Como é ser jovem trabalhador? As estatísticas dão pistas

  • Marta Santos Silva
  • 29 Março 2018

A precariedade é mais dominante junto dos jovens, cuja taxa de desemprego foi a que mais disparou durante o período da crise. Estes gráficos ajudam a contar a história.

Os jovens compõem mais de um quinto da força de trabalho portuguesa, mas continuam a ser alvo da maior taxa de desemprego e da maior incidência de contratos a termo. Na semana em que a CGTP organizou uma manifestação de juventude trabalhadora desde o Cais do Sodré até à Assembleia da República em Lisboa, as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do órgão europeu Eurostat ajudam a perceber como é ser trabalhador jovem em Portugal na atualidade.

Desde logo, o número: em 2016, o INE registava 1,4 milhões de pessoas entre os 15 e os 34 anos que estavam empregadas ou desempregadas, ou seja, que faziam parte da população ativa. É mais do que um quinto da população ativa total.

População ativa por idades

Fonte: INE, Pordata.

Durante a crise e o período de ajustamento financeiro em que a troika esteve em Portugal, os jovens foram os mais castigados no desemprego. No seu pico, a taxa de desemprego em Portugal era de 16,2%, em 2013, mas para os menores de 25 ascendia aos 38%. Mais do que um em cada três jovens na força de trabalho, disponíveis para trabalhar, não conseguia encontrar um emprego.

Retrato do jovem trabalhador

Mesmo agora, os jovens continuam a ser o grupo onde a taxa de desemprego permanece mais alta. Enquanto em 2017 a taxa de desemprego total já caíra para 8,9%, a dos menores de 25 continua muito mais alta: está acima dos 23,9%, representando assim um grande número de jovens que procuram emprego e não encontram.

Taxa de desemprego por idades

Fonte: INE, Pordata.

A manifestação desta quarta-feira da CGTP, porém, não serviu para criticar o desemprego mas sim para contestar a precariedade. De acordo com o comunicado do braço da juventude desta central sindical, a concentração de jovens era para exigir “o fim das normas gravosas do Código do Trabalho, nomeadamente as medidas que promovem os despedimentos e fomentam a precariedade”.

É difícil medir estatisticamente a precariedade, já que ela se pode manifestar de muitas formas diferentes, e um indicador, por exemplo os contratos temporários, não representa necessariamente um vínculo precário. Uma empresa pode contratar trabalhadores com termo fixo devido às suas necessidades específicas serem temporárias ou sazonais. No entanto, os contratos a prazo são cada vez mais associados à precariedade, por nem sempre serem justificados, tal como assumiu o Governo quando optou por limitar o seu uso na sua proposta mais recente de alteração às leis laborais, apresentada na sexta-feira passada aos parceiros sociais.

O Eurostat deixa perceber um pouco como a paisagem dos contratos temporários é especialmente agravada em Portugal. O país é o terceiro da União Europeia com maior taxa de contratos a prazo: quase um em cada cinco contratos de trabalho em Portugal são a termo. No entanto, entre os jovens dos 15 aos 24 anos esta taxa é substancialmente maior, colocando Portugal em segundo, apenas atrás da Espanha, nos países com maior incidência. Mais de 62% dos contratos de trabalho dos menores de 25 anos eram a termo em 2016.

Percentagem de contratos a prazo

Fonte: Eurostat

Pode ser essa uma das muitas razões por detrás de uma desinibição maior entre os jovens portugueses para se deslocarem para trabalhar, seja dentro do próprio país, seja pela União Europeia ou mesmo para fora. Em dados publicados esta terça-feira, o Eurostat revelou que os jovens portugueses desempregados estão entre os mais dispostos a deslocarem-se por um emprego, incluindo 25% que iriam para fora da União Europeia.

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