CGD: “Governo deu uma indicação: segurem o barco”

  • Rita Atalaia
  • 8 Março 2017

António Nogueira Leite saiu da Caixa por considerar não ter os "instrumentos necessários". Ou seja, capital. O ex-vice-presidente da CGD diz que o aumento de capital feito em 2012 foi insuficiente.

António Nogueira Leite diz que, enquanto vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), a única indicação que teve do Governo foi: “aguentem o barco”. Este seria o plano estratégico para o banco do Estado, antes de sair em dezembro de 2012. Nogueira Leite explica aos deputados na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da CGD que saiu por achar que não tinha os instrumentos necessários — mais capital — para fazer um “trabalho extraordinariamente difícil”.

António Nogueira Leite, ex-vice-presidente da Caixa Geral de DepósitosPaula Nunes/ECO

“Achei que não poderia correr o risco de estar a fazer um trabalho extraordinariamente difícil sem conseguir explicar os resultados.” É assim que António Nogueira Leite explica aos deputados na CPI à gestão da Caixa porque é que abandonou funções antes mesmo de o seu mandato acabar.

A Caixa anunciou em dezembro de 2012 um aumento de capital de 1.650 milhões de euros. Mas para Nogueira Leite era preciso mais capital. O antigo vice-presidente da CGD considerou que não “deveria enfrentar uma situação sem os instrumentos necessários, que seria mais capital”, acrescentando que “não sei o que se passou acima. Sei que havia sempre uma grande dificuldade de fazer entender as necessidades dos bancos portugueses por parte das autoridades europeias”.

"A única coisa que o Governo dizia era: aguentem o barco, tentem fazer com que a economia não caia, mantenham o crédito às empresas”

António Nogueira Leite

Ex-vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos

O Governo deu apenas uma indicação: “aguentem o barco”, explica Nogueira Leite. O antigo responsável do banco público refere que a estratégia era “muito simples”: estabilizar a liquidez da Caixa, aplicar o memorando de entendimento — que obrigava a uma monitorização muito apertada por parte da troika — e mobilizar as equipas internas para um escrutínio permanente que aconteceu nas várias auditorias feitas pela troika.

“A única coisa que o Governo dizia era: aguentem o barco, tentem fazer com que a economia não caia, mantenham o crédito às empresas”, diz Nogueira Leite, acrescentando que “não podíamos dar crédito a empresas que não mereciam e tornar ainda mais difícil a situação da Caixa em termos de imparidades futuras”.

O antigo vice-presidente do banco estatal deixa também claro que não participou nas operações relacionadas com o grupo José de Mello. E isso está, esclarece, assente nas atas de 2011. “Estive calado durante as mais variadas circunstâncias, mas achei que tinha a obrigação de esclarecer isto”.

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