Quem é Jerome Powell, o novo presidente da Fed?

Eleito por Donald Trump para substituir Janet Yellen no cargo de presidente da Fed, Jerome Powell é apoiado por muitos, no entanto, vai ter de lutar contra alguns membros do Senado.

Jerome Powell foi a escolha de Donald Trump para substituir Janet Yellen na presidência da Reserva Federal dos Estados Unidos. Por acreditar que “vai fazer um trabalho fantástico”, o ex-diretor da Fed não deverá trazer grandes diferenças no banco central, por sempre ter apoiado a política monetária de Yellen.

Pela sua vasta experiência no setor financeiro e, claro, por ser republicano, Powell foi eleito por Trump para assumir o cargo de presidente da Fed. O substituto de Janet Yellen, cujo mandato expira no início do ano, era membro do Conselho de Governadores do banco norte-americano desde 2012, na altura, nomeado durante o mandato de Barack Obama.

Powell vai tornar-se na primeira pessoa a ocupar o leme da Fed, em quase quarenta anos, que não é licenciado em economia. Ainda assim, isso não foi motivo para não ser eleito presidente. Apesar de ter caído nas graças de Donald Trump, o mais recente presidente da Fed não é bem visto por todos os membros do Senado, tendo recebido 21 votos contra a sua confirmação para o banco central em 2014.

Nem falcão, nem pomba. Powell é um mocho

Conhecido por sempre defender políticas monetárias mais suaves, Powell não é apologista de um endurecimento da política monetária para conseguir atingir a estabilidade financeira. Ainda assim, sempre apoiou a recente política adotada pela Fed, com Yellen no comando, de subida gradual de juros, o que indicará que não haverá grandes mudanças na Fed.

De acordo com o The Bloomberg Intelligence Fed Spectrometer, um medidor da política monetária e económica de cada governador ou presidente, Powell foi considerado como “neutro” – num teste em que “falcão” apoia juros mais altos e “pomba” apoia juros mais baixos e o crescimento do emprego. Algo que Richard Fisher, ex-presidente da Fed de Dallas, veio confirmar, ao considerar que Powell não é “nem falcão, nem pomba”. “Costumava dizer que todos queremos ser mochos sábios. E penso que Powell se encaixa muito bem nessa categoria”, disse ao The New York Times.

Photographer: T.J. Kirkpatrick/Bloomberg

Durante o mandato de Janet Yellen, a Fed iniciou uma normalização gradual da política monetárias, com três subidas das taxas de juro e o início da redução da carteira da dívida. Foi, então, o fim da política de estímulos que procurava reativar a economia norte-americana após a crise. Mas, ao contrário de Yellen, que Donald Trump acusou de atuar “de forma política”, Powell não se mostrou assim tão preocupado com o facto de a inflação dos Estados Unidos estar longe dos 2%.

Neste sentido, em agosto deste ano, Powell dizia: “a inflação está um pouco abaixo da meta. É um mistério“. E, por isso, afirmava que era “muito cedo para tomar decisões para elevar a taxa (de juros), mas acho que temos a capacidade — se continuarmos com um forte crescimento e um mercado de trabalho forte — de ser um pouco pacientes.”

No mês passado, Powell disse que a normalização da política monetária nos Estados Unidos poderia ser gerida pelos mercados emergentes, no entanto, teria de haver um alerta sobre o alto nível de endividamento das empresas. “O resultado mais provável é que os desafios que a normalização das condições financeiras globais representem (aos mercados emergentes) sejam administráveis”, disse Powell.

Ainda assim, alertou para o facto de que, embora as reações às subidas das taxas de juros tenham sido boas até à altura nos mercados emergentes, ainda existiam riscos significativos. “A situação da dívida empresarial (nos mercados emergentes) piorou, particularmente na China, e as reações do mercado a surpresas, inclusive pequenas, podem ser imprevisíveis e excessivas”, afirmou.

