Uma startup “não é só ser cool e trendy”, diz António Mexia

No dia da final do Free Electrons, o CEO da EDP alertou para a necessidade que a Europa e o país têm em alterar a regulamentação ao setor da energia, de maneira a permitir mais inovação do setor.

Num mundo cada vez mais evoluído, António Mexia sublinha a importância da inovação no setor da energia e a forma como a Europa e o país precisam de se reinventar. Para o CEO da EDP, há ainda muito trabalho a fazer para melhorar a fiscalização nesse campo, que acaba por travar e atrasar essa inovação. No futuro, “a energia vai ser muito mais elétrica” e as pessoas “não vão reconhecer a maneira como a utilizam“, avisa.

A inovação é uma palavra interessante, toda a gente gosta de a referir mas hoje, em Portugal e em todos os sítios, onde é que ela pára? Na burocracia e no enquadramento legislativo regulatório“, começou por dizer António Mexia ao ECO, no dia da final do Free Electrons, um evento que reúne startups ligadas sobretudo ao setor energético. Para o CEO, ainda há barreiras que Portugal não devia ter, porque o país “atrai as pessoas, elas querem lá estar porque já há um ecossistema”, mas depois veem a questão da regulamentação que não deixa as empresas e startups avançarem.

Ao mesmo tempo em que faz um balanço positivo do Free Electrons, que encerrou em Berlim, Mexia afirma que ainda há um caminho a percorrer no campo da inovação, mas não só em Portugal como “em todo o lado”. Como explica, “a inovação, por definição, é um caminho que não acaba, é um caminho de descoberta permanente“. A questão é como vão as empresas para a frente? “Ou seja, eu tenho a tecnologia e, a partir do momento em que eu ultrapasso pela direita e digo que preciso mesmo disto, já estamos mesmo na linha da frente, a trabalhar. O que muitas vezes atrasa isso é a falta de enquadramento regulatório, legislativo e fiscal“, atira.

“Há uma série de coisas que ainda estão montadas sobre uma economia tradicional com alguma dificuldade em digerir isto [estes avanços]”, continua. Admitindo que a palavra “startup” hoje é “uma palavra simpática e das mais difundidas”, o CEO diz que isso “parece ótimo”. Contudo, depois dessa fase inicial, em que “toda a gente reage bem”, é necessário que “a startup consiga trazer tudo o que são good vibes e ajude este intercâmbio e que o entorno seja totalmente familiar em todas as suas frentes. Não é só ser cool e trendy, isto implica ir até ao fim”, avisa.

Como explica, na hora de decidir onde instalar a startup, a discussão faz-se sempre entre os Estados Unidos e a China, sendo que a “Europa parece que é o parente mais pequeno“. Na China os “dados são sempre, no fundo, de entidades públicas, enquanto nos Estados Unidos são, essencialmente, de entidades privadas” e, no meio disto tudo com a Europa com esta regulamentação dos dados, “as pessoas querem ter noção de que os seus dados não podem ser utilizados para fins que elas não gostariam”. Portanto, a Europa tem aqui uma oportunidade, continua Mexia, mas tem de saber gerir bem a questão dos dados para conseguir atrair as empresas mais pequenas, uma vez que as gigantes estão já nos Estados Unidos ou na China, onde há controlo.

Isto é um exemplo de que, “se houver cooperação e regulamentação bem feita“, a Europa consegue ultrapassar isso. Relativamente ao país, o CEO admite que, nos últimos anos, Portugal “mudou muito”. Mas, agora, “precisa de ser totalmente consequente com isso, o que vai levar algum tempo”.

António Mexia com os finalistas do Free Electrons, em BerlimAlexandre Lopes

Para o futuro, António Mexia prevê uma “energia mais elétrica, mais descarbonizada e mais limpa“. A eletricidade vai ganhar um peso muito maior, entre agora e o meio deste século vai mais do que duplicar o seu peso nas energias primárias e o mundo vai ser elétrico. Isto porque, atualmente, a “eletricidade tem ainda um problema em relação às formas de energia mais tradicionais: é mais difícil de armazenar”, explica. Mas, no futuro, “nem vamos reconhecer a maneira como vamos utilizar a energia. E isso vai ter consequências sobre tudo”.

(A jornalista viajou até Berlim a convite da EDP)

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