Como o Reino Unido pode aprender com Portugal a melhorar o desempenho comercial

  • ECO
  • 4 Agosto 2017

Um artigo do Financial Times compara os desempenhos comerciais de Portugal e do Reino Unido e aponta as lições que os britânicos podem aprender com os portugueses.

Com o Brexit à porta, os britânicos preparam-se para enfrentar uma nova era de comércio internacional. Para perceber o que aí vem, nada melhor do que uma comparação com o percurso de Portugal, um país igualmente no extremo ocidental da Europa, com tradição naval e comercial e com problemas persistentes de défice comercial nas últimas décadas. As semelhanças são apontadas pelo editor de economia do Financial Times (acesso pago), que, num artigo publicado esta semana, defende que o Reino Unido pode aprender com Portugal a melhorar o seu desempenho económico.

Não é preciso depreciar a moeda para aumentar exportações

A primeira lição que o Reino Unido pode aprender com Portugal é que não precisa de depreciar a libra para reforçar o desempenho comercial. “A libra desvalorizou 17% desde o final de 2015, face aos seus parceiros comerciais”, lembra Chris Gilles, o autor do artigo. No mesmo período, o câmbio de Portugal valorizou 2% face ao dos maiores parceiros comerciais.

Com estes valores, “seria natural” ver um melhor desempenho comercial britânico, em comparação com o português. Mas, na verdade, a depreciação da libra não se traduziu em melhorias no contributo mais significativo do comércio para o PIB, quando comparado com Portugal. No primeiro trimestre deste ano, o comércio britânico impactou negativamente o PIB, retirando 0,2 pontos percentuais ao crescimento da economia britânica; em Portugal, o comércio acrescentou 0,5 pontos percentuais ao crescimento do PIB.

Por outro lado, a depreciação da libra também não levou a um reequilíbrio da balança para um aumento da produção, em detrimento da aposta nas importações. No primeiro trimestre, a produção industrial britânica aumentou 2,3%; a portuguesa crescer 4,8%. “O Brexit não deu ao Reino Unido uma economia mais equilibrada”.

Não é preciso deixar a UE para chegar ao resto do mundo

Em segundo lugar, defende o editor do Financial Times, o Reino Unido pode aprender com Portugal que não é preciso deixar a União Europeia para aumentar as exportações para o resto do mundo.

No primeiro trimestre, as exportações de Portugal para fora da União Europeia aumentaram 33%, totalizando, mais de 3,5 mil milhões de euros. No mesmo período, o Reino Unido aumentou as exportações para fora da União Europeia em 13,8%; ao mesmo tempo, está a aumentar as vendas para dentro da UE a um ritmo mais acelerado, de 15,5%.

A lição da troika

A terceira e última lição é aquela que Portugal retira com a intervenção da troika no país. “Se o resto do mundo perde confiança na capacidade da nossa nação de conduzir a própria economia, poderá recusar-se a financiar um enorme e persistente défice de conta corrente“, escreve o editor do Financial Times.

“Quando isto aconteceu a Portugal, entre 2008 e 2012, o país teve de eliminar este défice rapidamente. A grande maioria do ajustamento veio não do crescimento das exportações, mas de um esmagamento da procura interna e da quebra do nível de vida”, lembra. “O Brexit está a falhar na redução do risco de uma situação semelhante no Reino Unido. O melhor que podemos dizer é que temos sorte que o resto do mundo ainda não se apercebeu”.

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