Portugal é o país da Zona Euro que mais se financia a curto prazo
A dívida soberana portuguesa é a que apresenta um financiamento a menos de um ano mais representativo, dos países do euro. Também se destaca por ter uma fatia maior nas mãos de empresas e famílias.
Uma fatia maior da dívida na mão de famílias e empresas, e um peso maior do financiamento a curto prazo. Estas são duas características que destacam a dívida pública portuguesa, da dívida soberana dos restantes parceiros comunitários. Os dados foram revelados esta terça-feira pelo Eurostat.
A dívida pública portuguesa não se destaca das restantes dívidas comunitárias apenas por ser muito elevada quando comparada com o PIB nacional (em 2016, atingiu 130,4% do PIB, o terceiro valor mais alto da União Europeia). Em Portugal o financiamento soberano também se distingue por ser dos mais dependentes do financiamento de curto prazo: 16,7% do total. Os dados do Eurostat mostram que só a Suécia e a Hungria apresentam uma fatia maior da dívida pública com maturidade inicial inferior a um ano — ou seja, no conjunto da zona euro, Portugal é o país onde este peso é mais elevado.
Financiamento a curto prazo
Fonte: Eurostat
O financiamento a curto prazo tem a vantagem imediata de pagar um juro mais baixo. Contudo, também representa um risco acrescido, porque está mais vulnerável a alterações súbitas das condições de mercado. Uma das medidas sugeridas no relatório do grupo de trabalho criado pelo PS e BE era precisamente aumentar ainda mais o peso do financiamento de curto prazo, para aproveitar a descida dos juros. Contudo, a ideia foi contestada por muitos agentes pelo risco que implica.
Outra característica que destaca a dívida portuguesa é a dimensão da fatia que está colocada em famílias e empresas residentes: são 11% do total. A Irlanda apresenta precisamente o mesmo valor, Malta destaca-se com um peso de 28% e a Hungria com 18%. Todos os outros Estados-membros para os quais há dados apresentam uma fatia inferior a 10%.
Ainda assim, somando a dívida que está colocada nos bancos residentes, Portugal deixa de se destacar entre os países onde o recurso a poupanças domésticas é mais representativo para financiar as administrações públicas. No total, os residentes têm 41,8% da dívida pública portuguesa. O resto está colocado no estrangeiro.
Em que mãos está a dívida pública?
Fonte: Eurostat
No que toca ao tipo de financiamento utilizado, Portugal destaca-se como um dos países onde há um maior recurso a empréstimos (36%), logo atrás do Luxemburgo (40%). Este valor está relacionado com o resgate da troika: apesar das amortizações antecipadas que têm vindo a ser feitas ao Fundo Monetário Internacional, em janeiro deste ano os dados do IGCP mostravam que o país ainda devia 67,8 mil milhões de euros ao abrigo do programa de ajustamento.
Portugal também é dos países onde a fatia da dívida que está em depósitos ou em moeda é mais elevada (9%), atrás da Irlanda (11%) e do Reino Unido (10%). Este peso justifica-se pela estratégia de manutenção de uma almofada de liquidez que permita acomodar eventuais choques negativos dos mercados, permitindo ao Tesouro nacional ficar mais tempo sem emitir dívida, caso as condições sejam adversas. Esta estratégia custa cerca de 200 milhões de euros ao ano, estima o economista Ricardo Santos.
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