Efacec coloca “fichas” no negócio da mobilidade elétrica

A Efacec, presidida por Mário Silva, vai inaugurar uma fábrica na Arroteia. É a aposta na mobilidade elétrica.

Quando na próxima segunda-feira Isabel dos Santos inaugurar a nova fábrica de mobilidade elétrica da Efacec, empresa de que é acionista maioritária, a Efacec estará a dar mais um passo em direção ao futuro. Aliás, a presença da empresária angolana, naquela que será a sua primeira inauguração em Portugal é, de resto, demonstrativa da importância desta área de negócio para a empresa.

O setor da mobilidade elétrica está em crescimento não só dentro do grupo, — onde já pesa 6% do volume de negócios ou cerca de 26 milhões de euros, e tem a ambição de atingir os 15% num futuro próximo, — mas também a nível mundial onde todos os dias surgem novos modelos de negócio associados a esta área. O objetivo é que dentro de três anos a Efacec possa atingir os 100 milhões de euros.

Pedro Silva, diretor da Efacec Mobilidade Elétrica, destaca em declarações ao ECO que os “novos modelos de negócio já estão a surgir associados a serviços de mobilidade e esperam-se grandes mudanças em setores como o das reparações automóveis e seguros, por exemplo”.

Presente na área da mobilidade elétrica desde 2008, antes do lançamento de veículos elétricos no mercado nacional, o que só aconteceu em 2010, a Efacec assume-se como um dos principais fabricantes mundiais de infraestrutura de carregamento de veículos elétricos, com presença em mais de 40 países, repartidos por cinco continentes.

A gestão executiva da empresa, liderada por Ângelo Ramalho, voltou aos lucros em 2016 (4,3 milhões de euros, face a prejuízos 20,5 milhões no ano anterior), defende que “a mobilidade elétrica começa com motivações ambientais”.

Para o diretor da mobilidade elétrica da Efacec não há dúvidas “dos benefícios a esse nível em termos de emissões locais e ruído, bem como da eficiência energética”.

O quadro da Efacec frisa que “também ao nível das emissões associadas à geração de energia elétrica, o ganho ambiental é evidente para qualquer mix de fontes de geração, inclusive fósseis, mas é tanto mais efetiva quando a geração de energia elétrica se fizer mais com recursos a fontes renováveis”.

Mas que impacto terá a mobilidade elétrica na mobilidade individual?

O diretor da mobilidade elétrica da Efacec diz que “muda a forma como encaramos a mobilidade individual, não só no uso diário e na forma como abastecemos o veículo de energia. A eletrificação dos veículos potencia que estes acelerem as tendências recentes de maior integração de funções automáticas, inteligência e conectividade nos mesmos”.

Presente nesta área desde 2008, a Efacec, — que é atualmente líder mundial em vários segmentos, com destaque para a carga rápida e ultra-rápida (15 minutos para 300 km) — considera ainda que esta área “potencia a condução autónoma, o design interior — as partes mecânicas ocupam muito menos espaço, — e o uso partilhado”.

O futuro da mobilidade elétrica

Para além da inauguração da nova unidade industrial, o dia de segunda-feira ficará também marcado pela conferência Plug in Talks intitulado “O futuro da mobilidade elétrica”, que será encerrada por Mário Leite da Silva, presidente do conselho de administração da Efacec.

Mário Leite da Silva, presidente do conselho de administração da Efacec.Estela Silva / LUSA

Terá como oradores Helena Braga, investigadora da nova geração de baterias sólidas, da Universidade de Austin, nos Estados Unidos; Pedro Silva, diretor geral da mobilidade elétrica da Efacec; Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto; e Ricardo Oliveira, fundador do WorldShopper e autor do estudo “2025 Automative 360º Vision”.

Este último, em declarações escritas aos ECO, explica que “a eletrificação dos veículos surge da necessidade de combater o aquecimento global e a poluição local nas zonas urbanas”.

O especialista refere que “a eletrificação compreende diferentes níveis: o Mild Hybrid de 48V, os Full-Hybrid, os Plug-in Hybrid, os BEV (Battery Electric Vehicles, 100% elétricos) e os Fuel-Cell. Estes últimos são veículos elétricos, cuja eletricidade é produzida a bordo numa pilha de combustível alimentada a hidrogénio”.

