Rating de Portugal sobe em setembro? É quase impossível
Responsáveis políticos têm insistido numa melhoria da perspetiva de Portugal em breve, possivelmente em setembro. Uma melhoria pode acontecer, mas a saída do "lixo" é que será impossível.
Mário Centeno, António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa e até Pierre Moscovici. Não há responsável político que neste momento não fale numa melhoria do rating da República portuguesa “em breve”, muito possivelmente já em setembro, que é quando a agência Moody’s volta a avaliar Portugal. Apesar do otimismo, e até dessa melhoria, é pouco provável que se assista a uma subida da classificação da dívida portuguesa este ano. Como é que sabemos?
Atualmente, as três principais agências mundiais — Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s — colocam Portugal num nível considerado investimento especulativo, o chamado nível “lixo”. E é por isso que é tão importante que pelo menos uma delas suba a notação da dívida. Com uma decisão favorável, Portugal subiria para um patamar que lhe confere “grau investimento”, entraria no radar de muitos fundos de investimento que apenas compram dívida segura. E, no final do dia, a fatura com juros de Portugal desceria.
O que dizem os políticos
Munindo-se dos recentes desenvolvimentos económicos de Portugal, tanto o primeiro-ministro, como os outros ministros (Finanças e Economia) e até o Presidente da República têm manifestado confiança e otimismo em relação a uma melhoria do rating da dívida que o IGCP emite. Para Marcelo Rebelo de Sousa, até já há uma data: setembro.
Momentos antes, foi António Costa quem se dirigia às agências: “Não há dado económico que não diga o óbvio: que o rating deve ser revisto. Quando for revisto, não será necessariamente uma surpresa. É manifesto que a avaliação de hoje de Portugal é muito diferente da situação que era em 2011“.
“O facto de a Comissão Europeia ter proposto que Portugal saia do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) só reforça esta ideia. É a própria Comissão europeia que reconhece que há confiança no futuro da economia portuguesa para de um modo duradouro e sustentável termos um défice que cumpra as regras europeias e que mantenhamos uma trajetória sustentada da redução da nossa dívida“, argumentou.
O que dizem as agências
Do lado das agências, o tom do discurso em relação a Portugal tem evoluído de forma positiva, acompanhando a melhoria do ambiente económico do país. Ainda assim, os responsáveis destas entidades que determinam a qualidade de um ativo financeiro (neste caso, dívida portuguesa) têm insistido sobretudo na sustentabilidade da dívida pública, acima de 130% do Produto Interno Bruto (PIB), e na capacidade do Governo de manter o défice sob controlo como fatores de longo prazo que estão a prender o rating ao lixo.
É justamente a Moody’s quem avalia Portugal em setembro. Mas se Marcelo Rebelo de Sousa acredita que Portugal receberá boas notícias logo no primeiro dia daquele mês, aquilo que a agência tem sinalizado em relação ao país é que não vai mexer no rating de Ba1. Porquê?
Juntamente com o rating, a agência atribui um outlook à dívida do país como forma de dizer ao mercado e aos investidores quais são as suas perspetivas de evolução da notação nos meses seguintes. No caso de Portugal, o outlook é estável, o que “indica uma baixa probabilidade de uma mudança de rating no médio prazo”, conforme se pode ler no manual da Moody’s acerca de ratings e definições.
Mas a Moody’s não é a única que atribui às obrigações portuguesas perspetivas estáveis. A Standard & Poor’s e a Fitch (esta última volta a testar Portugal dentro de duas semanas) também não preveem fazer qualquer alteração ao rating da República.
Lixo até 2018
Ou seja, independentemente dos discursos políticos, Portugal deverá continuar no “lixo” até ao próximo ano, tal como a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, já avisou… em fevereiro.
“A maneira como as decisões das agências são tomadas é que, primeiro, há um outlook positivo e depois só na avaliação seguinte é que pode haver uma melhoria do rating. Não me parece que nesta ronda tenhamos uma melhoria do outlook. Já tivemos este ano informação da Moody’s e da Fitch sem subidas”, declarou Casalinho em entrevista ao Público. A S&P também não o fez. E numa segunda ronda, a Moody’s nem se pronunciou.
Deste modo, a melhoria no rating a que Portugal pode aspirar passa apenas por uma melhoria do outlook de estável para positivo. Só a partir desse momento é que o país pode sonhar libertar-se das amarras da má fama da sua dívida. A subida efetiva da notação para um patamar de investimento de qualidade só está ao alcance já em 2018.
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