As réplicas ibéricas do terramoto Temer

  • Rita Atalaia
  • 19 Maio 2017

A crise política no Brasil chegou às empresas na Península Ibérica. Do petróleo ao retalho, há várias cotadas com uma exposição elevada ao mercado brasileiro. Mas como?

A moeda brasileira desvalorizou, a bolsa afundou. Foi assim que o mercado reagiu às notícias de que Michel Temer foi apanhado numa gravação que pode comprometer a sua liderança enquanto Presidente do Brasil. Mas esta reação não se limitou ao mercado brasileiro. Atravessou mesmo o Atlântico. Do setor petrolífero ao retalho, muitas foram as cotadas na Península Ibérica que reagiram a esta nova crise política no Brasil pela elevada exposição aquele mercado.

O Supremo Tribunal brasileiro revelou uma gravação na qual o Presidente brasileiro Michel Temer em conversa com o empresário Joesley Batista, dá o aval ao pagamento de subornos ao ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por participação no esquema de corrupção na Petrobras. Esta gravação é comparada a uma “bomba atómica” com um poder de destruição maior do que as denúncias feitas pela construtora Odebrecht no caso Lava-Jato. Temer negou as notícias e não quis renunciar ao cargo.

A sessão desta sexta-feira é de recuperação. Mas quando o escândalo rebentou, as bolsas europeias caíram. Segundo os analistas do Haitong, o mercado teme que este escândalo possa levar a outro impeachment no Brasil. Uma destituição do cargo que poderá pôr em causa as reformas em curso para as finanças públicas. Mas não só. Pode adiar medidas que o Presidente do Brasil quer implementar para apoiar o setor petrolífero.

Neste cenário, as empresas ligadas à matéria-prima são as mais expostas a esta crise política. Não tanto por questões financeiras, mas sim regulatórias, adianta o Haitong. Os setores das telecomunicações e retalho também não ficam atrás.

Saída de Temer assusta Galp

As petrolíferas da Península Ibérica têm uma elevada exposição ao Brasil. E foi, por isso, que as ações da Galp Energia, cuja atividade de exploração de petróleo se concentra no pré-sal brasileiro, e da EDP, que detém a EDP Brasil, caíram na quinta-feira. Assim como a petrolífera portuguesa, a espanhola Repsol também está exposta pelas suas operações de exploração e produção. Uma atividade que é sobretudo em dólares. Por isso, o Haitong não prevê que a desvalorização do real tenha um impacto significativo.

A queda das petrolíferas deveu-se, diz o Haitong, ao “aumento do risco do país e ao facto de uma alteração política poder adiar algumas das alterações que Temer tem estado a implementar para apoiar o setor petrolífero e atrair o muito necessário investimento estrangeiro para desenvolver recursos petrolíferos no país”. Já no caso da EDP é a única energética com uma “exposição significativa” ao Brasil, explica.

Questionada pelo ECO sobre o impacto desta crise política, fonte oficial da Galp referiu que a empresa está “focada na execução dos projetos que tem em curso no Brasil e, nesse contexto, sublinha a importância da entrada em operação, precisamente [esta quinta-feira], da sétima unidade de produção no Brasil, na área sul do campo de Lula”. Sobre a situação política do Brasil, a Galp não tece comentários. Já a EDP preferiu não comentar.

Telefónica exposta pela Vivo

Na Península Ibérica, Telefónica tem uma elevada exposição ao Brasil. A empresa espanhola detém 74% da Vivo — a líder de mercado neste setor. A empresa de telecomunicações cedeu, por isso, mais de 1% depois de terem sido avançadas as notícias sobre o Presidente do Brasil. Uma queda explicada pela desvalorização de 7% do real face ao dólar.

“A empresa tem beneficiado da posição de liderança da Vivo neste mercado, mas também das sinergias que obteve com a compra da GVT”, dizem os analistas. O Haitong reconhece ainda que a Vivo “se tem revelado resiliente durante a crise económica no Brasil”, explicam.

Queda do real arrasta Dia

No retalho, os analistas olham para a Dia. A dona do Minipreço é a única empresa com exposição significativa neste setor. “Em 2016, o Brasil correspondia a 18% das vendas líquidas da Dia”, de acordo com as estimativas do Haitong. Por isso, a desvalorização do real levou os títulos a caírem quase 1% na sessão anterior.

Mas o Haitong desvaloriza esta queda, uma vez que já era esperado. O banco explica que, de forma geral, “o setor do retalho alimentar é muito defensivo. Por isso, qualquer problema macroeconómico que surja devido a uma crise política não deve ter grande impacto nas previsões“.

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