“Daqui a 10 anos, 25% das PME vai financiar-se nos mercados”
A forma de financiamento das PME portuguesas é um dos principais temas da atualidade nacional, assim como a rentabilização das poupanças dos investidores num ambiente de taxas de juro zero.
Estimular o mercado de capitais para PME (ações e dívida) não tem sido tarefa fácil em Portugal e na Europa, e têm-se verificado poucos progressos. Mas o crescimento das bolsas de empréstimo em todo o mundo tem tido um grande contributo para juntar cada vez mais empresas e investidores.
Dependência dos bancos
Em Portugal, os bancos gerem praticamente todo o sistema financeiro, a poupança e os serviços de pagamento. Juntas, estas instituições financiam as empresas e as famílias em mais de 200 mil milhões de euros (110% do PIB), injetando anualmente cerca de 41 mil milhões de euros em novos empréstimos.
Estas instituições são também as principais depositárias de poupança dos portugueses, com cerca de 172 mil milhões de euros em depósitos. Sabemos ainda que é nos bancos que a maioria dos portugueses faz os seus investimentos. De acordo com um recente estudo da Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, apenas 10% da população investe em ativos além dos depósitos a prazo e dos certificados de aforro.
“Até aqui, têm sido os bancos a assegurar praticamente todo o financiamento das PME em Portugal”. Mas, de acordo com José Maria Rego, responsável da Raize, “os tempos são outros, e existe hoje a necessidade de reduzir a dependência dos bancos e de desenvolver mecanismos alternativos de financiamento, com maior envolvimento de investidores privados”. Segundo o empresário, o problema coloca-se um pouco por toda a Europa, e não apenas em Portugal. “A sociedade portuguesa está muito dependente dos bancos, mas o resto da Europa também. A situação é diferente nos EUA, onde existe uma cultura de financiamento em mercado mais forte”.
Bolsas de empréstimo podem desbloquear mercado de capitais
Os números mostram uma realidade evidente: as bolsas de empréstimo são hoje a principal alternativa de financiamento das PME e estão a dinamizar milhões de investidores privados por todo o mundo.
E porque? De acordo com Afonso Eça, responsável da Raize e Professor na Nova School of Business and Economics, “os investimentos em dívida (ex. obrigações, empréstimos) acarretam tipicamente menos risco e são relativamente simples de montar visto não envolverem a partilha de propriedade da empresa. Com ‘empréstimos’, existe uma obrigatoriedade de restituição dos montantes investidos, e esse facto, faz toda a diferença para os investidores.”
Desde do seu lançamento em Portugal, a Raize já realizou mais de 300 operações de financiamento junto de micro e pequenas empresas. As operações envolvem tipicamente mais de 250 investidores e têm um valor médio entre os 10 e os 50 mil euros. A plataforma tem atualmente mais de 10 mil investidores que estão a receber um retorno bruto médio de 6% ano sobre os empréstimos realizados.
“Os valores apresentados revelam uma crescente abertura dos investidores nacionais ao investimento direto em micro e pequenas empresas portuguesas”. Segundo os responsáveis da Raize, chegou a altura de consolidar o interesse dos investidores nas PME nacionais.
Apesar de tudo o que se passou nos mercados financeiros em Portugal nos últimos anos, o mercado de capitais para PME está hoje mais forte e em crescimento. Estimamos que daqui a 10 anos em Portugal, cerca de 25% das PME se financiem junto de investidores.
No Reino Unido, por exemplo, os empréstimos através de bolsas de empréstimos a PME já representavam 14% dos novos empréstimos em 2015.
Em Portugal, existem 3 bolsas onde as PME portuguesas podem obter financiamento: Alternext (bolsa do grupo Euronext), a Seedrs e a Raize. No total, estas plataformas de mercado levantaram cerca de 22 milhões de euros para PME nos últimos 2 anos.
“O crescimento da Raize é um excelente presságio para o aumento do investimento em capital das PME portuguesas. Será mais fácil investir em ações de PME, quando os investidores já estiverem confortáveis com empréstimos. As empresas, por outro lado, já terão tido o primeiro contacto com os “mercados” e já estão mais abertas e preparadas para partilhar o capital. Na Raize, já facilitámos o contacto entre várias PME e investidores nacionais, que resultaram em processos de levantamento de capital.”
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