Nesta corrida à presidência, Powell correu mais que Yellen

Ainda Donald Trump andava em campanha eleitoral pela presidência dos Estados Unidos e já haviam troca de “bocas” entre Janet Yellen. Nessa altura, a antiga presidente da Fed afirmou que a vitória de Trump traria uma grande instabilidade nos mercados financeiros, esse foi o início de um ciclo de choques entre a presidência da Fed e dos Estados Unidos.

Após ser nomeado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump arrancou com um conjunto de críticas a Yellen que continuaram durante bastante tempo. “Não tenho nada contra Yellen, mas não é republicana”, disse Trump ainda em maio, antes de ser eleito. Um ponto a favor de Jerome Powell, republicano de raízes.

O tempo foi passando e Trump sempre acusou Yellen de manter as taxas de juro baixas para conseguir beneficiar a presidência democrata. Só concordavam numa única coisa: na necessidade de manter os mercados estáveis. Há uns tempos, acusou Janet de atuar “de forma política”, no entanto, parece ter mudado de opinião em relação à primeira mulher a presidir a Fed.

Esta quarta-feira, durante uma reunião com funcionários do Gabinete, o presidente dos Estados Unidos disse: “eu acho que Janet Yellen é excelente”. E quando questionado pelos jornalistas se Yellen seria a sua escolha para continuar à frente da presidência da Fed, Trump respondeu: “eu não disse isso. Eu acho que ela é excelente.”

Sim, Trump… até podia ser excelente, mas a escolha recaiu sobre Jerome Powell. O que não vale ser republicano… E ter contribuído, em 2008, com 30.800 dólares (26.482 euros) para a campanha eleitoral de John MacCain.

Nova Iorque: as portas começam a abrir-se

Jerome Hayden “Jay” Powell, com 64 anos, nasceu em Washington DC, acabando por se formar em Política na Universidade de Princeton, em 1975. Quatro anos mais tarde, recebeu um Diploma em Direito pela Universidade de Georgetown, ao mesmo tempo que ocupava o cargo de editor-chefe do Georgetown Law Journal.

Nesse ano, mudou-se para Nova Iorque, onde foi o braço-direito de um juiz e advogado. Passou por um banco de investimento, acabando por subir ao cargo de vice-presidente. Mas, em 1990, entrou para o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, ajudado por George H. W. Bush. Até 2005, foi parceiro de uma das principais empresas de private equity do mundo e, entretanto, fundou a Severn Capital Partners, uma empresa privada de investimentos focada em investimentos no setor industrial.

No entanto, foi em 2012 que Powell conseguiu subir a outros patamares. Entre 2010 e 2012 integrou o Bipartisan Policy Center, uma organização de reflexão em Washington DC, onde trabalhou para que o Congresso aumentasse o limite de endividamento durante a crise norte-americana de 2011. Aqui, apresentou as consequências que um incumprimento ou atraso no limite de endividamento iriam ter para a economia e para as taxas de juro. Quanto recebeu? Um dólar (0,86 euros) por ano.

Em dezembro de 2011, juntamente com Jeremy C. Stein, foi nomeado por Barack Obama para o Conselho de Governadores da Reserva Federal. A nomeação de Powell representou a primeira vez, desde 1988, que um presidente nomeava um membro do partido da oposição para ocupar esse cargo. Jerome Powell assumiu o cargo a 25 de maio de 2012, para ocupar o lugar de Frederic Mishkin, que tinha renunciado ao cargo. Agora chega ao topo da Fed para dar seguimento ao trabalho de Yellen.

Para assumir a presidência da Fed estavam mais nomes em cima da mesa: a própria Yellen, Kevin Warsh (antigo membro da Reserva Federal), John Taylor, economista da Universidade de Stanford, John Allison, ex-CEO da BB&T, e Glenn Hubbard, economista da Universidade de Colômbia.

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