Quinta das Lágrimas. Do século XIV ao XXI numa história de amor

Amores de Pedro e Inês voltaram a renovar-se na Quinta das Lágrimas: o hotel sofreu obras de remodelação. Agora, até tem um fotógrafo residente para eternizar os amores dos amantes que por lá passam.

Fontes dos Amores e das Lágrimas ficam no jardim da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que podem ser explorados por hóspedes do hotel e por visitantes.D.R.

Lágrimas são a água e o nome amores. As palavras escritas por Camões, n’Os Lusíadas, são repetidas muitas vezes pela guia Cláudia Vale, de cada vez que, com visitantes, vai ao Jardim da Quinta das Lágrimas. O documento mais antigo em que a Quinta com o mesmo nome é referida data de 1326. E é nesse ano que, entre lendas populares e a verdadeira versão dos factos, se começa a fazer a história.

D. Pedro foi o precursor das sms“, conta Cláudia. “Usava o canal para levar água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara, mandado construir pela Rainha Santa Isabel, para mandar barquinhos de madeira que funcionavam como convites para que Inês de Castro o visitasse nos jardins da Quinta das Lágrimas”, detalha a guia. A essa fonte chamaram “dos Amores”, por ter presenciado a história de amor entre Pedro e Inês. Ao lado desta, poucos metros à frente, Camões chamou a outra a Fonte das Lágrimas. E, entre elas mas não só, há árvores oferecidas por Duques e outros ilustres visitantes que, ao longo dos anos, foram conhecendo a Quinta.

Algumas das árvores dos jardins da Quinta das Lágrimas foram oferecidas por ilustres visitantes que passaram pela quinta ao longo dos séculos.Ana Rute Fotografia

Um deles foi, em 1813, o Duque de Wellington que, a convite do seu ajudante de campo, António Osório Cabral de Castro, dono da Quinta e antepassado dos atuais proprietários: na altura plantaram-se nos jardins da Quinta duas wellingtonias, sequoias gigantes, e mandou-se erguer uma lápide com a estrofe d’Os Lusíadas que situa a história do amor de Pedro e Inês naquela quinta.

O jardim está aberto a todos os visitantes. A entrada para não hóspedes custa 2,5 euros.Ana Rute Fotografia

O restaurante mais pequeno do mundo

Ainda que a quinta pertença, desde 1730, à mesma família, só em 1995 o espaço foi convertido em hotel. Em 2016, deram-se início a obras de remodelação: o projeto ficou a cargo da Brodway Malyan. O Hotel mantém a ala do Palácio com decoração à altura do tempo das princesas e dos reis: nessa parte do hotel existem salas de estar com quadros emoldurados a dourado, uma capela e uma biblioteca que guarda uma escada secreta para o primeiro andar, apenas acessível se conhecido o segredo.

Em 2004 é desenhado e inaugurado o edifício Acqua, um projeto do arquiteto Gonçalo Byrne, que integra uma nova ala de quartos, um centro de reuniões e banquetes e o spa do hotel.

Depois de 1,5 milhões de investimento na remodelação do hotel, foram recuperados alguns dos quartos e zonas públicas. O azul tornou-se o tom predominante nos quartos por ser o tom da realeza e para, de alguma forma, uniformizar a decoração em todas as alas do hotel. E os tapetes, também, em tons de azul, são inspirados nas árvores centenárias dos jardins da Quinta. “Todas estas alterações ajudaram a tornar o espaço do hotel mais uniforme, de maneira a que, apesar dos diferentes ambientes, os hóspedes tenham a perceção de que estão no mesmo espaço“, explica o diretor do hotel, Alberto Gradim.

“Os quartos e as salas foram redecorados, criámos um gastro-bar e um restaurante onde apenas entram poucas pessoas”, conta Miguel Júdice, CEO do Grupo Lágrimas. Além disso é possível reservar jantares no jardim, à luz das velas, e até agendar uma sessão fotográfica com a fotógrafa residente, Ana Rute. Os jardins da Quinta das Lágrimas estão também disponíveis para eventos como casamentos. Já os restaurantes estão a cargo do chef Vítor Dias que, depois da saída de Albano Lourenço assumiu os comandos da cozinha da Quinta. As receitas, à base de produtos frescos, contam com ervas da horta dos jardins e mudam quatro vezes por ano. O pão, como o do pequeno-almoço, é em forma de coração.

A remodelação do hotel introduziu outra novidade na dinâmica da Quinta. É que, além dos restaurantes Arcadas e Pedro e Inês, o hotel passa a ter outro restaurante no piso térreo: o mais pequeno do mundo, para “permitir experiências gastronómicas românticas a dois” ou para pequenos grupos.

Alberto Gradim, diretor do Hotel Quinta das LágrimasD.R.

No entanto, as obras não foram apenas ao nível da estrutura e decoração do edifício: o Hotel da Quinta das Lágrimas, do grupo Lágrimas, conta desde o início do ano com um novo diretor. Depois da passagem pelo Hotel Palace do Bussaco, Vila Galé Coimbra e Tivoli Coimbra, entre outros, Alberto Gradim assume a direção do hotel dos amores.

Mais amor por favor

E porque o amor de Pedro e Inês não é o único alguma vez vivido na Quinta das Lágrimas, o hotel organiza anualmente o Congresso do Amor. Este ano, a 18 de fevereiro, a quinta de Coimbra recebe convidados como a cantora e autora Adriana Calcanhoto, o escritor Pedro Chagas Freitas ou o cantor lusodescendente Pierre Aderne, entre muitas outras propostas de workshops, música e leituras em volta do tema do amor.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Quinta das Lágrimas. Do século XIV ao XXI numa história de amor

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião