Portugal cresce acima da zona euro. Há quanto tempo isto não acontecia?
O INE revela a estimativa do PIB do segundo trimestre esta segunda-feira. Portugal deverá confirmar nove meses a crescer mais do que a zona euro. Desde 2001 que isto não acontecia.
Esta segunda-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) vai divulgar a estimativa preliminar para o crescimento do PIB português, no segundo trimestre. A expectativa é que o número seja ainda melhor do que o dos primeiros três meses do ano e é já muito provável que se destaque como o terceiro crescimento consecutivo acima da média da zona euro. A concretizar-se, um período de crescimento assim não se verificava desde o final de 2001. O ECO regressou ao passado para colocar o presente em perspetiva. Venha daí.
Estávamos em pleno mandato de António Guterres. A Expo’98 ainda estava na cabeça dos portugueses e a euforia da construção dos dez estádios para receber o Euro 2004 já estava à vista. O Porto tinha sido capital europeia da cultura e nas rádios a Kylie Minogue cantava “Can’t get you out of my head” — estava no top em Portugal. Quando estreou Mulholland Drive, de David Lynch, nos cinemas portugueses já se pagava com euros. E entre outubro de 2001 e junho de 2002 a economia portuguesa cresceu mais do que a zona euro. Foi o último período de nove meses consecutivos em que Portugal cresceu acima da média do euro, até hoje.
Portugal versus a zona euro
Fonte: Eurostat
Segundo os economistas ouvidos pela Lusa, no segundo trimestre Portugal deverá ter crescido em torno de 3%, quando comparado com os mesmos três meses de 2016. Se se verificar, este número fica acima dos 2,8% registados no primeiro trimestre do ano. Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, também já tinha dito que “há alguns sinais de que o segundo trimestre possa ter um crescimento superior” ao do primeiro.
Esta segunda-feira o INE ainda não vai revelar quais os componentes que mais puxaram pelo PIB — poderá dar apenas umas pistas. No primeiro trimestre, a procura externa líquida deu um contributo positivo (de 0,5 pontos percentuais) e a procura interna ajudou com os restantes 2,3 pontos. Tanto o investimento, como as exportações cresceram; já o consumo privado e o público desaceleraram.
Apesar da coincidência de, nos dois períodos, Portugal estar a andar mais depressa do que os parceiros da moeda única, a economia vivia ciclos muito diferentes. No final de 2001, início de 2002, Portugal estava a abrandar — como aliás também estava o resto da União Europeia — depois de um ciclo de crescimentos mais expressivos, onde era normal crescer mais de 3%. Portugal só levou mais tempo a abrandar do que o resto dos parceiros, mas depois não recuperou com o mesmo vigor. Agora, pelo contrário, a economia portuguesa vem de um período de crise acentuada, com uma recessão profunda.
Para colocar em perspetiva o crescimento e as características da economia nacional agora, com as que evidenciava no início do século, o ECO mostra-lhe um frente a frente entre os dois períodos, para os quatro componentes do PIB. Como ainda não há dados desagregados para o segundo trimestre de 2017, a comparação é feita entre o primeiro trimestre de 2002 e o primeiro de 2017.
Quanto pesam as importações no PIB?
Fonte: INE
Em 15 anos, o peso das importações no PIB subiu para mais de 40%. A alteração mostra o aumento do grau de abertura da economia nacional, mas não só: Portugal continua a depender de muitas importações tanto para o consumo, como para o investimento.
E as exportações?
Fonte: INE
Esta é uma das alterações estruturais vividas nos últimos 15 anos que é mais visível. As exportações têm crescido de forma consistente e o seu peso no PIB supera já os 40%. Esta característica ainda se mantém no período de crescimento que o país atravessa agora e confere um maior grau de sustentabilidade ao crescimento. Um dos dados importantes a avaliar agora no segundo trimestre de 2017 será saber se as exportações crescem o suficiente para manter um contributo positivo da procura externa líquida.
Quanto vale o consumo privado?
Fonte: INE
Em 2002, o consumo privado pesava 60,6% no PIB. 15 anos depois, o peso manteve-se praticamente inalterado, nos 64% do PIB.
E o investimento?
Fonte: INE
Já o investimento registou uma quebra significativa. De 26,8% do PIB, passou a 15,2%. Os economistas têm alertado para os riscos que corre uma economia que não investe, sublinhando que sem investimento Portugal compromete crescimento futuro. Contudo, a história também já demonstrou que não basta investir muito para crescer.
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