Afinal, a emissão de dívida o Sporting foi um sucesso ou nem por isso?

A SAD do Sporting queria vender 30 milhões de euros, mas só conseguiu colocar no mercado 26 milhões em dívida. Isso quer dizer que a emissão foi um fracasso ou nem por isso?

A SAD do Sporting colocou à venda há duas semanas 30 milhões de euros de obrigações com maturidade a 26 de novembro de 2021. O encaixe serve para reembolsar uma outra emissão, lançada em maio de 2015, e que atingiria a maturidade em maio deste ano.

Mas a crise vivida no clube, depois dos episódios de violência em Alcochete, levou a SAD a propor aos credores uma moratória, adiando o pagamento para 26 de novembro. O dinheiro encaixado agora pelo Sporting, 26,1 milhões de euros, servirá precisamente para reembolsar os credores que investiram em 2015 e que deverão receber o dinheiro já na próxima segunda-feira.

Esta venda de dívida, que terminou esta quinta-feira, aconteceu numa altura ainda de maior instabilidade no clube, coincidindo com uma mudança do treinador da equipa de futebol sénior e com a detenção do ex-presidente Bruno de Carvalho (acusado do crime de terrorismo e de mais 98). A procura pelas obrigações do Sporting não foi suficiente para os 30 milhões de euros que a SAD pretendia vender, mas isto quer dizer que a emissão foi um fracasso? Um dos critérios para aferir o sucesso da operação é compará-la com a última venda de dívida que aconteceu em maio de 2015.

Na venda que terminou esta quinta-feira, a SAD do Sporting conseguiu um encaixe ligeiramente superior a 26 milhões de euros, mais precisamente: 26.162.035 euros. Isto é, ficou a pouco menos de 4 milhões de euros do valor disponibilizado para a venda.

Na emissão anterior, “Sporting SAD 2015-2018”, os verdes e brancos colocaram à venda os mesmos 30 milhões de euros e conseguiram um encaixe de igual montante.

Na operação de venda que terminou esta semana, o administrador financeiro Francisco Salgado Zenha queixou-se “da falta de apoio dos bancos” na promoção desta colocação.

A diferença entre os 30 milhões propostos e os 26 milhões de euros conseguidos deverá, segundo o Sporting, ser colmatada com fundos próprios da SAD, permitindo assim o reembolso dos credores que tinham investido em 2015.

É a grande diferença face à emissão anterior. Na venda que terminou esta quinta-feira, a procura não foi suficiente para igualar a oferta, ficando-se pelos 26,1 milhões de euros.

Na oferta realizada em maio de 2015, a procura excedeu em 2,57 vezes a oferta. O Sporting tinha colocado seis milhões de obrigações à venda (a 5 euros, cada) e os investidores manifestaram a intenção de adquirir 15,4 milhões de obrigações, ou seja, estavam dispostos a investir mais de 77 milhões de euros.

Nessa emissão, há três anos, a SAD teve o conforto da banca, já que a operação previa que se a procura fosse “inferior ao número de obrigações disponíveis, o Novo Banco e o Millennium bcp prestariam “uma garantia de colocação de até 10 milhões de euros”. Na venda que terminou esta semana não houve promessa de tomada firme.

 

Em 2015, na última emissão comparável, participaram um total de 4.241 investidores. Na venda desta semana, a SAD anunciou à CMVM que foram dadas “4.112 ordens”, o que corresponde a uma quebra de 3% face à venda anterior, no pressuposto de que cada ordem corresponde a um investidor.

É outra forma de aferir o sucesso de uma operação. Quando maior o risco, teoricamente, maior é a remuneração exigida pelos investidores. Na emissão de 2015, a SAD pagou um juro de 6,25%/ano (correspondia a uma taxa de rendibilidade efetiva bruta de 6,34059% ou líquida de 4,546%, considerando os impostos).

Agora, a SAD ofereceu aos credores um juro mais pequeno, de 5,25% (que corresponde a uma taxa de rentabilidade ilíquida de impostos de 5,31% e a uma taxa líquida de imposto de 3,81%, considerando uma taxa liberatória de 28%).

O juro, olhado de forma isolada, não é um indicador suficiente para aferir o nível de risco de um ativo, neste caso de uma obrigação. A remuneração oferecida terá de ser comparada com a remuneração do sistema financeiro em que se insere o ativo. Neste caso, considerámos na comparação os juros das obrigações portuguesas com a mesma maturidade de três anos.

Em 2015, estavam a cotar nos 0,484%, o que subtraído aos 6,25% de remuneração do Sporting resultou num prémio de risco de 5,77%. Agora, os juros soberanos estão negativos (a -0,012%), o que faz com que a emissão do Sporting, que paga 5,25%, esteja a oferecer um prémio de risco de 5,26%.

Apesar da turbulência no clube, a SAD não precisou de oferecer uma remuneração mais agressiva para convencer os credores. Contudo, o preço a pagar poderá ter sido a procura que ficou bastante aquém da última oferta pública de subscrição realizada em 2015.

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