Quem dá mais gás à economia francesa?
Le Pen poria travão a fundo na economia, Macron traria o défice para dentro da meta europeia, e Hamon levaria a despesa pública para acima de 100%. Qual o perfil económico dos candidatos ao Eliseu?
As reviravoltas nas eleições francesas não param — primeiro o candidato de centro-direita François Fillon parecia certo, depois foi indiciado por corrupção, o independente Emmanuel Macron que começou como uma candidatura alternativa improvável afigura-se agora favorito, e o candidato de esquerda Benoît Hamon superou o preferido de Hollande para ser nomeado do PS e poderá agora juntar-se à esquerda radical para criar uma solução que venha a pô-lo em primeiro. Encostada à direita, a populista Marine Le Pen não descai nas sondagens. Mas quem traz as melhores soluções para a economia francesa?
Um novo estudo conjunto Grupo Allianz/Euler Hermes calculou isso mesmo: qual o impacto do plano económico de cada um dos quatro principais candidatos? Enquanto Le Pen é a pior para o crescimento e Macron o melhor para o défice, nem tudo é preto no branco.
Quem cumpre as prioridades económicas dos eleitores?
O estudo Excuse my French (elections): Why this time it’s different (link abre em PDF, conteúdo em inglês) estabeleceu aquelas que são as principais prioridades económicas dos eleitores franceses para depois averiguar quais os candidatos que melhor se prestam a cumpri-las. O resultado? Três pontos são essenciais para o francês médio:
- O reequilíbrio da economia, “para aumentar a competitividade, reduzir os défices orçamental e comercial, e melhorar a política fiscal”. Fazem falta reformas estruturais, lê-se no estudo.
- A reflação, que permita “maiores aumentos dos rendimentos, favoreça a mobilidade social através da redistribuição”, e aumente a procura. “Espera-se que os preços subam num futuro próximo, pelo que o rendimento terá de subir, seja por impostos inferiores ou um crescimento mais acentuado dos salários”.
- A contenção em relação à União Europeia, “de forma a proteger as vítimas da globalização e do progresso tecnológico”.
Cada uma das prioridades tem melhores e piores candidatos. No que toca a reequilibrar a economia, Fillon é o candidato ideal: quer começar por reduzir os impostos, mas posteriormente aumentar o IVA e reduzir o défice. No campo da reflação, o socialista Hamon é o mais dedicado: tenciona criar um rendimento universal garantido e aumentar os salários do setor público e o salário mínimo. Já no que toca à contenção, torna-se claro que a protagonista é Marine Le Pen, que quer sair da União Europeia, limitar a imigração e promover uma política económica protecionista.
E o independente Macron? É o único que pretende reduzir o défice para dentro das metas europeias de 3% do PIB, e tem também um projeto bastante focado na reflação, querendo reduzir os impostos sobre o rendimento para aumentar o equivalente da Taxa Social Única, paga pelas empresas por trabalhador, por exemplo.
Quem reduz o défice e a dívida?
Os quatro candidatos propõem abordagens diferentes. Quem mais reduz o défice? Emmanuel Macron, o único que tem hipótese de o reduzir, até 2018, para as metas da União Europeia. O programa de Macron tem como prioridade a estabilização do saldo orçamental, e “através de reformas estruturais na proteção social e mercados de trabalho, por exemplo, e de um impulso mais forte da tributação progressiva das famílias e das empresas”, lê-se no estudo, poderá impulsionar o crescimento económico também.
Neste campo, François Fillon não está longe de Macron, mas tenciona diminuir os impostos a curto prazo antes de aumentar o IVA, o que pesará na dívida e no défice nos primeiros tempos. “O impacto negativo das oscilações do IVA em 2018 deverá ser compensado pelo efeito de uma maior confiança no investimento empresarial”, acrescentam os investigadores.
Benoît Hamon, por sua vez, quer libertar-se totalmente das metas europeias do défice, e a sua intenção de aumentar salários e criar um rendimento universal para os jovens vai fazer disparar a despesa pública e o défice. No entanto, o crescimento do PIB pode beneficiar com estes salários mais elevados, ao impulsionar o consumo privado.
Já o programa de Marine Le Pen faria sofrer tanto o crescimento como a dívida e o défice. A incerteza face a uma possível saída da União Europeia e do euro castigaria o país nos mercados internacionais e no investimento, e o PIB desceria dos 1,4% em 2016 para 0,5% em 2018, afirmam os investigadores.
E os mercados?
Os investigadores do Grupo Allianz e da Euler Hermes, acionista da COSEC, também analisaram o impacto da vitória de cada candidato nos mercados financeiros. Se a instabilidade que tem reinado no período pré-eleitoral deverá continuar até às eleições de 23 de abril, o spread entre os juros da dívida pública francesa e os das bunds alemãs poderá continuar a crescer depois delas, e os mercados europeus a ressentir-se.
Há quatro cenários, que dependem também das legislativas em meados de junho: o ideal, e sem nenhum impacto nos mercados financeiros europeus, é o da eleição de um candidato que não seja Marine Le Pen com uma maioria parlamentar. Outra possibilidade, com um impacto reduzido, é a eleição de um desses candidatos, mas com um Governo minoritário, o que criaria maior instabilidade e dificuldade em fazer passar reformas.
O terceiro modelo, que prevê a eleição de Marine Le Pen com uma minoria no parlamento, teria um impacto de mais alto risco, mas não tão grande como o impacto que se verificaria se Le Pen vencesse com uma maioria. Estes dois cenários poderiam derrubar os mercados europeus entre 15% e 40%.
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