o valor mais elevado de sempre: 19,50 euros, isto depois de ter confirmado a descoberta de petróleo no Brasil, uma das maiores a nível mundial dos últimos 30 anos. A confirmação acabou por gerar um retorno de 177% para os acionistas que resistiram à tentação de encaixar ganhos rápidos. A Galp Energia captou mais de 100 mil investidores na OPV.

Mas os tempos nem sempre foram de bonança. A Galp Energia não conseguiu escapar à crise financeira mundial. Nem à que que se instalou em Portugal. As ações tocaram os 5,95 euros. Os investidores chegaram a recear que caíssem abaixo do preço da OPV, mas a Galp Energia conseguiu recuperar. Foi quase como uma segunda OPV para quem acreditou que a persistência da empresa no crescimento do negócio da exploração e produção de petróleo acabaria por dar frutos.

Galp Energia é uma das gigantes da bolsa de Lisboa

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Fonte: Bloomberg (valores em milhares de milhões de euros)

Foi preciso um investimento elevado ao longo dos anos, mais especificamente de 10,2 mil milhões de euros. E os números mais recentes provam que essa aposta foi bem sucedida, sem nunca esquecer o retorno para os acionistas. Além da valorização das ações para mais do dobro da OPV, os dividendos também foram aumentando. Ao longo desta década, o retorno total (incluindo os dividendos) para os investidores é superior a 150%. As ações estão a cotar nos 12,825 euros, o que avalia a empresa em mais de 10 mil milhões de euros.

Evolução das ações da Galp na última década

Fonte: Bloomberg (Valores em euros)
Fonte: Bloomberg (Valores em euros)

Muito foco no petróleo…

A exploração e produção de petróleo tem sido, ao longo dos anos, o grande foco de investidores e analistas. E os dados mais recentes mostram que a Galp Energia está bem lançada neste negócio: houve um crescimento de mais de 60% na produção no terceiro trimestre deste ano. O que representa um aumento da produção líquida de 71.500 barris por dia. Há 10 anos, a produção era de cinco mil barris por dia.

Hoje, o projeto Lula/Iracema, no bloco BM-S-11, é o mais importante e o que pesa mais nos resultados. Isto entre os 13 mercados em que a empresa portuguesa está presente. No início eram apenas sete. Mas a Galp Energia beneficia realmente do facto de não apostar apenas no petróleo. Explora, desenvolve e produz petróleo e gás natural em quatro continentes.

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É este forte crescimento nesta unidade de negócio que concentra as atenções dos investidores que olham cada vez mais para a empresa liderada por Carlos Gomes da Silva como sendo uma petrolífera. A correlação entre a Galp Energia e o preço do petróleo é cada vez maior (multiplicou-se por cinco em 10 anos). Esta correlação deixa-a vulnerável às oscilações do mercado petrolífero.

… mas há mais na Galp Energia

Quando os preços sobem, os investidores recolhem os frutos devido a esta exposição da empresa às cotações da matéria-prima. A Galp Energia chegou a disparar mais de 5% quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo revelou ter chegado a um acordo para cortar a produção, decisão histórica que levou os preços do petróleo a acelerarem para cima dos 50 dólares por barril. Mas quando as cotações estão deprimidas, o foco passa para os restantes negócios, travando a queda das ações.

É que apesar do crescimento do negócio do petróleo, a refinação e distribuição e o gás e energia continuam a representar 75% dos resultados operacionais da Galp Energia. A refinação (feita em duas refinarias, em Matosinhos e em Sines) e distribuição representou 291 dos 631 milhões de euros de EBITDA no primeiro semestre deste ano. Ou seja, este negócio, sozinho, representa 46%.

O fato de ser uma petrolífera integrada, ou seja, que vai desde a exploração até à distribuição de combustíveis, completando assim todo o ciclo do processo, permite à Galp Energia apresentar um desempenho bolsista que deixa para trás as pares europeias, bem como o do PSI-20. Tanto este ano (ganha 19,64% contra os 9,32% do setor petrolífero da Zona Euro e a queda de 11% do índice nacional) como nos 10 anos que leva em bolsa.

Galp é sinónimo de “comprar”

E é este perfil que em momentos como o atual, com os preços do petróleo bem longe dos recordes de quase 150 dólares, que faz com que os analistas continuem a acreditar que há potencial. As recomendações atribuídas à Galp Enegia são, regra geral, positivas. Em 27 analistas, 16 recomendam “manter” e 10 dizem que é para “comprar”.

O preço-alvo médio atribuído pelos analistas é, segundo a Bloomberg, de 13,64 euros, 6% acima dos 12,825 euros a que a Galp Energia está a cotar. Mas há quem dê bem mais: o Fidentiis avalia as ações a 16,25 euros. O Credit Suisse aponta para os 15,5 euros e o Jefferies vê os títulos a 14,50 euros sublinhando que os resultados estão a provar ser “resilientes, a alavancagem está a diminuir e a indústria está a validar o crescimento pós-2020″.

Só um banco diz para “vender”, mas com um preço-alvo de 12 euros. É o Haitong que, ainda assim, nota que mesmo com a recente correção das ações depois de a Amorim Energia ter vendido uma participação de 5% no capital da empresa, acredita que os títulos ainda vão ter um bom desempenho e que estão a “negociar em linha com as nossas expectativas”. Américo Amorim renunciou, entretanto, à presidência do conselho de administração. Paula Amorim é a nova “chairwoman”.

 

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