Portugal na mira das tecnológicas. Exportações de tecnologia atingem recorde em 2017

Portugal exportou mais de 1,8 mil milhões de euros de serviços tecnológicos pela primeira vez. Os dados mostram que em dez anos as exportações duplicaram. O saldo passou a ser positivo em 2012.

Primeiro a Google. Depois a Amazon. Marcelo falou num “grande investimento” tecnológico em Viseu. O fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, adiantou que várias gigantes tecnológicas estão a caminho de Lisboa. O Governo diz que está a negociar com outras tecnológicas a vinda para Portugal. O que é que isto poderá significar para a economia do país? O ECO foi examinar a balança de pagamentos tecnológica (BPT), indicador que dá uma ideia das exportações e importações de serviços tecnológicos.

Desde 1996 que o Banco de Portugal publica esta estatística. Mas só em 2017 é que Portugal ultrapassou os 1,8 mil milhões de euros em exportações de serviços de tecnologia — uma subida superior a 15% face a 2016. Um marco histórico numa altura em que os investimentos de grandes tecnológicas se acumulam no país. O recente investimento da Google poderá impulsionar as exportações ainda mais em 2018.

Evolução das exportações entre 2000 e 2017

Fonte: Banco de Portugal.

“Apesar de ainda se conhecer pouco desse investimento, a natureza das atividades da Google e o que já veio a público leva a crer que as mesmas se enquadrarão dentro das atividades consideradas pelo Banco de Portugal como integrantes da BPT”, considera António Bob Santos, especialista em políticas de inovação, em declarações ao ECO, assinalando que este investimento “contribuirá, seguramente, para um adicional de receitas para o país”.

A balança de pagamentos tecnológica portuguesa reflete as transações com o exterior associadas a conhecimento técnico e a serviços de conteúdo técnico, de acordo com o Banco de Portugal, instituição que divulga os dados. Esta estatística não inclui bens com tecnologia como é o caso dos computadores ou dos telemóveis. É, portanto, mais correto falar em fluxo de conhecimento tecnológico entre Portugal e o exterior.

Em dez anos, o volume de exportações mais do que duplicou. Em 2000, o país exportava uns tímidos 200 milhões de euros em serviços tecnológicos. Em 2007, o valor chegou aos 800 milhões. Mas os anos seguintes foram essenciais para o crescimento deste setor. Dez anos depois, em 2017, as exportações atingiram os 1,8 mil milhões de euros pela primeira vez. Mas há outra forma de olhar para os números, calculando o saldo entre as exportações e as importações.

Em 2016, a balança de pagamentos de tecnologia registou um saldo negativo. Uma exceção já que desde 2012 que tal deixou de acontecer: as exportações ultrapassaram as importações desde esse ano, invertendo a tendência anterior. Contudo, António Bob Santos pede cautela nas conclusões precipitadas. Este indicador é, realmente, um dos que pesa no que toca à competitividade externa de um país, mas não faz todo o retrato da realidade.

Evolução do saldo da balança de pagamentos tecnológica entre 2000 e 2017

Fonte: Banco de Portugal.

Em países como a Irlanda, por exemplo, o saldo é negativo, mas isso não quer dizer que a economia irlandesa seja pouco competitiva. Um maior volume de importações pode significar que o país está a fazer uma atualização tecnológica, o que é positivo a médio e longo prazo. Mas para o especialista em inovação o caso de Portugal é diferente: o saldo positivo mostra que o país está a colher os frutos do investimento feito.

“O investimento que o país fez nos últimos 20 anos em termos de I&D tem contribuído para uma melhoria significativa do saldo da BPT ao longo do tempo, contribuindo para o aumento dos fluxos de conhecimento que entram e saem do país”, aponta o doutorado em economia, ressalvando que “existe um desfasamento temporal entre o investimento em I&D e o seu impacto na economia e na sociedade”.