Ricardo Oliveira destaca que no estudo “2025 Automotive 360º Vision” prevê-se que “o sistema Mild Hybrid 48V venha a ser responsável pela difusão em larga escala da hibridização, por proporcionar 70% dos benefícios de um Full-Hybrid a 30% do custo. A solução Plug-in Hybrid será utilizada em veículos de maiores dimensões e vocacionados para percursos longos”.

Já “a gama de modelos BEV contará com muito mais opções de escolha a partir de 2019. Os veículos Fuel-Cell terão um desenvolvimento mais lento devido à necessidade da construção de uma infraestrutura para abastecimento de hidrogénio”, detalha Oliveira.

Os veículos elétricos são, de resto, já excelentes alternativas para as zonas urbanas e sub-urbanas. Ricardo Oliveira diz mesmo que “já é possível viajar em longas distâncias pela Europa, embora ainda existam limitações ao nível da capilaridade de pontos de carregamento rápido. Atualmente estão em construção três novos corredores transeuropeus de pontos de carregamento ultra-rápido (350 kWh) que irão facilitar este tipo de deslocação”.

Os carros elétricos têm, no entanto, vários desafios pela frente, como sejam a competitividade do preço dos veículos, o tempo de carregamento e o reduzido número de opções de escolha ao nível dos diferentes segmentos do mercado automóvel, recorda o especialista.

“A reduzida autonomia ainda é um problema para as primeiras gerações de BEV, mas os novos modelos do segmento C, com 400 km de autonomia em ciclo NEDC, satisfazem a maior parte das necessidades de mobilidade. A capilaridade das redes de carregamento está em progressão, com cada vez mais hotéis, restaurantes, supermercados, oficinas a disponibilizarem pontos de carregamento. No futuro teremos que garantir que a rede de carregamento vá progredindo à mesma velocidade que aumentam as vendas de veículos elétricos. Em Portugal, os desafios mais próximos prendem-se com o início do pagamento da eletricidade fornecida pelos postos públicos, que deverá ocorrer este ano, e com a recuperação da total operacionalidade da rede de postos da MOBI.E”.

Impacto na vida das pessoas

Para Ricardo Oliveira, a maior parte dos utilizadores irá passar a encarar o “abastecimento” do automóvel, como o carregamento de um telemóvel ou um computador. O especialista diz ainda que “será uma operação que decorrerá, tipicamente, à noite, aproveitando as melhores tarifas da eletricidade. Com sistemas V2G (Vehicle to Grid) implementados, os utilizadores poderão carregar totalmente os seus veículos depois das 22:00, por exemplo. No dia seguinte poderão utilizar parte dessa energia nos seus trajetos e a restante poderá ser devolvida à rede nos momentos de maior consumo, por exemplo, das 19:00 às 22:00. Desta forma, o BEV poderá contribuir para uma gestão otimizada dos custos totais de eletricidade. No futuro, as baterias de estado sólido e os carregadores ultra-rápidos irão permitir reduzir os tempos de carregamento dos atuais 90 minutos para cerca de 15 minutos, facilitando as longas viagens”.

Já sobre o impacto que terá nas cidades, Ricardo Oliveira não tem dúvidas que este será sobretudo notado ao nível da poluição localizada.

“Aqui não é tanto o aquecimento global que está em questão, mas sim a poluição atmosférica nas zonas onde se concentram um elevado número de veículos. Com mais veículos elétricos a circularem nas cidades teremos menos emissões de dióxido de carbono e de óxido de azoto. O trânsito será substancialmente mais silencioso e os veículos terão um tipo de condução perfeitamente adaptado às condições urbanas, com boas acelerações, aproveitamento dos abrandamentos para regeneração da energia e sem necessidade de manipular os comandos da transmissão”, refere.

Ricardo Oliveira salienta ainda que “no limite, cada posto de iluminação numa cidade é um potencial ponto de carregamento, o que dá uma ideia das possibilidades de desenvolvimento das redes nas zonas urbanas”.

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