MasterCard quer usar dados dos pagamentos para puxar pelo turismo português
Ao ECO, a MasterCard diz que quer usar os dados anonimizados dos pagamentos para puxar pelo turismo nacional. A empresa adianta que os contactos com as autoridades já estão a ser feitos.
Os cartões bancários de plástico podem ter os dias contados, mas a informação que é recolhida a cada pagamento parece ter um longo mas luminoso futuro pela sua frente. “Qualquer passo que nós damos vai deixando data anonimizada”, explica ao ECO Paulo Raposo, country manager da MasterCard em Portugal. E é esse rasto que o responsável acredita conservar um universo de possibilidades: entre elas, a de fomentar o turismo nacional.
“Com o big data, conseguimos construir uma análise comparativa e confrontar o que fazem os indivíduos que vêm a Portugal com o que fazem os que vão, por exemplo, a Paris”, salienta Raposo, referindo que a partir dessa avaliação é possível otimizar as estratégias de desenvolvimento do turismo “de entidades públicas e privadas”.
“É um trabalho de padrões”, adianta ainda o gestor. O country manager esclarece que se trata de um estudo das preferências dos turistas (através dos dados recolhidos nas operações de pagamento) em determinados destinos e da repetição das características desses lugares nos países e localidades que se queiram dinamizar. “O facto de se trabalhar com uma empresa como a MasterCard permite ter informação acima da média. Não estamos a falar só de dados gerados em Portugal, mas a nível global”, acrescenta.
Há aqui um trabalho de big data, de mineração para encontrar estes dados e replicá-los depois naquilo que são os alvos ou os objetivos.
Nesse sentido, Paulo Raposo explica que se se quiser atrair turistas ingleses, por exemplo, é preciso verificar quais os destinos que escolhem tradicionalmente esses viajantes e o que lá consomem para depois seguir por cá o modelo apurado. “Ou seja, há aqui um trabalho de big data, de mineração para encontrar estes dados e replicá-los depois naquilo que são os alvos ou os objetivos”, reforça o representante.
Em Portugal, avança o mesmo gestor, este trabalho já está. “Temos tido contactos com as autoridades, temos dado alguns insights”, sublinha. Por outro lado, o boom turístico que se vive na capital lusitana está a colocar Portugal na mira dos interessados em seguir esta estratégia. “Nesse momento, já estamos a passar dados porque Lisboa tornou-se num polo de atração e há outras cidades a tentar perceber o que faz de Lisboa tão atrativa”.
Fintech são ameaça?
Com mais de sete décadas de história, como se sente a MasterCard em relação às inovadoras fintech? “Há uma relação muito estreita [relativamente a estas startups] para enriquecer o nosso portefólio de serviços”, responde Paulo Raposo.
Segundo o country manager, a gigante dos pagamentos tem feito parcerias com estas empresas, quer numa perspetiva de consultoria, quer numa lógica de aceleração, tratando-se de um “trabalho de simbiose”. “Temos visto a relação em causa como altamente profícua, porque nos tem permitido dar o salto que é necessário para entrar no mundo digital“, acrescenta.
E por falar em salto digital, os bancos, diz Raposo, têm aproveitado esse processo de transformação para “reduzir balcões e custos, bem como otimizar processos”. Isto depois de terem passado o momento “complicado” que foi o da crise financeira e de estarem, por isso, abertos a novas soluções.
Adeus, cartões. Olá, blockchain?
Com a anunciada desmaterialização dos cartões bancários, a MasterCard está a preparar um sistema baseado em tokens para otimizar a gestão das credenciais dos utilizadores nos vários dispositivos. Qualquer semelhança com aqueles envolvidos na tecnologia de blockchain é, contudo, uma mera coincidência, garante Paulo Raposo.
O gestor reconhece que esta tecnologia tem “virtudes” — a MasterCard é mesmo uma das entidades com maior número de patentes nesta área, nos EUA — mas adivinha que terá um papel relevante apenas na “complementaridade do comércio” ou pelo menos ainda “não se provou na área dos pagamentos”.
Já no que diz respeito às criptomoedas, o country manager defende que não integrarão o sistema de pagamentos, enquanto se comportarem como bens. “Neste momento, as moedas digitais não estão a funcionar com o nível de confiança que é fundamental, no ambiente transacional e têm-se comportado como uma commodity. Enquanto for assim, não são propriamente moedas que possam integrar o sistema de pagamentos”, conclui.
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