Um dos motores do avanço tecnológico é, em teoria, a despesa em investigação e desenvolvimento (I&D). Os números da Pordata mostram que Portugal atingiu um pico na despesa de I&D em 2009, tendo depois diminuído, mas mantendo-se sempre acima dos dois mil milhões de euros. A responsabilidade deste tipo de investimento tem sido partilhada de igual forma entre empresas e universidades, de onde saem vários projetos com potencial tecnológico. “Os estudos que existem mostram uma correlação muito forte entre investimento público e privado em I&D”, destaca António Bob Santos.

Despesa em investigação e desenvolvimento em Portugal

Fonte: Pordata.

Contudo, a relação entre a despesa em I&D e a evolução da balança de pagamentos tecnológica não é direta. Na área farmacêutica, por exemplo, são vários os anos que é necessário esperar até que uma nova tecnologia com potencial se torne viável e entre no mercado. O mesmo acontece com patentes ou até algoritmos desenvolvidos por empresas.

Mas não há dúvidas de que os serviços intensivos em conhecimentos (conhecidos por KIS, em inglês) são essenciais para a atual economia. “Os KIS são importantes não só porque eles próprios são inovadores, mas também porque contribuem para estimular o processo de inovação em vários setores”, explica António Bob Santos, assinalando que “a qualidade dessa I&D tem de ser de elevada qualidade e competitiva a nível internacional, dado que atualmente os fluxos de conhecimento são globais“.

Em comparação com os seus parceiros europeus, Portugal está longe de ser uma das economias onde a tecnologia mais “pesa” no PIB. A Irlanda — sede europeia de várias tecnológicas — é a que mais exporta e importa serviços tecnológicos, em termos do PIB, apesar de ter um saldo negativo superior a 8%. Algo semelhante acontece no Luxemburgo, ainda que em menor grau. Na União Europeia, a Suécia e a Finlândia são os dois países que se destacam nas exportações tecnológicas com um saldo positivo, segundo os dados da Pordata.

O que é que se exporta?

Os “outros serviços de natureza técnica” são as principais exportações de serviços tecnológicos, representando mais de metade do total. Seguem-se os serviços de assistência técnica com uma importância significativa e dois outros elementos com um peso residual — os direitos de aquisição ou utilização de patentes, marcas e similares e os serviços de investigação e desenvolvimento. O que são e como evoluíram?

Os tipos de serviços tecnológicos exportados por Portugal

Fonte: Banco de Portugal. Contas do ECO. Em milhões de euros.

  • Direitos de aquisição e utilização de patentes, marcas e direitos similares: pagamentos e os recebimentos internacionais referentes a: contratos de franchising; exploração de direitos de autor, de patentes e de marcas; aquisição ou venda de ativos intangíveis, tais como, patentes, licenças, copyrights, marcas, franchises ou outros contratos transferíveis;
  • Serviços de assistência técnica: transações entre residentes e não residentes relativas a serviços de arquitetura, engenharia e consultadoria técnica;
  • Serviços de investigação e desenvolvimento (I&D): englobam as transações entre residentes e não residentes respeitantes à investigação de base, à investigação aplicada e ao desenvolvimento experimental de novos produtos e processos;
  • Outros serviços de natureza técnica: serviços de consultadoria em hardware e software, os serviços de tratamento de dados e outros serviços informáticos (nomeadamente, serviços de reparação e manutenção de equipamentos informáticos e serviços de pesquisa), os serviços agrícolas, os serviços mineiros e os serviços industriais;

No futuro prevê-se que as exportações continuem a avançar em Portugal. Além das mundialmente conhecidas Google e Amazon, a caminho do país está também a alemã Zaland que vai abrir o seu terceiro centro tecnológico internacional. A Uber, a Mercedes no hub do Beato, a Euronext e a Vestas no Porto, o centro de competências da japonesa Fujitsu em Braga são outros exemplos de empresas com elevador teor tecnológico que já estão em Portugal.

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